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Cresce o movimento contra controvertida lei de cidadania na Índia

O movimento protesta contra a chamada Lei de Emenda da Cidadania (CAB), que facilitará o acesso à nacionalidade de migrantes de países vizinhos

Agência France-Presse
postado em 16/12/2019 10:27
[FOTO1]No dia seguinte aos tumultos em uma universidade em Nova Délhi, o movimento de protesto contra uma lei de cidadania, considerada antimuçulmana por seus detratores, intensificou-se nesta segunda-feira (16/12) na Índia, um desafio para o governo de Narendra Modi.

Essa lei foi aprovada na semana passada facilita a atribuição da cidadania indiana a refugiados do Afeganistão, Bangladesh e Paquistão, mas com a condição de que eles não sejam muçulmanos.

Para a maioria dos críticos, este texto responde à vontade do poder nacionalista hindu de marginalizar a minoria muçulmana no país de 1,3 bilhão de habitantes.

No nordeste da Índia, berço do movimento e onde seis pessoas já morreram, os manifestantes se opõem a essa lei, argumentando que isso causará um fluxo de refugiados hindus da fronteira de Bangladesh para sua região, onde já existe um frágil equilíbrio intercomunitário.

O movimento protesta contra a chamada Lei de Emenda da Cidadania (CAB), que facilitará o acesso à nacionalidade de migrantes de países vizinhos.

Os grupos islâmicos, partidos da oposição e organizações de direitos civis consideram a nova lei como mais um passo na agenda nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi para marginalizar os 200 milhões de muçulmanos do país.

Nesta segunda, um dia após violentos distúrbios entre manifestantes e policiais em uma universidade da capital, novos protestos foram realizados em Nova Délhi, Chennai, Bangalore e Lucknow.

Na última cidade, centenas de estudantes muçulmanos atiraram pedras contra a polícia que se protegia atrás de um muro, segundo imagens transmitidas pela televisão.

O primeiro-ministro Modi denunciou no Twitter os "grupos com interesses ocultos que buscam semear a divisão" e disse que a nova lei reflete "a cultura multissecular de aceitação, harmonia, compaixão e fraternidade da Índia".

Em Calcutá, capital do estado de Bengala Ocidental, milhares de pessoas participaram de uma grande marcha convocada pela chefe da executiva local Mamata Banerjee (oposição).

[SAIBAMAIS]Em Kerala (sul), também controlada pela oposição, várias centenas de pessoas se concentraram para protestar.

O opositor Rahul Gandhi, cujo Partido do Congresso perde para os nacionalistas hindus nas pesquisas, chamou a lei de "arma de polarização em massa lançada por fascistas na Índia".

Cenas de caos

No domingo, manifestantes e policiais entraram em confronto violento na Universidade de Jamia Millia Islamia, em Nova Délhi, deixando seis mortos, quatro por disparos policiais, em meio a cenas de caos.

As autoridades mantêm o corte da internet e o toque de recolher em algumas áreas da região.

O epicentro das tensões é Guwahati, a maior cidade do estado de Assam.

Cerca de 5 mil pessoas participaram das manifestações, sob o olhar atento de centenas de policiais.

O chefe do governo do estado, Mamata Banerjee, que criticou o governo por promover a lei, suspendeu a internet em vários distritos.

Os manifestantes queimaram pneus, cortaram estradas e trilhos de trem e queimaram trens e ônibus, forçando a interrupção do serviço em algumas áreas.

O ministro do Interior da Índia, Amit Shah, pediu calma e disse que a cultura dos estados do nordeste não está ameaçada.

"A cultura, a linguagem, a identidade social e os direitos políticos de nossos irmãos e irmãs no nordeste permanecerão intactos", afirmou Shah em uma manifestação no estado de Jharkhand, no leste, segundo a rede de televisão News18.

Várias organizações e um partido muçulmano levaram a lei ao Supremo Tribunal, justificando que ela é contrária à Constituição indiana e às suas tradições seculares.

O nordeste pobre da Índia, um mosaico de povos e grupos étnicos, é uma região onde há confrontos frequentes entre comunidades.

A imigração é uma questão muito sensível para as comunidades originárias, principalmente devido à proximidade de Bangladesh.

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