Agência France-Presse
postado em 18/11/2019 08:03
[FOTO1]Manifestantes pró-democracia incendiaram nesta segunda-feira (19/11) a entrada do campus universitário em Hong Kong em que estão entrincheirados para impedir uma intervenção da polícia, que ameaçou utilizar "munição letal" caso os mobilizados recorram a "armas letais" nos confrontos ao redor da Universidade Politécnica (PolyU).
Hong Kong é cenário desde junho de manifestações sem precedentes contra a interferência da China e a favor de mais democracia no território semiautônomo de 7,5 milhões de habitantes, que sofre sua crise política mais grave desde 1997, quando retornou à soberania chinesa.
O governo de Pequim se recusou a fazer qualquer concessão e advertiu que não tolerará uma insurreição.
A crise entrou em uma nova fase, mais radical, com a adoção pelos manifestantes da estratégia batizada de "Blossom Everywhere" (Eclosão em todos os lugares), que consiste em multiplicar os bloqueios e os atos de vandalismo para testar a capacidade da polícia.
"Acabar com a violência e restabelecer a ordem é a tarefa mais urgente", afirmou nesta segunda-feira o porta-voz do ministério chinês da Defesa, em uma referência à primeira mobilização de soldados chineses nas ruas da ex-colônia britânica.
No sábado, pela primeira vez desde o início das manifestações em junho, soldados do Exército Popular de Libertação (EPL) saíram dos quartéis para ajudar a retirar barricadas das ruas.
A declaração foi feita após uma reunião entre o ministro chinês da Defesa, Wei Fenghe, e o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper.
O EPL, que tem milhares de soldados em Hong Kong desde 1997, quando a China recuperou o controle do território, está decidido a "salvaguardar os interesses da soberania chinesa", declarou o porta-voz Wu Qian.
De acordo com o artigo 14 da Constituição de Hong Kong, o exército chinês pode intervir por ordem do Executivo para "manter a ordem pública" ou em caso de "catástrofe humanitária".
Enquanto o exército chinês está à espreita, os manifestantes conquistaram nesta segunda-feira uma vitória simbólica: a proibição do uso de máscaras em protestos, anunciada em outubro pelo governo de Hong Kong para tentar conter a mobilização pró-democracia, foi considerada inconstitucional pela Alta Corte.
[SAIBAMAIS]Para evitar a identificação, os manifestantes usam máscaras, além de óculos de natação ou máscaras de gás para evitar o gás lacrimogêneo.
Explosões
Na madrugada desta segunda-feira foram ouvidas várias explosões, antes de um foco de incêndio ser observado na entrada da PolyU, que durante o fim de semana virou o principal reduto dos protestos.
Ao que parece, a polícia tentou fazer uma intervenção no campus - que fica na península de Kowloon -, mas que foi impedida pelos manifestantes.
Depois que um policial foi ferido no domingo por uma flecha lançada por um manifestante, as forças de segurança alertaram que utilizariam "balas reais", pela primeira vez desde o início dos protestos, que nos últimos dias registraram um nível de violência inédito.
O campus e a entrada do Cross Harbour Tunnel - um dos três túneis que dão acesso à ilha Hong Kong, bloqueado desde terça-feira (12/11) viraram cenário de confrontos desde domingo.
A polícia decretou a região como "zona de distúrbios" e ameaçou destruir as barricadas estabelecidas pelos manifestantes.
O porta-voz da polícia, Louis Lau, fez uma advertência.
"Peço aos agitadores que não usem bombas incendiárias, flechas, carros ou quaisquer outras armas mortais para atacar os policiais. Se continuarem com estes atos perigosos, não teremos outra opção que usar a mínima força necessária, incluindo munição letal".
Os policiais de Hong Kong portam armas de serviço, mas só utilizam o equipamento em incidentes isolados. Três pessoas foram baleadas pelas forças de segurança, mas nenhuma corre risco, em meses de protesto.