postado em 15/12/2019 04:05
[FOTO1]A descoberta, em setembro, de vapor d;água em uma ;Super Terra;, planeta rochoso fora do Sistema Solar e com temperatura semelhante à terrestre, aumentou a esperança de, um dia, se encontrar alguma forma de vida no Universo. Porém, no maior estudo realizado até agora sobre a composição química das atmosferas dos exoplanetas, cientistas europeus constataram que, embora contenham moléculas de H2O, elas não são abundantes nesses outros mundos, o que pode, ao menos na teoria, ser um impedimento para a existência de formas extraterrestres. O artigo foi publicado na revista Astrophysical Journal Letters.
Liderados pela Universidade de Cambridge, os pesquisadores usaram dados atmosféricos de 19 exoplanetas para obter medições detalhadas de suas propriedades químicas e térmicas. Os planetas explorados variam bastante de tamanho: vão desde ;miniNetunos;, com quase 10 massas terrestres, a ;SuperJúpiteres;, que ultrapassam 600 vezes a massa da Terra. As temperaturas também são diversas: em alguns deles, a média é de 20;C; em outros, mais de 2 mil graus Celsius. Assim como nos gigantes que giram em torno do Sol, as atmosferas dos mundos estudados são ricas em hidrogênio, embora eles orbitem diferentes tipos de estrelas. Segundo o artigo, o levantamento ;revela tendências que desafiam as teorias atuais da formação de planetas e têm implicações para a busca de água fora do Sistema Solar;.
Os pesquisadores descobriram que o vapor d;água é comum na atmosfera de muitos exoplanetas. Contudo, as quantidades são surpreendentemente menores do que se esperava, ao mesmo tempo em que as de outros elementos parecem consistentes com as expectativas. O estudo faz parte de um programa de pesquisa de cinco anos sobre as composições químicas das atmosferas planetárias fora do Sistema Solar. ;Estamos vendo os primeiros sinais de padrões químicos em mundos extraterrestres e o quão diversos eles podem ser em termos de composição química;, diz o líder do projeto, Nikku Madhusudhan, do Instituto de Astronomia de Cambridge, que mediu, pela primeira vez, há cinco anos, a abundância de vapor d;água em exoplanetas gigantes.
No Sistema Solar, a quantidade de carbono em relação à de hidrogênio na atmosfera de planetas gigantes é significativamente maior que a do Sol. Pensa-se que essa abundância tenha se originado quando os planetas estavam sendo formados, e grandes quantidades de gelo, rochas e outras partículas foram trazidas para o planeta em um processo chamado de acréscimo. Os cientistas acreditam que a presença de outros elementos também seja alta em exoplanetas gigantes ; especialmente o oxigênio, que é o mais abundante no Universo, depois do hidrogênio e do hélio. Isso significa que também se espera que a água, rica em oxigênio, seja superabundante nas atmosferas desses mundos.
Os pesquisadores usaram dados espectroscópicos (que captam assinaturas moleculares) coletados por telescópios espaciais e terrestres, incluindo o Telescópio Espacial Hubble, o Telescópio Espacial Spitzer, o Very Large do Chile e o Gran Telescópio Canarias, na Espanha. A gama de observações disponíveis, com modelos computacionais detalhados, métodos estatísticos e propriedades atômicas de sódio e potássio, permitiu estimar as abundâncias químicas nas atmosferas de exoplanetas em toda a amostra.
Raridade
A equipe relatou a quantidade de vapor d;água em 14 dos 19 planetas, e a de sódio e potássio em seis planetas. Os resultados sugerem uma depleção de oxigênio em relação a outros elementos e fornecem pistas químicas sobre como esses exoplanetas podem ter se formado, sem acúmulo substancial de gelo. ;É incrível ver esses níveis baixos de água nas atmosferas de tantos tipos de planetas orbitando uma variedade de estrelas;, observa Madhusudhan. ;Medir a abundância desses produtos químicos em atmosferas exoplanetárias é algo extraordinário, considerando que ainda não conseguimos fazer o mesmo com planetas gigantes em nosso Sistema Solar, incluindo Júpiter, nosso vizinho gigante mais próximo;, diz Luis Welbanks, autor principal do estudo e aluno de doutorado do Instituto de Astronomia de Cambridge.
De acordo com Welbanks, vários esforços para medir a água na atmosfera de Júpiter, incluindo a atual missão Juno, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), se mostraram desafiadores. ;Como Júpiter é muito frio, qualquer vapor de água em sua atmosfera seria condensado, dificultando a medição. Se a água em Júpiter for considerada abundante, como previsto, isso implicaria que se formou de maneira diferente dos exoplanetas que examinamos no presente estudo.;
;Estamos ansiosos para aumentar o tamanho da amostra de exoplanetas em estudos futuros;, conta Madhusudhan. ;Nossos resultados mostram que diferentes elementos químicos não podem mais ser considerados igualmente abundantes em atmosferas planetárias, desafiando suposições em vários modelos teóricos. E, dado que a água é um ingrediente essencial para a nossa noção de habitabilidade na Terra, é importante saber quanto dela pode ser encontrado em sistemas planetários além do nosso.;
"Dado que a água é um ingrediente essencial para nossa noção de habitabilidade na Terra,
é importante saber quanto dela pode ser encontrado em sistemas planetários além do nosso;
é importante saber quanto dela pode ser encontrado em sistemas planetários além do nosso;
Nikku Madhusudhan,
líder do projeto e cientista do Instituto de Astronomia de Cambridge
Para saber mais
Para saber mais
Maior precisão
Como só se conhece por vida a que se tem na Terra, a busca por vizinhos no Universo precisa ser restrita ao que se chama de zona habitável: uma distância adequada da estrela que o planeta orbita, garantindo uma temperatura nem muito quente, nem muito fria, e propícia à existência de água líquida. ;Nós precisamos entender o ambiente espacial de um planeta para entender se ele é habitável. Se ele orbita uma estrela muito ativa, isso pode colocar em risco sua atmosfera, o que é necessário para fornecer água líquida. Mas há uma linha tênue: há indicação de que a radiação de uma estrela pode produzir os blocos construtores de vida;, conta a astrofísica Katherine Garcia-Sage, do Centro de Voos Espaciais Goddad, da Nasa.
Embora instrumentos muito mais poderosos que o supertelescópio espacial Kepler, aposentado no ano passado, estejam a caminho, por enquanto não há como fazer a análise direta da possibilidade de um exoplaneta ser habitável. Por isso, os cientistas precisam lançar mão de diversos métodos para tentar identificá-los. Um deles é a construção de modelos computacionais que simulam a aparência de um astro com potencial de conter vida, e a forma como ele interage com sua estrela.
A partir de 2020, quando equipamentos mais sofisticados, como o telescópio Wfirst, da Nasa, deverão entrar em ação, a expectativa é de que se obtenha mais detalhes ; com grande precisão ; desses planetas. O instrumento, idealizado para uma missão de seis anos, será capaz de detectar assinaturas de oxigênio e vapor d;água, entre outras indicações de vida em potencial. Será possível, então, desenvolver modelos mais complexos. Atualmente, essa detecção não é feita diretamente, mas por meio de espectrômetro de massa, um equipamento que faz essas inferências, mas é localizado na Terra. (PO)