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Morte na revolta da gasolina

Com a economia castigada pelas sanções econômicas impostas por Donald Trump em meados do ano, governo islâmico aumenta o preço do combustível em 50% e enfrenta protestos nas principais cidades. Políticos receiam impacto na eleição legislativa de fevereiro

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 17/11/2019 04:15
Protestos irromperam ontem em várias cidades do Irã, um dia depois de o governo decretar um aumento de 50% no preço da gasolina, em nome de compensar o impacto das sanções econômicas impostas ao país pelos Estados Unidos. Ao menos um civil morreu durante as manifestações, que começaram na própria sexta-feira, que equivale ao domingo na semana dos países muçulmanos. Desde que o reajuste foi anunciado, críticas e contestações inundaram as redes sociais, inclusive de personalidades políticas ligadas ao regime islâmico, preocupadas com possíveis reflexos na eleição legislativa de fevereiro.

O aumento foi apresentado como recurso para arrecadar fundos destinados às famílias de baixa renda, como compensação pela carestia decorrente das represálias americanas. De acordo com estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia iraniana deve fechar 2019 com uma retração de 9% no Produto Interno Bruto (PIB). Em meados do ano, o governo de Donald Trump reimpôs sanções que tinham sido suspensas em 2015, no âmbito de um acordo do Irã com os EUA e mais cinco potências para conter o programa nuclear do regime islâmico. Trump denunciou o acordo em maio de 2018.

Pelo segundo dia seguido, muitos iranianos foram ontem às ruas de várias cidades, de acordo com a agência estatal de notícias Irna. Em Sirjan, na região central do país, a população atacou um depósito de gasolina e tentou incendiar o local, antes da intervenção da polícia. ;Infelizmente uma pessoa morreu;, informou o governador interino, Mohammad Mahmudabadi, citado pela agência. Mahmudabadi insistiu que as forças de segurança não receberam autorização para atirar contra os manifestantes.

Protestos foram registrados também em Mashhad (norte), Ahvaz, Shiraz, Bandar Abbas (sul), Birjand (leste), Gachsaran, Abadan, Khoramshahr e Mahshahr (sudoeste). A emissora estatal acusou ;meios de comunicação hostis; de divulgar notícias falsas e vídeos que exageram a magnitude dos protestos. O procurador-geral, Mohamad Jafar Montazeri, declarou que a maioria da população iraniana ;não se une a alguns elementos radicais;, cujas ações mostram que ;estão contra o sistema (islâmico);.

Ensaio

Em dezembro de 2018, o presidente Hassan Rohani, um religioso moderado, tentou aumentar o preço da gasolina, mas a medida foi bloqueada pelo parlamento. Na ocasião, o país estava paralisado havia vários dias por manifestações contra as medidas de austeridade. Para os motoristas que usam um cartão de abastecimento, o preço do litro de gasolina passou para 15 mil riais (11 centavos de euro), para uma quantidade máxima de 60 litros de combustível por mês. Cada litro adicional custará o dobro.

O sistema de controle por cartões foi adotado em 2007, quando o governo tentou abolir os subsídios e combater o contrabando, e depois abandonado, mas foi restabelecido há um ano. O Irã é um dos países onde a gasolina é mais subsidiada. Graças aos preços reduzidos, o consumo de combustível é muito elevado, com 90 milhões de litros consumidos por dia, em um país de 80 milhões de habitantes.

O presidente Rohani afirma que o lucro obtido com o aumento do preço da gasolina será redistribuído entre os iranianos que enfrentam dificuldades econômicas ; um contingente estimado em 75% da população. O novo preço do combustível deve gerar 300 trilhões de riais (2,3 bilhões de euros) adicionais por ano, informaram a tevê estatal e o secretário de Planejamento do Orçamento, Mohammad Bagher Nobakht.

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