postado em 13/12/2019 04:15
[FOTO1];Há um mês cheguei ao México, país irmão que nos salvou a vida. Estava triste e destroçado. Agora, cheguei à Argentina para seguir lutando pelos mais humildes e para unir à Pátria Grande. Estou forte e animado. Agradeço ao México e à Argentina por todo o seu apoio e solidariedade.;
Evo Morales (C), ex-presidente da Bolívia
Trinta e dois dias depois de renunciar à Presidência da Bolívia, Evo Morales encontrou refúgio na Argentina do recém-empossado governo de Alberto Fernández. De forma discreta, Morales desembarcou ontem no Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, ao lado do ex-vice-presidente Álvaro García Linera, da ex-ministra Gabriela Montaño e do ex-embaixador boliviano na OEA (Organização dos Estados Americanos) José Alberto Gonzales. Todos estavam asilados no México. Analistas acreditam que a decisão de Fernández não terá muito impacto na política internacional do novo governo, embora considerem que, certamente, desagradará o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
O boliviano era um dos convidados por Fernández para sua cerimônia de posse, mas chegou dois dias depois, encontrando seus dois filhos, Evaliz e Alvaro, que já estavam em território argentino desde 23 de novembro. ;(Morales) vem para ficar na Argentina. Entra em condição de asilado e depois passa a ter a de refugiado;, explicou o chanceler Felipe Solá ao canal de notícias TN, acrescentando que o recém-chegado ;se sente mais confortável aqui do que no México;.
Felipe Solá disse que não havia nenhum encontro agendado entre Morales e o presidente Fernández, e não especificou em que local do país o ex-dirigente boliviano permanecerá como refugiado. ;Há um mês cheguei ao México, país irmão que salvou a nossa vida, estava triste e destroçado. Agora cheguei à Argentina, para continuar lutando pelos mais humildes e para unir a #PátriaGrande, estou forte e animado. Agradeço ao México e à Argentina por todo seu apoio e solidariedade;, escreveu o ex-presidente no Twitter.
Uma fonte diplomática informou à agência France Presse que ele está hospedado na Grande Buenos Aires, fora da capital argentina. É nessa região que fica o distrito de La Matanza, onde está grande parte da comunidade boliviana que vive na Argentina.
Política
Como refugiado, Morales terá que cumprir alguns requisitos, segundo o chanceler argentino. ;Queremos o compromisso de Evo de não fazer declarações políticas na Argentina. É uma condição que nós pedimos;, afirmou Felipe Solá. No próximo ano, provavelmente em março, haverá eleição na Bolívia. Embora ainda sem data oficial, o processo foi iniciado com a renovação do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Há mais de 500 candidatos para compor a Corte que, depois de formada, no fim do mês, deverá definir o calendário de campanha em 48 horas.
Evo Morales está fora da corrida eleitoral, mas, no último sábado foi eleito chefe de campanha de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), que ainda não anunciou candidato. Ontem, Felipe Solás reafirmou que a Argentina não reconhece o governo de transição de Jeanine Áñez. ;Mas fazemos votos e tentaremos não atrapalhar, e, sim, ajudar para que haja eleições o quanto antes;, declarou o chanceler.
O deputado boliviano Luis Felipe Dorado, da aliança Unidade Democrata (de oposição a Morales), disse ao Correio que a esquerda pretende retomar o controle do país, ;mesmo sabendo de todos os danos de lesa humanidade cometidos pelo ex-presidente;. Ele não vê condições de Morales lutar pelos mais humildes, conforme prometeu.;
Por sua vez, Marcelo Arequipa, doutor em ciência política e professor da Universidade Católica Boliviana San Pablo (em La Paz), considerou ser evidente que Morales transmitirá mensagens políticas. ;Tenho a impressão de que, agora que sua condição mudou de asilado para refugiado, ele decidiu baixar o tom de sua beligerância e observar, de modo mais estratégico, o panorama político.;
Para o consultor político e sociólogo Raúl Aragón, o desembarque de Morales na Argentina era ;esperado; e ;não terá influência em questões concretas; para o novo governo argentino. ;Isso certamente não agradará (Jair) Bolsonaro ou (Donald) Trump, mas, indo além do discurso político, quando se trata de concordar com questões concretas, Evo Morales não tem tanta relevância;, declarou Aragón à AFP.
Evo Morales renunciou em 10 de novembro após perder apoio das Forças Armadas em meio a fortes protestos sociais gerados por sua tentativa de permanecer no poder pelo quarto mandato consecutivo. As últimas eleições foram consideradas fraudulentas pela missão de observadores da OEA.
Eu acho...
;Evo Morales trata de se aproximar mais da Bolívia e, para isso, utiliza a Argentina. Mas a sua manobra foi em vão, pois Buenos Aires avisou que não vai tolerar declarações políticas dentro do país. É justamente o que mandam nossos tratados internacionais de asilo político e de refugiados, que proíbem asilados e refugiados de fazerem discursos políticos. Nesse sentido, o governo do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, violou os tratados internacionais e permitiu que Evo fizesse política.;
Luis Felipe Dorado,
deputado boliviano da aliança Unidade Democrata (de oposição a Evo Morales)
;As projeções mais pessimistas sobre intenções de voto do Movimento ao Socialismo (MAS) oscilam entre 30% e 40% do eleitorado nas próximas eleições. O partido de Evo Morales deverá fazer uma campanha tranquila, sem enfrentamento, além de tentar se conectar com seus setores urbanos de classe média. Vejo uma grande possibilidade de segundo turno, no qual o MAS não vencerá, mas adotará uma boa bancada de deputados e senadores.;
Marcelo Arequipa,
doutor em ciência política e professor da Universidade Católica Boliviana San Pablo (em La Paz))