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Pressão sobre o Senado

Um dia depois de se tornar o terceiro presidente da história americana alvo de processo de impeachment, Trump inicia as articulações políticas para apressar o julgamento e ataca a presidente da Câmara dos Representantes que ameaça retardar o envio das acusações

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 20/12/2019 04:06
Trump (direita) aperta as mãos de Jeff Van Drew, deputado que votou contra o impeachment e está deixando o Democratas para se tornar republicano

De um lado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer pressa. De outro, a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, mostra-se disposta a retardar o máximo possível a votação do processo de impeachment no Senado. A democrata indicou ontem que pode adiar o envio das acusações contra o presidente por considerar que não há sinais de que haverá um julgamento ;justo e bipartidário; na Casa.

;Tomaremos a decisão sobre quando iremos enviá-los quando virmos o que eles estão fazendo no Senado. Até agora, não vimos nada que pareça justo para nós;, disse Pelosi, horas depois da sessão que tornou Trump o terceiro líder norte-americano a ser alvo de um processo político. A resposta do chefe da Casa Branca não demorou. ;Pelosi sente que seu falso impeachment é tão patético que ela tem medo de apresentá-lo ao Senado, que pode definir uma data e colocar todo esse esquema fraudulento abaixo se eles (democratas) se recusarem a aparecer;, tuitou o presidente.

Trump tem motivos para pressa, embora esteja tendo lucros políticos com todo o processo. Tudo conspira favoravelmente ao presidente no Senado, onde os republicanos são maioria, ocupando 53 dos 100 assentos. São necessários pelo menos 67 votos para tirá-lo da Casa Branca, algo impensável. Mas ele quer a absolvição logo para mergulhar na campanha à reeleição.

;Ontem (quarta-feira) à noite, fui levado a um julgamento político sem nenhum voto republicano contra;, apontou Trump, convicto de que o processo vai estimular suas bases políticas. A emissora Fox News noticiou que o Partido Republicano teve um recorde de arrecadação em novembro, num valor superior a US$ 20 milhões.

Líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, classificou como nocivo o processo na Câmara. ;O voto (de quarta-feira) não refletiu o que foi provado. Apenas mostra como eles (deputados) se sentem sobre o presidente. O Senado precisa corrigir isso. Essa Câmara em particular deixou seu ódio partidário contra o presidente criar um novo e tóxico precedente, algo que irá ecoar no futuro;, observou.

O líder da minoria democrata do Senado, Chuck Schumer, usou as palavras de McConnell contra o republicano e rebateu as declarações, alegando que ele está programando o julgamento político ;mais rápido, menos exaustivo e mais injusto da história moderna;.

Schumer disse ainda que McConnell está impedindo que os democratas convoquem depoentes. ;As testemunhas que sugerimos são altos funcionários de Trump;, contou. ;Não são democratas;, completou, questionando o líder da maioria sobre seu medo em relação a convocações. ;Seria porque o presidente é tão frágil que nenhum dos homens do presidente pode se defender sob juramento?;, insistiu.



Adesão

Com o apoio maciço de seus correligionários, Trump teve ainda na Câmara o apoio de três deputados democratas, que disseram não ao processo de impeachment. Um deles, Jeff Van Drew, representante do estado de Nova Jersey, foi ao encontro do presidente na Casa Branca e anunciou que está de mudança de partido. ;Jeff se unirá ao Partido Republicano (...) É uma grande notícia;, declarou Trump, na Sala Oval, acrescentando: ;Estamos muito contentes por termos Jeff conosco;.

Sentado ao lado do presidente, o parlamentar democrata garantiu ;apoio eterno; a ele. ;Creio que simplesmente é o mais correto para mim;, declarou Van Drew sobre a troca de lado político.Van Drew, de 66 anos, foi eleito como congressista em 2018 em um distrito que, desde 1995, era representado por um republicano.

Donald Trump é acusado pelos democratas de usar seu poder presidencial para pressionar a Ucrânia, suspendendo temporariamente o envio de US$ 391 milhões de dólares em ajuda militar para o país que enfrenta um conflito com separatistas pró-russos no leste. A Casa Branca se negou a cooperar com a investigação na Câmara baixa, classificando-a de ;inconstitucional; e proibiu vários de seus assessores de prestar depoimento no Congresso.

Por esse motivo, Trump foi denunciado tanto por ter abusado de seu poder para benefício pessoal quanto por obstrução do trabalho do Congresso. Desde o início das investigações, o magnata republicano denunciou uma ;caça às bruxas;. Ontem, acusou seus adversários de tentarem submetê-lo a um julgamento ;desde antes; de se candidatar à Casa Branca, em 2016.

"Tomaremos a decisão sobre quando iremos enviá-las (as acusações) quando virmos o que eles estão fazendo no Senado. Até agora, não vimos nada que pareça justo para nós;
Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA

Acordo aprovado

Com os votos de 385 deputados, a Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou, ontem, o novo acordo comercial americano (USMCA, na sigla em inglês), considerado um passo crucial para a ratificação do pacto que substituirá o Nafta. Para concluir o processo, o projeto de lei para implementar o Acordo entre Estados Unidos, México e Canadá ainda deve ser aprovado pelo Senado.

Lá, o líder da maioria republicana, Mitch McConnell, disse que o texto terá de esperar até 2020, quando terminar o julgamento político de Trump, previsto para janeiro. Na Câmara, controlada pela oposição democrata, a proposta recebeu amplo apoio bipartidário: foram 41 votos contrários.

A ratificação do USMCA marcará uma importante vitória política para Donald Trump, que classifica o Nafta (Acordo de Livre-Comércio da América do Norte), em vigor desde 1994, como ;o pior acordo comercial da história;.

O republicano vinha pressionando pela revisão do Nafta desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2017. O presidente sempre atribuiu a esse acordo a perda de milhões de empregos nas fábricas dos EUA para o México, onde os salários pagos aos trabalhadores são mais baixos.

O USMCA foi assinado, inicialmente, em 30 de novembro de 2018, e ratificado pelo México em junho deste ano. A validação do acordo pelo Congresso dos Estados Unidos se complicou, no entanto, porque os representantes (deputados) democratas exigiram dispositivos para evitar a concorrência desleal com os trabalhadores americanos.

Reformulado, o texto incluiu dispositivos que fortalecem as leis trabalhistas nos países da América do Norte. O novo acordo, considerado mais restrito do que o Nafta, tem duração definida de 16 anos. Passados seis anos de vigência, poderá ser renovado por um período maior.

Após meses de negociações, foram acertadas emendas e um novo protocolo do USMCA acabou selado no último dia 10, na Cidade do México, por representantes do Executivo dos três países. A versão final do USMCA foi ratificada pelo Senado mexicano na semana passada. Por sua vez, o Canadá informou que firmará o novo pacto logo depois de Washington finalizar o processo.



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