Unidade, cura, conciliação. Centrado nesses temas, o discurso de vitória do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi um convite a exorcizar anos de amargura, de divisão e de impasse provocados pelo Brexit. ;Eu francamente exorto todo mundo, de todos os lados, depois de três anos e meio, (;) eu exorto todos a encontrarem um desfecho e a deixar que a cura comece;, declarou o premiê a um batalhão de jornalistas, em frente à 10 Downing Street, a residência oficial e escritório do chefe de governo. Johnson classificou o histórico desempenho de seu Partido Conservador nas eleições parlamentares de quinta-feira como o respaldo da população para o divórcio entre Reino Unido e União Europeia (UE). ;Concretizar o Brexit é agora a decisão irrefutável, irresistível e indiscutível do povo britânico;, afirmou, avisando que levará adiante o Brexit em 31 de janeiro, o prazo final, ;sem ;se;, ;mas; ou ;talvez;;. Os resultados finais da apuração decretaram o controle absoluto dos tories (conservadores) no Parlamento, com a conquista de 365 de 650 assentos.
O tom conciliatório ficou expresso na promessa de recompensar aqueles cidadãos que votaram pela primeira vez nos conservadores. ;Tenho uma mensagem para todos aqueles que votaram em nós ontem (quinta-feira), especialmente aqueles que votaram em nós, conservadores, pela primeira vez. Você pode apenas ter nos emprestado seu voto e não se perceber como um Tory natural. Eu nunca serei tão grato como deveria. Eu farei de minha missão trabalhar noite e dia, para provar-lhes que vocês estão certos em votarem em mim desta vez e para merecer seu apoio no futuro;, disse Johnson. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, reconheceu que a eleição foi ;varrida; pelo Brexit e descartou abandonar o partido até a eleição de um substituto.
Divisão
Para Anthony Glees, professor emérito da Universidade de Buckingham (Reino Unido), a unidade apregoada por Johnson poderá existir ;por um tempo;. ;Mas, se você somar os votos para os partidos que apoiaram o Brexit, eles tiveram 47% de apoio, enquanto as legendas que avalizaram a permanência na UE ficaram com 53%. O Reino Unido segue dividido;, advertiu, em entrevista ao Correio. O especialista aposta que ;os opositores do Brexit se distanciarão, lamberão as próprias feridas e tentarão esquecer; o fiasco eleitoral. Ele lembra que os três anos e meio de debates sobre a saída do bloco levaram a opinião pública à exaustão. ;Trata-se de um divórcio, depois de 46 anos de casamento;, destacou.
Diretor do Centro para Política e Governo Britânicos e do Departamento de História e Política do King;s College London, Andrew Blick explicou à reportagem que o primeiro-ministro conseguiu sucesso eleitoral por meio da hábil exploração e do agravamento de um racha transversal da política britânica, aberto pelo referendo do Brexit, apesar de fundado em questões subjacentes. ;Como a divisão é a base para o sucesso político de Johnson, creio ser mais provável que ele busque mantê-la a encerrá-la.; Christopher Stafford, doutorando em ciência política e relações internacionais pela Universidade de Nottingham, não pensa dessa forma e aposta que o premiê precisará de lutar. ;Ele pode ter vencido a eleição, mas o eleitorado segue muito dividido sobre o divórcio da UE e sobre sua própria liderança. Johnson também fez promessas bastante ousadas, as quais poderá ter dificuldades para cumprir.;
Na opinião de Rob Dover, professor de inteligência e segurança nacional pela Universidade de Leicester (Reino Unido), a maioria conservadora estável de cerca de 40 depurados permitirá a Boris Johnson impulsionar todas as políticas que desejar pelos próximos cinco anos. ;É uma conquista impressionante, embora tenha sido erigida com a ajuda considerável da grande imprensa, com técnicas sofisticadas de mídias sociais e uma mensagem de campanha brutalmente simplista, focada em ;Get Brexit done; (;Faça o Brexit;);, disse ao Correio. Os tories elaboraram as mensagens desta eleição sobre dois temas: a saída da UE e se Corbyn representava uma ameaça à segurança nacional. ;O Partido Trabalhista nada teve de interessante para dizer sobre o Brexit e não conseguiu responder às críticas contra Corbyn. Pelo contrário, os trabalhistas constantemente apontaram falhas de caráter de Johnson, sem que a opinião pública se importasse;, avaliou Dover.
