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ONG critica e Chile mudará polícia

Correio Braziliense
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postado em 27/11/2019 04:14
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Depois de a Human Rights Watch (HRW) apontar ;sérias; violações dos direitos humanos cometidas pelos carabineiros (a polícia especial do Chile), as autoridades de Santiago ordenaram mudanças nas forças de segurança e admitiram que o relatório apresentado pela organização não governamental traz ;dor e preocupação;. Em entrevista ao Correio, pela internet, José Miguel Vivanco ; diretor para as Américas da HRW ; explicou que o documento inclui ;sólida evidência de uso excessivo de força nas ruas e abusos contra detidos, como espancamentos e abusos sexuais, no controle dos manifestantes;.

;Depois de mais de 70 entrevistas, determinamos que existiram fatores que facilitaram graves violações dos direitos humanos de muitos chilenos, incluídos o uso indiscriminado e indevido de armas e escopetas antidistúrbios; abusos contra detidos; e sistemas de controle interno deficientes. Isso nos levou a solicitar ao governo que impulsione uma reforma policial urgente;, disse Vivanco. A ONG contabilizou 15 mil detidos, 1.015 feridos com balas de borracha (22% com lesões oculares), 74 abusos sexuais e 26 mortes.

Lorena Recabarren, subsecretária de Direitos Humanos da gestão de Sebastián Piñera, declarou que ;valoriza o relatório da HRW; e fez um chamado ;a incorporarem reformas profundas nos carabineiros e um maior controle efetivo da ação policial em situações de distúrbios e de detenção;.

De acordo com Vivanco, um aspecto central da reforma defendida pela ONG envolve a revisão dos poderes de detenção para controle de identidade dos carabineiros. ;É uma forma de assegurar que haja garantias contra o uso arbitrário do poder de interceptar e deter pessoas, e que haja prestação de contas por seu uso;, comentou. Ante os mais de 220 casos documentados pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos de lesões oculares, no marco dos protestos, a HRW considera fundamentais mecanismos internos de controle para investigação e punição de abusos, incluindo o uso indevido de armas menos letais pelos carabineiros. Outras medidas sugeridas incluem a mudança no sistema disciplinar dos carabineiros, um protocolo para que os detidos sejam examinados por forenses independentes, e a proibição de se despir os detidos.

O empresário Ronald Barrales, 36 anos, será obrigado a conviver com as marcas da repressão policial. Em 11 de novembro passado, ele e a família se deslocaram até a Plaza Itália, no centro de Santiago, aproveitando a aparente tranquilidade em relação às manifestações anteriores. ;Havia muito menos gente e os distúrbios eram bem escassos. Tudo mudou quando as forças especiais de carabineiros surgiram e fecharam toda a área. Eles atacaram com canhões d;água e gases. Foi um caos. As pessoas corriam, e muitas arremessaram pedras contra os caminhões da polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo;, contou ao Correio.

Ao tentar escapar, Ronald disse que se deparou com um furgão dos carabineiros, que não conseguia deixar a área. ;Alguns manifestantes começaram a lançar pedras contra o veículo. Em um instante, a porta do copiloto se abriu e um carabineiro apontou uma arma diretamente contra meu corpo, ferindo-me com três projéteis ; um no olho esquerdo, outro no tórax e um no abdome;, afirmou. Ele jamais imaginava que sofreria lesões tão graves e chegou a usar óculos para proteger os olhos. De nada adiantaram. ;Os projéteis não eram balas de borracha, mas de chumbo recoberto por borracha. Perdi a visão para o resto da vida.; (RC)


; Realizamos entrevistas onde documentamos 74 casos de abusos sexuais, nos quais os detidos eram obrigados a se despir e a se agachar nas delegacias. Também coletamos de casos de toques de genitais em mulheres."



José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da Human Rights Watch (HRW)



Cego de um olho

;Apenas ficarei tranquilo quando todos os responsáveis ; ou seja, o presidente do Chile, os representantes políticos e o diretor dos carabineiros ; pagarem com a prisão pelos danos que causaram a mim. Eles têm pleno conhecimento do que fizeram.;


Ronald Barrales, 36 anos, empresário, morador de Santiago do Chile. Ficou cego do olho direito durante protestos


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