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Papa Francisco leva mensagem antinuclear em viagem ao Japão

O papa também disse que, com essa visita, ele cumpria um desejo de longa data de pregar no Japão

Agência France-Presse
postado em 23/11/2019 12:33

[FOTO1]Depois de passar pela Tailândia, o Papa Francisco chegou ao Japão no sábado (23/11), onde planeja enviar uma forte mensagem no domingo aos mártires de Nagasaki e Hiroshima em favor da eliminação de armas nucleares.

Ao desembarcar, em Bangcoc, a primeira etapa de sua viagem asiática, o pontífice argentino se referiu ao "episódio trágico da história da humanidade" que acabou com a Segunda Guerra Mundial e no qual 74.000 pessoas morreram em Nagasaki e 140.000 em Hiroshima por causa de duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos.

"Logo visitarei Nagasaki e Hiroshima, onde orarei pelas vítimas do bombardeio catastrófico dessas duas cidades e ecoarei seus próprios apelos proféticos pelo desarmamento nuclear", disse Francisco, 82 anos, aos bispos, em uma cerimônia de boas-vindas no Nunciatura apostólica de Tóquio.

O papa também disse que, com essa visita, ele cumpria um desejo de longa data de pregar no Japão. "Não sei se sabem, mas desde tenra idade senti simpatia e carinho por essas terras. Muitos anos se passaram desde aquele impulso missionário cuja realização esperava", comentou.

Homenagem aos "cristãos clandestinos"

Francisco é o primeiro papa a visitar o Japão desde a viagem de João Paulo II em 1981. Apenas 440.000 dos 126 milhões de japoneses são católicos. "Sabemos que a Igreja no Japão é pequena e os católicos são uma minoria, mas isso não deve prejudicar o seu compromisso com a evangelização", lembrou aos bispos.

As duas religiões principais, xintoísmo e budismo, se misturam na vida dos japoneses de acordo com as circunstâncias. Nascimentos, por exemplo, são comemorados em um santuário xintoísmo. Os lutos, por outro lado, são geralmente objeto de uma cerimônia budista.

Da mesma forma, muitos japoneses também adotam elementos do cristianismo e celebram o Natal ou se casam em uma capela sem motivos religiosos.

O cristianismo foi introduzido no Japão com a chegada dos primeiros missionários católicos em 1549. Mas a religião foi banida algumas décadas depois e os cristãos foram perseguidos sem piedade, torturados e executados se não renunciassem à fé.

O Japão foi isolado do resto do mundo desde o início do século XVI até meados do século XIX.

Quando os missionários retornaram ao país naquela época, descobriram com surpresa a existência de "cristãos clandestinos".

Foram dezenas de milhares de conversos japoneses que por mais de 250 anos mantiveram o segredo de sua fé católica, misturando-a com a cultura e os ritos japoneses.

"Vamos pensar nos ;cristãos ocultos; da região de Nagasaki, que mantiveram a fé por gerações através do batismo, da oração e da catequese", disse Francisco neste sábado, prestando homenagem a eles.

"Não se pode esquecer a bomba"

A próxima escala do papa será Hiroshima, onde também fará um discurso no domingo no Memorial da Paz, perto do local onde a aviação americana lançou a primeira bomba atômica em 6 de agosto de 1945.

O padre Yoshio Kajiyama, diretor do centro social jesuíta de Tóquio, nascido em Hiroshima há 64 anos, aguarda ansiosamente os discursos do papa contra armas atômicas. "Eu não conheci meu avô, que morreu no dia da bomba. Quando você cresce em Hiroshima, não consegue esquecer a bomba", explica.

A agenda de Francisco inclui uma reunião em Tóquio na segunda-feira (25/11) com vítimas do triplo desastre de 11 de março de 2011, quando o Japão foi abalado por um terremoto seguido de um tsunami que causou uma catástrofe nuclear em Fukushima.

"O mal não faz sentido para as pessoas e não pergunta sobre os pertences; simplesmente explode com sua veemência destrutiva, como aconteceu recentemente com o tufão devastador que causou tantas vítimas e danos materiais", disse o papa.

Francisco estava se referindo ao tufão Hagibis que deixou um saldo de mais de 80 mortos no Japão em outubro.

Na Tailândia, onde passou quatro dias, sua visita se concentrou no diálogo inter-religioso naquele país de maioria budista e no qual os católicos também são uma pequena minoria.

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