As autoridades da Nova Zelândia não têm mais esperanças de encontrar com vida os oito turistas desaparecidos na White Island, após serem surpreendidos pela erupção do vulcão de mesmo nome, a 50km da cidade de Whakatane. Cinco pessoas foram confirmadas como mortas, e 31 estão hospitalizadas, muitas delas com queimaduras em 90% do corpo. Tudo aconteceu às 14h11 de ontem (22h11 de domingo, em Brasília). A estudante neozelandesa Lillani Hopkins, 22 anos, e o pai, Geoff, 50, estiveram na cratera 30 minutos antes da explosão e chegaram a fazer uma foto na qual aparecem sorridentes. ;Conseguimos sair da ilha vulcânica apenas cinco minutos antes da tragédia. Tive sorte por não ter sido uma das feridas;, contou ao Correio, por meio da internet. No momento da erupção, eles estavam em um barco a apenas 200m do vulcão e foram os primeiros a socorrer as vítimas, acompanhados de dois médicos. ;Os ferimentos eram horríveis. Cada uma das pessoas que resgatamos estava coberta de queimaduras extensas. Eu e meu pai temos certificados de primeiros socorros. Pelo menos 23 feridos foram trazidos para a nossa embarcação. Nunca vi queimaduras como aquelas;, acrescentou Lillani.
;Após a primeira erupção, houve um silêncio completo. As cinzas se ergueram aos céus, e eu fiquei assombrada. Depois, a nuvem de cinzas começou a rolar penhasco abaixo em direção ao nosso barco e fomos engolfados, assim como a ilha inteira;, relatou Lillani. Ao acelerarem o barco, ela e o pai perceberam que havia gente na ilha e dentro do mar. ;Lançamos o bote de borracha ao mar e prestamos socorro;, disse. Pelo menos 38 dos 47 turistas atingidos pela catástrofe eram passageiros do navio de cruzeiro Ovation of the Seas, da companhia Royal Caribbean, incluindo nacionais de Austrália, Reino Unido, China, Malásia e EUA. ;Quarenta e sete pessoas entraram na ilha. Agora podemos confirmar que cinco faleceram, 31 estão no hospital, oito estão desaparecidas e três receberam alta;, explicou o policial Bruce Bird.
Gases venenosos
A força da erupção lançou cinzas a cerca de 3,6 mil metros de altura. Momentos antes, um grupo de pessoas foi flagrado por uma câmera de monitoramento caminhando pelas bordas da cratera. ;Com base nas informações que temos, não acreditamos que haja sobreviventes na ilha;, afirmou um comunicado da polícia, acrescentando que ;toda as pessoas tiradas com vida da ilha foram resgatadas no momento da evacuação;. Professor de medicina ambiental e ocupacional da Universidade de Otago (em Dunedin, Nova Zelândia), David McBride explicou à reportagem que as vítimas morreram devido aos impactos das rochas expelidas pela explosão, às queimaduras e a problemas respiratórios decorrentes da inalação de gases.
O primeiro corpo identificado foi o do guia turístico Tipene Maaangi, 24 anos, que começou a fazer passeios pela região em setembro. Os recém-casados norte-americanos Matthew e Lauren Urey decidiram passar a lua-de-mel a bordo do Ovation of the Seas e conhecer o vulcão. Ambos sofreram graves queimaduras.
Uma das turistas do Ovation of the Seas, a australiana Venessa Lugo, tinha desembarcado do navio e visitava as fontes termais de Rotorua, na Nova Zelândia. ;Não tomamos conhecimento da erupção até que retornamos ao navio, entre 15h e 15h30. Todos os passageiros estão fazendo o melhor que podem para continuar com sua rotina. Eu diria que muitos de nós estamos chateados com essa situação, especialmente porque ainda há desaparecidos;, disse ao Correio. O brasileiro Allessandro Kauffmann e a mulher, Aline, testemunharam a erupção. ;Dois tours foram para o vulcão, um deles era o nosso. A gente conseguiu sair cinco minutos antes. O tour que chegou depois, infelizmente, não pôde sair a tempo. É inexplicável o que aconteceu;, desabafou Allessandro, no Instagram.
A premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, se deslocou até Whakatane, cidade situada na Baía de Plenty, ponto mais próximo da White Island, e saudou os socorristas pelo ;trabalho incrível, sob circunstâncias devastadoras;. Por e-mail, Shane Cronin, vulcanologista da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), explicou que há várias áreas vulcânicas no país, monitoradas com medições sísmicas, de gases, da temperatura e da superfície. ;As medições são usadas para definir o risco. Antes da tragédia, o alerta era nível 2, indicando que a sismicidade e os gases estavam mais ativos do que o normal, mas não havia precursores de erupção.; Ele disse crer que os turistas foram golpeados instantaneamente pelos gases e cinzas quentes ou atingidos pelas grandes rochas que voaram. ;O calor e a violência do fluxo piroclástico foram as principais causas das mortes;, disse.
Eu acho...
;Os gases tóxicos expelidos pelo vulcão incluem sulfeto de hidrogênio, rapidamente fatal em concentrações de 500 partes por milhão, e dióxido de enxofre, que é muito irritante para os brônquios e pode dar causar síndrome de disfunção reativa das vias aéreas, uma condição como a asma, em que se torna muito difícil respirar.;
David McBride, Professor de medicina ambiental e ocupacional da Universidade de Otago (em Dunedin, Nova Zelândia)