Agência Estado
postado em 26/11/2019 07:00
Dias após o primeiro turno no Uruguai, quando Daniel Martínez, da governista Frente Ampla, obteve 39% dos votos e o conservador Luis Lacalle Pou ficou com 29%, forçando o segundo turno, o opositor percebeu que precisava de um plano de longo prazo. Selou uma aliança com o Partido Colorado - o terceiro mais votado, com 12% -, com o Cabildo Abierto - que obteve 11% -, e com os partidos Popular e Independente, ambos com 1%.
Os cinco partidos da coalizão, com ideologias que vão da direita até a centro-esquerda, coordenaram, entre outubro e novembro, ações conjuntas entre seus militantes. Enquanto isso, a Frente Ampla, que agrupa legendas de esquerda, não obteve o apoio de nenhum dos outros dez partidos do Uruguai.
O resultado desses dois caminhos antagônicos seguidos por Martínez e Lacalle Pou - somado à perda de confiança dos eleitores na coalizão governista em meio ao aumento da criminalidade e à desaceleração do crescimento econômico - foi detectado pelas pesquisas eleitorais.
Na última delas, divulgada três dias antes do segundo turno de domingo, o instituto Cifra previa que Lacalle Pou teria 51,5% dos votos, enquanto Martínez ficaria com 44,5%. A margem de erro era de 3,1 pontos porcentuais.
Após a eleição de domingo, a diferença entre os dois candidatos na votação foi tão pequena que será necessário esperar o Tribunal Eleitoral realizar a recontagem dos votos para anunciar oficialmente o novo presidente. A apuração deu 48,71% dos votos a Lacalle Pou e 47,51% a Martínez.
"A Frente Ampla teve dificuldades para convencer os eleitores de que a continuidade era o caminho certo", disse Gerardo Caetano, professor de história e ciências políticas da Universidade da República, em Montevidéu. "O Uruguai faz parte desse padrão de sociedades irritadas e infelizes que viram um aumento no poder de compra e, em razão desse aumento, começaram a exigir mais", disse Caetano. "As pessoas estão com raiva e se voltaram contra o governo."
Mesmo sem o anúncio oficial, Lacalle Pou tende a ser o novo presidente do Uruguai. A quantidade dos chamados "votos observados" (35.229) - que serão analisados pela Corte Eleitoral - é maior do que a diferença entre os dois candidatos (28.666), mas para Martínez reverter o resultado precisaria que a distribuição fosse diferente da que ocorreu no primeiro turno, quando apenas 27% deles foram para a Frente Ampla. O governista precisaria agora de receber 91% desses votos, que pertencem em geral a eleitores que votaram fora de sua zona eleitoral de origem, especialmente mesários e militares.
Lacalle Pou teria de fazer acordos mais fortes do que os já que conseguiu no Congresso e precisaria construir uma política social com a esquerda.
O resultado apertado de domingo - a eleição foi a mais disputada do país em 25 anos - envia uma mensagem a Lacalle Pou de que é preciso costurar alianças e ceder algum terreno a Martínez, que não ficou tão atrás como mostravam as pesquisas e agora aparece numa posição política de poder de negociação. Resta saber se ele de fato ficará afastado da política, como havia anunciado, ou se fará uma oposição mais atuante.
Lacalle Pou, um advogado de 46 anos, ex-senador do Partido Nacional, foi um crítico feroz do governo de Tabaré Vázquez. Um dos focos de sua campanha foi o aumento da criminalidade, representado pelos 414 homicídios registrados em 2018.
Descendente de uma família de políticos, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995) e de uma ex-senadora, Lacalle Pou foi candidato presidencial nas eleições de 2014, mas foi derrotado no segundo turno justamente por Tabaré. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.