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Repressão no funeral

Em ato de protesto, milhares de simpatizantes do ex-presidente Evo Morales marcham com os corpos de cinco dos oito mortos por militares, na terça-feira, e são alvos de gás lacrimogêneo, em La Paz. Parlamentares debatem lei para convocar eleição

postado em 22/11/2019 04:15
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Aos gritos de ;Que renuncie, c...;; ;Justiça!”; e ;Ãnez assassina, queremos sua renúncia!”, milhares de moradores de El Alto caminharam montanha abaixo, por cerca de 2km, até La Paz. A multidão carregava os caixões de cinco dos oito mortos na operação militar para a retomada da planta de combustíveis de Senkata, na última terça-feira. Quando se aproximou da Plaza de Armas Murillo, no coração da capital boliviana, a marcha foi surpreendida pelo disparo de gás lacrimogêneo por parte das forças de segurança. Em meio à confusão, os simpatizantes do ex-presidente Evo Morales, em sua maioria indígenas da etnia aimará, correram e abandonaram as urnas funerárias no meio da rua. Os manifestantes exigiam a saída imediata da presidente interina Jeanine Áñez e a suspensão do aparato repressivo, para que pudessem sepultar os mortos.

O jornal La Razón, de La Paz, informou que a repressão ocorreu depois que os participantes da marcha fúnebre chegaram a depositar um dos caixões sobre um blindado. ;Eles vão nos matar como a cães;, lamentou uma mulher em meio à nuvem de gás lacrimogêneo. Na Assembleia Legislativa Plurinacional da Bolívia, situada na Plaza de Armas Murillo, os congressistas se apressavam para analisar a lei apresentada na véspera por Áñez, por meio da qual convocava eleições.

No fim da tarde de ontem, Morales publicou em seu Twitter um vídeo mostrando o momento da investida militar contra os moradores de El Alto. ;O governo de fato de Áñez não respeita os mortos em seus caixões, nem perdoa seus familiares, mulheres e crianças que marchavam pacificamente pelo respeito à vida e à democracia. Condenamos a violência exercida contra nossos irmãos e irmãs. Detenham o massacre;, escreveu o ex-presidente. Em entrevista por telefone, Omar Aguilar, senador boliviano pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS, de Evo Morales), disse ao Correio que a marcha entre El Alto e La Paz demonstrou ;a força das organizações sociais;. ;Entre suas petições, estão a restituição do Estado de direito, o respeito aos direitos humanos e a desmobilização dos militares;, explicou.

Unidade
O senador comentou notícias divulgadas pela imprensa boliviana sobre o reconhecimento, por parte do MAS, de Áñez como presidente. ;Há unidade entre os congressistas do MAS com o único propósito de pacificar o país e convocar eleições. A intenção é a de que o voto resolva os conflitos da Bolívia;, afirmou. De acordo com Marcelo Arequipa, doutor em ciência política e professor da Universidade Católica Boliviana de La Paz, a dinâmica do protesto ocorrido em El Alto foi totalmente distinta dos atos realizados pelos cocaleiros em Cochabamba. ;É um movimento não necessariamente tipificado pelo MAS, porém, dotado de forte identidade com o que significa um indígena ou os setores populares no poder;, disse.

No âmbito legislativo, Arequipa destacou a existência de dois projetos de lei, um apresentado pelo MAS e outro, por Áñez. ;No fim das contas, esses dois textos são um bom avanço para iniciar alguma negociação e para chegar a um ponto de acordo sobre como devem ser realizadas a escolha dos sete magistrados do Tribunal Supremo Eleitoral e as eleições gerais. Creio que o projeto do governo interino será aprovado, uma vez que os parlamentares oficialistas e da oposição trabalham de modo conjunto.; A expectativa é de que o MAS e a gestão de Áñez entrem em consenso sobre uma provável data das eleições.

Na opinião de Yerko Illijic, professor de direitos humanos da mesma universidade, parte dos manifestantes que desceram de El Alto a La Paz estava envolvida em ato de terrorismo. ;Tentaram explodir a central de combustíveis de Senkata, algo que poderia ter levado 10 mil pessoas à morte;, disse. Ele informou que a Câmara de Deputados deve debater, hoje, propostas técnicas para a escolha dos juízes eleitorais. ;A proposta do governo transitório prevê 15 dias para a construção do órgão eleitoral, mas os tempos políticos exigem prazo menor;, avaliou à reportagem.

A pressão sobre a ex-senadora que se proclamou presidente, mesmo sem quórum na Assembleia, tem se intensificado nas últimas horas, principalmente após ela eximir de responsabilidade penal os militares, que tentam restituir a ordem. A situação se agrava com bloqueios de vias em seis dos nove departamentos da Bolívia, o que provocou uma inflação de até 200% em cidades como La Paz.


Duas perguntas para



Omar Aguilar, senador pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS)


A imprensa boliviana acaba de divulgar que deputados e senadores do MAS se alinharam ao governo de Jeanine Áñez. Isso procede?
Isso não é correto. A bancada do MAS está unida. Mas, também, com a predisposição de trabalhar na aprovação de leis em favor do país. Não pretendemos bloquear absolutamente nada.

Quais as mais prováveis soluções para a crise política da Bolívia?
Retirada das Forças Armadas para os quartéis, fim do uso de armas, não mais mortos, ajuda aos feridos e garantias constitucionais. (RC)

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