Agência France-Presse
postado em 28/11/2019 08:18
[FOTO1]Ao menos 13 manifestantes morreram nesta quinta-feira (28/11) em Nassiriya, sul do Iraque, um dia após o incêndio do consulado do Irã na cidade sagrada xiita de Najaf, o que representa uma escalada nos protestos contra o governo.
Centenas de manifestantes que gritavam "Fora Irã" e "Vitória para o Iraque" na área do consulado em chamas, na simbólica cidade sagrada que recebe milhões de peregrinos a cada ano, sobretudo do Irã, iniciaram uma nova etapa do primeiro movimento social espontâneo no Iraque em décadas.
Treze manifestantes morreram atingidos por tiros e quase 100 ficaram feridos durante a operação para desalojar duas pontes de Nassiriya, marcos das lutas sociais no país, informaram fontes médicas e das forças de segurança.
As autoridades Nassiriya decretaram toque de recolher na província, mesma medida que já havia sido adotada em Najaf.
As forças de segurança foram mobilizadas nos arredores da cidade e revistavam as pessoas e veículos na zona central.
Novos comandantes militares
A operação em Nassiriya acontece um dia depois da nomeação de um novo comandante militar para a província, as autoridades nacionais estão recorrendo aos militares para enfrentar um movimento que, desde 1 de outubro, deixou mais de 360 mortos e 15.000 feridos, de acordo com um balanço compilado pela da AFP. O governo iraquiano não divulga números oficiais.
[SAIBAMAIS]Bagdá acusou pessoas "alheias às manifestações legítimas de tentar prejudicar as relações históricas entre os dos países" com o incêndio do consulado iraniano de Najaf.
Em Teerã, que considera o movimento de protesto no Iraque um "complô", o ministério das Relações Exteriores do Irã pediu "ação decisiva, eficaz e responsável contra os agentes da destruição e os agressores".
Em dois meses de manifestações, os iraquianos não escondem a irritação com o país vizinho.
Os manifestantes consideram que o sistema político instaurado pelos americanos, que derrubaram o regime de Saddam Hussein na invasão de 2003, está esgotado.
Eles criticam sobretudo a influência crescente do Irã e de seu poderoso emissário para assuntos iraquianos, o general Qassem Soleimani, encarregado das operações no exterior do exército ideológico da República Islâmica.
Os iraquianos querem uma reforma profunda do sistema político e a renovação total da classe política, considerada corrupta e inepta. Oficialmente, 410 bilhões de euros foram desviados em 16 anos, o que representa duas vezes o PIB do país.
Os dois países com maior influência no Iraque, Estados Unidos e Irã, mantêm uma batalha de influência no Oriente Médio, mas Teerã assumiu a dianteira, enquanto Washington está de saída.
O general Soleimani conseguiu reunir o apoio dos partidos em torno do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, enquanto o governo americano se limita a fazer declarações oficiais. O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que viajou ao Iraque na semana passada, ignorou as autoridades de Bagdá e se limitou a visitar as tropas de seu país e a sede do governo autônomo do Curdistão.
A vida no país está quase paralisada. No sul, as escolas permanecem fechadas há semanas e os prédios públicos exibem cartazes com a frase "fechado por ordem do povo".
Nas ruas e estradas, os manifestantes queimam pneus para bloquear o transporte de petróleo, em uma tentativa de afetar a fonte de receitas do governo.
Mas até o momento não conseguiram prejudicar a produção e distribuição de petróleo, que representa 95% do faturamento de um governo muito endividado.