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Preso na França, ex-policial da ditadura argentina será extraditado

O argentino será extraditado em até sete dias

Agência France-Presse
postado em 11/12/2019 18:04
[FOTO1]A Gendarmeria francesa prendeu nesta quarta-feira (11) o ex-policial argentino Mario Sandoval, cuja extradição é reivindicada pela Justiça de seu país pelo desaparecimento de um estudante durante a ditadura.

A detenção aconteceu horas depois de o Conselho de Estado dar sinal verde para sua extradição. Ele deve ser extraditado em até sete dias.

Sandoval, de 66 anos, foi detido por investigadores de uma agência encarregada da luta contra crimes de lesa-humanidade (OCLCH), em sua residência em Nogent-sur-Marne, um subúrbio ao leste de Paris, anunciou o Ministério francês do Interior em um comunicado.

Sua extradição "é definitiva e se dará em um prazo máximo de sete dias", acrescentou o Ministério, pouco depois de o Conselho de Estado - a máxima jurisdição administrativa francesa - aprovar sua extradição na esteira de uma batalha judicial que durou oito anos.

Buenos Aires reivindica desde 2012 a extradição deste ex-policial para que ele responda na Justiça argentina pelo suposto sequestro e desaparecimento do estudante Hernán Abriata, em outubro de 1976.

Sandoval, de 66 anos, exilou-se na França, após a queda da Junta em 1983 e obteve nacionalidade francesa em 1997. Isso não impede sua extradição, já que não era francês à época dos fatos.

Hernán Abriata, um estudante de Arquitetura, foi preso na Escola de Mecânica da Armada (ESMA), um dos principais centros de tortura da ditadura argentina (1976-1983). Mais de cinco mil pessoas desapareceram no regime, muitas delas lançadas de aviões sobre o Rio da Prata.

Entre as vítimas dos "voos da morte", estão as freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet, sequestradas e assassinadas junto com as fundadoras da associação humanitária Mães da Praça de Maio, em dezembro de 1977.

Embora a suspeita seja de que Mario Sandoval tenha participado de mais de 500 assassinatos, torturas e sequestros durante a ditadura militar, a Justiça argentina se apoiou apenas no caso Abriata para pedir a extradição porque há mais de dez testemunhos contra ele.

Carlos Loza, um companheiro de cativeiro na ESMA, disse ao juiz que Abriata "sofreu torturas" e que a última vez que o viu "foi entre 4 e 5 de janeiro de 1977, quando foi ;transferido; [expressão que significava morte]".

- Conselheiro de Sarkozy e professor
"Não sou o Sandoval que vocês estão procurando", foi sua primeira declaração à polícia francesa ao ser detido em cumprimento a um mandato de prisão emitido pelo juiz argentino Sergio Torres.

Torres foi o primeiro grande investigador do plano de eliminação de pessoas na ESMA, instituição transformada em um museu da memória.

Mais de 5.000 presos políticos passaram por suas prisões, que incluíam até uma maternidade para os bebês roubados. A maioria continua desaparecida.

Para se defender, Sandoval usou a Justiça para acusar a imprensa francesa de mentir sobre sua identidade.

Na França, organizou uma nova vida. Não escondeu seu nome e sobrenome, apenas seu passado. Conseguiu ser conselheiro do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. Também colaborou com grupos paramilitares colombianos.

Trabalhou como professor no Instituto de Altos Estudos de América Latina de Sorbonne Nouvelle e da Universidade de Marne-la-Vallé. Ninguém se deu conta de quem ele era até ser reconhecido em uma foto. Em uma declaração, os professores de Marne-la-Vallé pediram sua detenção.

- ;Altos e baixos; -
"Esperávamos a notícia com muita ansiedade. E hoje ela se confirmou depois de tantos anos. Foi um caminho muito árduo, com muitos altos e baixos, mas falta só um pouquinho para que possa chegar à Argentina e ser julgado com todas as garantias constitucionais que são as que os desaparecidos argentinos não tiveram", disse à AFP a irmã de Hernán, Laura Abriata.

Após uma longa batalha judicial, o governo francês aprovou sua extradição no ano passado. O ex-policial, que nega as acusações e considera, de qualquer modo, que o caso prescreveu, apelou ao Conselho de Estado, a mais alta instância administrativa na França.

Apresentado pela Argentina em 2012, o pedido de extradição já havia sido aprovado pelo Tribunal de Apelação de Paris e, depois, pelo Tribunal de Cassação francês - órgão equivalente à Suprema Corte.

A lei impede a extradição de uma pessoa quando o crime em questão tiver prescrito, mas a Justiça francesa avaliou que, como a vítima não reapareceu, o delito é considerado "contínuo".

Mario Sandoval, que teme não ter um "julgamento justo na Argentina", encaminhou o assunto imediatamente ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH). Para seu advogado, Jérôme Rousseau, "a França está violando seus compromissos europeus".

O ex-policial pediu ao alto tribunal europeu "que ordene ao governo francês que não aplique o decreto de extradição antes que esta instância tenha a oportunidade de se pronunciar sobre o recurso", acrescentou Rousseau, em uma declaração.

Segundo a advogada que representa o Estado argentino, Sophie Thonon, em entrevista à AFP, este recurso "não freia a aplicação do decreto de extradição".

Na Argentina, onde a ditadura deixou 30.000 desaparecidos, mais de 3.000 pessoas são acusadas em processos por crimes de lesa-humanidade desde a anulação de leis de anistia em 2003. Cerca de 600 casos ainda se encontram em tramitação.

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