postado em 21/12/2019 04:05
Passados 10 dias da aprovação da nova lei de cidadania, considerada discriminatória por não incluir refugiados muçulmanos como possíveis beneficiados, a situação na Índia está longe da normalidade. Ontem, várias regiões do país foram novamente cenário de protestos e de embates entre forças de segurança e manifestantes. Seis pessoas morreram, elevando para 15 o número de óbitos desde o início das manifestações.
Os confrontos de ontem foram mais significativos em Lucknow, capital do estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia, onde várias centenas de pessoas foram presas quando participavam de uma marcha. Em muitas regiões do país de 1,3 bilhão de habitantes, os atos são proibidos.
A polícia reforçou o policiamento e instalou dispositivos de segurança em frente a inúmeras mesquitas por medo de incidentes na sexta-feira, quando é realizada a tradicional oração muçulmana semanal. Em várias cidades, foram decretados toques de recolher.
Numa medida extrema, as autoridades cortaram o acesso à internet móvel em várias regiões, inclusive em áreas da capital, Nova Délhi. Essas são as manifestações mais importantes desde a chegada ao poder do governo nacionalista hindu do primeiro-ministro Narendra Modi, em 2014.
A lei que desencadeou os protestos concede cidadania aos refugiados do Afeganistão, Paquistão e Bangladesh, mas apenas se eles não praticarem o islamismo. Os críticos consideram isso discriminatório e contrário à Constituição indiana. Por isso, recorreram à Justiça contra a nova legislação.
Em Nova Délhi, a situação era especialmente tensa ontem no bairro de maioria muçulmana de Old Delhi. Apesar da proibição de manifestação, cerca de 5 mil pessoas se reuniram na saída da oração na grande mesquita Jama Masjid, sob observação de numerosos policiais.
Alguns manifestantes carregavam uma enorme bandeira indiana de 30 metros de comprimento e gritavam ;liberdade, liberdade!”. Como no início da semana, estudantes foram alvo de policiais, que usaram porretes de madeiras para reprimir os protestos. Muitos foram parar no hospitais, alguns com fraturas graves.
Críticas
Em um editorial muito crítico ao governo, o jornal The Indian Express pediu, na edição de ontem, que tudo seja feito para assegurar a preservação da paz no país, onde os muçulmanos representam 14% da população ; aproximadamente 200 milhões de habitantes. ;A maior democracia do mundo não parece capaz de aceitar jovens que discordam do poder. A Índia corre um alto risco se começar a ser vista como um lugar onde os dissidentes sentem medo;, afirmou o jornal.
Na véspera, a ONG Anistia Internacional (AI) pediu às autoridades indianas que ;cessem a repressão contra manifestantes pacíficos que protestam contra uma lei discriminatória;. Segundo um médico que não quis se identificar, um manifestante foi morto por ferimentos à bala em Lucknow. A polícia negou os disparos, mas o pai da vítima disse ao jornal Times of India que seu filho havia sido baleado ao passar pelo meio de uma manifestação quando fazia compras. Além disso, 16 policiais ficaram feridos na cidade.
No mesmo dia, as forças de segurança também dispararam contra a multidão em Mangalore (sul) para dispersar uma manifestação de cerca de 200 pessoas. Dois manifestantes morreram e quatro foram hospitalizados em razão de disparos.
14%
Parcela da população indiana que é muçulmana, o equivalente a cerca de 200 milhões de pessoas