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Greve pressiona Macron

Mobilização contra a reforma previdenciária paralisa transportes públicos, escolas, hospitais e refinarias, e leva milhares às ruas de mais de 70 cidades do país, inclusive Paris, onde importantes pontos turísticos não funcionaram

postado em 06/12/2019 04:06
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A polêmica reforma previdenciária proposta pelo presidente Emmanuel Macron parou grande parte da França ontem, com uma greve nos transportes, escolas, hospitais e refinarias, além de protestos que mobilizaram mais de meio milhão de pessoas em aproximadamente 70 cidades, segundo estimativas divulgadas pela agência de notícias France Presse (AFP). Em Paris, os atos foram marcados por confrontos entre forças de segurança e manifestantes ; a polícia deteve 71. ;Não vimos nada assim semelhante desde a mobilização contra a reforma da Previdência em 2010, durante a presidência de Nicolas Sarkozy;, disse a sindicalista Dominique Holle.

Analistas definiram a forte pressão popular como um teste à determinação de Macron em prosseguir com a reforma, uma promessa de campanha do presidente que prevê a eliminação dos 42 regimes especiais atuais, instituindo um sistema único, no qual todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria. Os sindicatos, porém, temem que o novo sistema adie a aposentadoria, atualmente aos 62 anos, e diminua o nível das pensões.


As manifestações de ontem são o maior desafio desde o surgimento dos movimento dos coletes amarelos, surgido no fim do ano passado. De policiais a garis, de advogados a aposentados e motoristas de transportadoras, assim como os coletes amarelos, a adesão à greve foi abrangente. As primeiras passeatas começaram depois do meio-dia em várias cidades, incluindo a capital, Marselha, Montpellier, Nantes e Lyon. Em poucas horas, o movimento ganhava força.

Portas fechadas

O país funcionou em ritmo lento. Quase 90% das viagens dos trens de alta velocidade foram suspensas, centenas de voos foram cancelados e muitas escolas não abriram as portas. Em Paris, 10 das 16 linhas de metrô ficaram fechadas. O baque para o turismo foi imenso. Museus não funcionaram, assim como a torre Eiffel. O Palácio de Versalhes aconselhou que os turistas ;adiem; as visitas.


Também era quase impossível chegar ao aeroporto Charles de Gaulle, pois a linha de trem que liga Paris aos terminais funcionava de maneira parcial, apenas nos horários de pico. A paralisação de parte dos controladores aéreos obrigou a Air France a cancelar 30% dos voos domésticos e 15% dos europeus. A empresa informou, no entanto, que todas as viagens de longa distância seriam mantidas.

Com a força do movimento, os sindicatos ameaçavam prolongar a greve por tempo indeterminado. Os transportes públicos anunciaram a prorrogação do movimento até segunda-feira, no mínimo. Para evitar o caos nos transportes, muitos franceses permaneceram em suas residências. Quem saiu, usou o próprio carro ou bicicleta. ;Pedi para trabalhar de casa hoje, mas espero que a greve não dure muito porque não posso fazer isso por muito tempo;, declarou à AFP Diana Silavong, executiva em uma empresa farmacêutica.


Sete das oito refinarias francesas também interromperam as atividades, algo ;inédito;, de acordo com o secretário federal do setor de petróleo do sindicato CGT, Emmanuel Lépine. O movimento de protesto recebeu o apoio de 182 artistas e intelectuais, entre eles o economista Thomas Piketty, autor de um best-seller sobre a desigualdade, e de partidos de esquerda.

O governo teme que o país fique paralisado por várias semanas, como aconteceu em 1995, quando a população derrotou o Palácio do Eliseu, que, na época, também tentava reformar o sistema previdenciário. Mas defende o sistema proposto, que considera mais justo e mais simples, no qual ;cada euro cotado dará a todos os mesmos direitos;.


71

Total de detidos pela polícia nas manifestações em Paris


"Não vimos nada assim semelhante desde a mobilização contra a reforma da Previdência em 2010, durante a presidência de Nicolas Sarkozy;
Dominique Holle, sindicalista

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