Foi uma noite longa e de grande expectativa para os uruguaios. Ao contrário do previsto nas pesquisas de opinião, que davam uma vitória com vantagem de pelo menos cinco pontos percentuais para o advogado Luis Lacalle Pou, o segundo turno das eleições presidenciais terminou ontem em clima de suspense. À meia-noite, com 98,89% das urnas apuradas, o candidato da oposição estava eleito com 48,75% dos votos, mas com uma diferença ínfima de 1,28 ponto percentual à frente do governista Daniel Martínez (47,47%). Diante desse quadro, e de denúncias de irregularidades apresentadas pelos dois lados, a Justiça Eleitoral anunciou, no entanto, que o resultado oficial poderia ser conhecido apenas na quinta ou sexta-feira.
Antes disso, segundo disse o presidente da Corte Eleitoral, José Arocena, ao jornal uruguaio El País, parte dos votos deverá ser conferida. Segundo a apuração, os votos em branco somavam 1,54% e os nulos, 2,23%. Os chamados ;votos observados;, de eleitores que votaram fora do domicílio, totalizaram 1,45% do total.
A vitória de Lacalle Pou, 46 anos, se confirmada, encerra 15 anos de hegemonia da esquerda no país, que teve a continuidade comprometida, entre outros fatores, por fatores como a alta taxa de desemprego, a estagnação da economia e o aumento da violência.
Martínez, ex-prefeito de Montevidéu, não reconheceu a derrota. Só pretende fazê-lo diante dos resultados oficiais. ;O que está claro, o que essa eleição nos deixa, que parecia ser outra coisa, é que em nenhuma das duas opções alcançará 50% dos votos. Eles tentaram nos enterrar, o que eles não sabiam era que somos sementes.;
O quadro ficou tão incerto que mesmo os institutos de pesquisas, que antes cravavam a vitória de Lacalle Pou, adotaram uma postura de precaução. Apenas dois deles arriscaram o oposicionista como novo presidente às 20h30, quando a votação foi encerrada. O instituto Factum apontou empate técnico entre os dois candidatos.
Na dianteira
Apesar da vantagem ínfima, equivalente a um empate técnico em pesquisa, Lacalle Pou esteve durante toda a apuração à frente do ex-prefeito de Montevidéu, vitorioso no primeiro turno, realizado em 28 de outubro, com quase 40% dos votos. A campanha do candidato do governo, de 62 anos, perdeu força à medida que o adversário construía uma forte aliança eleitoral, reunindo toda a oposição, incluindo o liberal Partido Colorado, o partido de direita Cabildo Aberto, liderado pelo ex-comandante do Exército Guido Manini Ríos, e o social-democrata Partido Independente.
Antes de votar, o atual presidente, Tabaré Vázquez, se referiu à convulsionada América Latina e disse que o Uruguai seguirá ;todos os passos constitucionais e legais; para uma mudança de presidente em 1; de março de 2020. ;O povo uruguaio pode ter a absoluta certeza (de) que cumpriremos isso;, disse o presidente.
Em sua segunda candidatura presidencial ; perdeu em 2014 para Vázquez ; , Lacalle Pou anunciou que, eleito, enviará ao parlamento uma ;lei urgente de consideração;, com a qual pretende agir rapidamente, dentro de um período de 90 dias. A proposta visa declarar a ;emergência; da segurança, eliminar os pagamentos obrigatórios por meio de entidades financeiras introduzidas pela Frente Ampla e liberar a importação de combustível em um país onde uma empresa estatal tem o monopólio e os preços dos combustíveis estão entre os mais alto do mundo.
Lacalle Pou também propõe uma revisão das contas públicas para controlar o déficit fiscal e preservar o grau de investimento do Uruguai, que espera alcançar com cortes de até US$ 900 milhões no Estado.
;O que está claro, o que essa eleição nos deixa, que parecia ser outra coisa, é que em nenhuma das duas opções alcançará 50% dos votos;
Daniel Martínez, candidato governista