O discurso da vitória
; ;Eu francamente exorto todo mundo, de todos os lados, depois de três anos e meio, (;) eu exorto todos a encontrarem um desfecho e a deixar que a cura comece.;
; ;Essa eleição significa que concretizar o Brexit é agora a decisão irrefutável, irresistível e indiscutível do povo britânico. Com esta eleição, acabamos com todas aquelas ameaças miseráveis de um segundo referendo.;
; ;Nós teremos o Brexit feito até 31 de janeiro, sem ;se;, ;mas; ou ;talvez;. Deixando a União Europeia como um único Reino Unido; retomando o controle de nossas leis, fronteiras, dinheiro, nosso comércio, sistema de imigração; cumprindo com o mandato democrático do povo.;
; ;O Parlamento deve mudar para que nós, no Parlamento, trabalhemos para vocês, povo britânico.;
; ;Quero que as pessoas realizem seus preparativos para o Natal felizes e seguras, reconhecendo que aqui, neste governo do povo, o trabalho está sendo intensificado para tornar 2020 um ano de prosperidade e crescimento. Espero entregar um Parlamento que funcione para todos.;
; ;Vamos nos unir e subir de nível, trazendo, juntos, todo esse incrível Reino Unido ; Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte, juntas ;, nos levando adiante, liberando o potencial de todo o país, oferecendo oportunidades em toda a nação.;
Eu acho...
;O discurso de Boris Johnson teve o tom certo na hora certa. Ele deixa claro que cumprirá o mandato do Brexit, enquanto introduz necessariamente alguma conciliação. Se o premiê conseguir equilibrar os cortes de impostos com o reforço das economias das regiões de Midland e do Norte, buscará consolidar o controle desses eleitores nas próximas eleições, em 2025. A menos que a economia afunde como uma rocha depois do Brexit, Johnson será perfeitamente capaz de fazer isso, pois sua maioria no Parlamento lhe permite ser bem flexível em relação às alavancas políticas que ele puxar.;
Rob Dover,
professor de inteligência e segurança nacional pela Universidade de Leicester (Reino Unido)
Repercussão
Jair Bolsonaro,
presidente do Brasil
;Saúdo o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pela grande vitória. O Brasil e o Reino Unido compartilham um apreço pela autodeterminação e pela soberania. Estamos dispostos a trabalhar para fortalecer nossos relacionamentos na construção de uma amizade cada vez mais sólida e benéfica para nossos povos.;
Donald Trump,
presidente dos Estados Unidos
;Parabéns a Boris Johnson por sua grande vitória! A Grã-Bretanha e os EUA estarão agora livres para alcançar um novo acordo comercial enorme após o Brexit.
Angela Merkel,
chanceler da Alemanha
Além de parabenizar Johnson por sua ;clara vitória;, a chefe do governo alemão expressou o desejo de cooperar com o Reino Unido. ;Fico feliz em continuar nossa cooperação pela amizade e uma estreita parceria entre nossos dois países;, afirmou, em nota divulgada pelo porta-voz.
Emmanuel Macron,
presidente da França
;Meu desejo é que o Reino Unido continue sendo um país aliado, amigo e parceiro muito próximo. A condição para isso é definir as regras de um relacionamento leal (...) Não queremos que seja um concorrente injusto.;
Vladimir Putin,
presidente da Rússia
;Estou convencido de que o desenvolvimento de um diálogo construtivo e de uma plena cooperação em diferentes setores coincidirá com os interesses de nossos países e de todo o continente europeu.;
Benjamin Netanyahu,
premiê de Israel
;Parabéns ao meu amigo Boris Johnson por sua vitória histórica, que faz parte da onda em favor de fronteiras seguras, economia liberal e soberania.;
Mark Rutte,
premiê da Holanda
;O eleitorado britânico deu a (Boris Johnson) um mandato claro. Desejo uma cooperação construtiva. (;) Acho que são boas notícias. Se não, isso ainda nos ocupará por anos.;