Agência France-Presse
postado em 22/11/2019 09:15
[FOTO1]O Senado boliviano está dando os últimos retoques a uma lei que pede novas eleições gerais e a eleição das autoridades do órgão eleitoral, um passo essencial para pacificar o país, imerso em protestos políticos com confrontos que deixaram 32 mortos em um mês.
Uma comissão da Câmara Alta está em fase final para concluir esta lei, que poderá ser aprovada nas próximas horas.
"Esperamos terminar o trabalho da comissão nesta sexta-feira e apresentar (o projeto) ao plenário do Senado", disse na quinta o senador oficial e presidente de uma comissão interpartidiária, Oscar Ortiz.
Após sua aprovação no Senado, a lei deve passar aos Deputados e, em uma etapa final, ser encaminhada ao Poder Executivo para sanção constitucional.
Mas a comissão de parlamentares e o Movimento para o Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales, ainda não conseguiram concordar sobre quando convocar eleições ou se o ex-chefe de Estado, asilado no México desde 10 de novembro, poderá participar do processo.
Há um acordo para renovar todos os sete ministros do Supremo Tribunal Eleitoral (TSE), após a prisão de suas autoridades por crimes eleitorais.
Ortiz acredita que nem Morales, nem seu vice-presidente Álvaro García, também solicitante de asilo no México, podem participar das eleições, porque a Constituição permite apenas uma reeleição, já obtida por ambos.
[SAIBAMAIS]Depois de 13 anos no poder, Morales buscou um novo mandato nas eleições de 20 de outubro. Mas depois de um triunfo muito questionado, com alegações de fraude que incendiaram as ruas, o ex-presidente aimara acabou renunciando em 10 de novembro sob pressão das Forças Armadas.
Atentado fracassado
Morales denunciou estar convencido de que, em 4 de novembro, sofreu um atentado fracassado, quando o helicóptero em que viajava apresentou um problema mecânico e fez um pouso de emergência.
"Surpreendentemente, o helicóptero pousou. Eu ainda estava pensando que era por um problema, mas agora estou convencido de que foi um ataque", declarou Morales, em entrevista realizada pelo presidente equatoriano Rafael Correa para a rede de televisão russa RT e transmitida nesta sexta-feira.
Evo Morales acusou o comandante geral da Força Aérea, o general Jorge Gonzalo Terceros Lara, de estar por trás dessa tentativa de assassinato.
Em 4 de novembro, a Força Aérea da Bolívia informou que o helicóptero que levava o presidente boliviano pousou de emergência por causa de "uma falha mecânica no motor de cauda durante a decolagem".
O ex-presidente boliviano lembrou que naquele dia o líder de direita Luis Fernando Camacho, um dos arquitetos de sua saída do governo, prometeu o fim da era de Morales a seus seguidores.
"Naquele dia, Camacho disse: ;Na segunda-feira, vão ver como Evo vai cair, vamos mostrar em vídeo;.
E à noite, depois que sua vida foi salva, ele não mostrou nada. Ele queria mostrar como o helicóptero Evo caiu e como Evo morreu", disse Morales.
Violência e escassez
Enquanto os parlamentares trabalham na lei eleitoral, a tensão continua na cidade de El Alto - vizinha La Paz -, onde na terça-feira houve oito mortos após uma operação policial-militar para tirar gasolina de uma usina de combustível, cujo acesso foi bloqueado pelos moradores locais
O Exército permanece em alerta depois que milhares de manifestantes de El Alto, leais a Morales, marcharam para La Paz na quinta-feira com os caixões de cinco dos oito mortos, aos gritos de "justiça, justiça",
A polícia os dispersou com gás lacrimogêneo.
Da mesma forma, em seis dos nove departamentos do país há bloqueios de estradas contra a presidente interina Jeanine Añez, que assumiu o poder após a fuga de Morales.
Esses bloqueios causam uma severa escassez de alimentos.
Em La Paz, por exemplo, longas filas podem ser observadas desde a semana passada nos mercados de fornecimento e nos postos de gasolina.