Mundo

Represália chinesa aos EUA

Em resposta à lei em apoio às manifestações pró-democracia em Hong Kong, Pequim suspende escalas de embarcações de guerra norte-americanas na ex-colônia britânica. E promete punições a organizações não governamentais "que se comportaram mal"

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 03/12/2019 04:17
[FOTO1]
Numa medida de grande simbolismo político, Pequim impôs ontem sanções aos Estados Unidos, numa resposta à lei assinada pelo presidente americano, Donald Trump, em apoio às manifestações pró-democracia que há seis meses abalam Hong Kong, território semiautônomo chinês. O governo de Xi Jinping decidiu, em represália, suspender imediatamente as escalas dos navios de guerra americanos na ex-colônia britânica, reanexada à China em 1997. Desde, então os navios americanos costumavam atracar em Hong Kong. Organizações não governamentais ;que se comportaram mal; em Hong Kong também serão punidas.

A reação chinesa a Trump foi rápida. Na semana passada, o regime comunista anunciou que adotaria medidas por considerar a lei sancionada por Trump uma interferência nos assuntos internos do país. A suspensão da ;avaliação das petições de visita de recuperação dos navios de guerra americanos;, que começou a valer ontem mesmo, foi divulgada pela porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying.

Embarcações militares americanas atracam regularmente em Hong Kong, em visitas que permitem aos marines um período de recuperação. Em agosto passado, Pequim já havia bloqueado duas visitas de navios americanos, segundo a Marinha dos Estados Unidos. A última visita da US Navy foi em abril, antes da eclosão dos protestos em Hong Kong, iniciados em junho, contra um projeto de lei que permitiria a extradição de presos para o território chinês. A proposta acabou retirada, mas a mobilização pró-democracia na ex-colônia britânica só ganhou força.

Tensão
Para analistas políticos, a medida adotada pela China pode não ter resultados práticos, mas, sem dúvidas, eleva a voltagem na relação entre Washington e Pequim. ;Operacionalmente, do ponto de vista militar, isso não muda grande coisa para os Estados Unidos;, opinou Michael Raska, especialista em questões de defesa da Universidade Tecnológica de Nanyang de Singapura. Segundo ele, porém, a iniciativa demonstra que ;a tensão entre China e Estados Unidos continuará aumentando;.

Na avaliação de Michael Cole, do Global Taiwan Institute de Taipé, a decisão de Pequim ;é, antes de tudo, simbólica;. Contudo, acrescentou, torna explícita ;a escalada de represálias que envenena a relação; entre os dois países.

Sobre as organizações não governamentais que são alvo de Pequim, Hua Chunying se referiu, sobretudo, a associações ativas no âmbito dos direitos humanos. A porta-voz da diplomacia chinesa citou nominalmente a National Endowment for Democracy, National Democratic Institute for International Affairs, International Republican Institute, Human Rights Watch e Freedom House. Não explicou, entretanto, em que consistem as sanções.

A lei assinada por Trump ameaça com a suspensão do status econômico especial que Washington dá à ex-colônia britânica caso os direitos dos manifestantes não sejam respeitados. O presidente dos EUA também aprovou uma medida para proibir a venda de material destinado a repressão pela polícia de Hong Kong às manifestações.

A essa divergência sobre Hong Kong soma-se a guerra comercial e tecnológica travada entre as duas potências desde meados do ano passado. As negociações, atualmente, estão concentradas sobre um ;acordo preliminar; no âmbito comercial. Caso esse pacto não seja alcançado, novos aumentos de tarifas mútuas poderão ser implementados a partir de 15 de dezembro.


Parceria entre
Putin e Xi


O presidente russo, Vladimir Putin, e seu colega chinês, Xi Jinping, inauguraram ontem um gasoduto que unirá pela primeira vez os dois países. A iniciativa, considerada histórica, faz parte de um projeto para estabelecer a Rússia como a maior produtora mundial de gás. ;A torneira está aberta (...) o gás está entrando (na China);, disse o presidente da Gazprom, Alexei Miller, enquanto o produto do campo da Sibéria oriental cruzava a fronteira pelo gasoduto Power of Siberia. Em videoconferência com Putin, Xi ressaltou: ;O desenvolvimento das relações sino-russas é e será uma prioridade da política externa de cada um de nossos países;. A infraestrutura tem até o momento mais de 2 mil quilômetros de dutos. Ao ser finalizada, a rede contará com um total de mais de 3 mil quilômetros.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação