postado em 28/11/2019 04:06
[FOTO1]Nos Estados Unidos, existem recursos para testar crianças expostas ao HIV logo após o nascimento, e a maioria dos especialistas tem defendido o início do tratamento o mais cedo possível. ;Até a OMS (Organização Mundial da Saúde), que leva em consideração todas as configurações limitadas de recursos, também sugere que a criança deve ser diagnosticada o mais cedo possível, e o tratamento antirretroviral iniciado o quanto antes;, frisa Roger Shapiro.
O pesquisador da Universidade de Harvard reconhece os desafios enfrentados por muito países. ;Infelizmente, o maior problema é que existem obstáculos de logística e outras razões pelas quais muitos países não conseguem diagnosticar crianças cedo o suficiente. E mesmo quando são diagnosticadas, nem sempre se tem acesso ao tratamento em tempo hábil;, completa.
Há 10 anos, segundo Roger Shapiro, há debates, sustentados por resultados de ensaios clínicos, sobre a melhora em crianças submetidas ao tratamento com antirretrovirais dentro de semanas ou meses de vida, mas ainda não havia sido feito um estudo que conseguisse verificar o que acontece no sistema imune quando a abordagem ocorre precocemente.
Mississipi
Em 2010, uma criança soropositiva nascida no estado americano do Mississipi recebeu o tratamento contra o HIV 30 horas após o nascimento, com bons resultados (Leia Para saber mais). ;Esse bebê foi capaz de manter o controle viral espontâneo por vários meses após a interrupção da terapia antirretroviral, o que, em nossa opinião, aumentou a possibilidade de que o tratamento precoce pudesse fazer diferença crítica para os recém-nascidos. Nosso estudo se inspirou também nesses dados;, diz Shapiro.
Os pesquisadores acreditam que as observações da investigação atual podem fazer a diferença no tratamento de crianças com HIV e também no tratamento tardio da doença. ;Intervenção muito precoce em neonatos limita o tamanho do reservatório e nos oferece a melhor oportunidade para criar intervenções destinadas a curar o HIV. Não achamos que a intervenção atual seja curativa, mas prepara o terreno e nos dá a capacidade de oferecer intervenções inovadoras adicionais no futuro;, ressalta Roger Shapiro. ;O que mais me empolga nesse trabalho é que fazer uma mudança comparativamente pequena no tempo do tratamento pode ter um grande impacto nos resultados do tratamento a longo prazo;, completa Mathias Lichterfeld, pesquisador da Universidade Brigham Young. (VS)
Para saber mais
;Cura funcional;
Em 2010, um grupo de pesquisadores do Centro Infantil da Universidade Johns Hopkins, do Centro Médico da Universidade de Mississipi e da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts iniciou a ;cura funcional; de uma criança nascida com HIV. Três anos depois, anunciaram, na revista New England Journal of Medicine, ter atingido o objetivo. À época, a criança tinha dois anos e meio, e exames de sangue convencionais não haviam identificado a presença do vírus no organismo dela.
Segundo os cientistas, liderado pela virologista Deborah Persaud, a ;cura funcional; se deu devido ao tratamento precoce com antirretrovirais: o bebê começou a receber o medicamento 30 horas depois de ter nascido. Os pesquisadores também relataram ter desconfiado de que algum fator genético poderia ter gerado uma proteção maior a criança, mas testes posteriores descartaram essa hipótese. Em 2014, porém, após meses sem receber o tratamento, o bebê do Mississipi, como ficou conhecido, mostrou níveis detectáveis do vírus HIV.