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Bactérias podem proteger o fígado

Em ratos, micro-organismo restaura equilíbrio da flora intestinal quando há ingestão de álcool em exceso e ameniza lesões hepáticas causada pela droga. Cientistas americanos apostam em ação similar em humanos

Correio Braziliense
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postado em 21/12/2019 04:05
Nos últimos anos, vários pesquisadores têm se dedicado a entender melhor como as bactérias que povoam o organismo podem ajudar a evitar e também combater doenças. Com esse objetivo, cientistas internacionais testaram o uso de um tipo de bactéria promissora para tratar danos causados ao fígado pelo consumo de álcool. Em testes com ratos, os investigadores descobriram que o efeito probiótico do micro-organismo ajudou a evitar efeitos prejudiciais. A descoberta, apresentada no Journal of Medicinal Food, pode abrir as portas para novos tratamentos.

Os autores do estudo explicam que, à medida que as ações de bactérias probióticas vão sendo desvendadas, uma série de aplicações na área médica pode surgir. ;Recentemente, elas têm sido usadas como uma espécie de micróbios funcionais, porque têm boas funções fisiológicas e bioquímicas para os seres humanos. Alguns pesquisadores demonstraram que os probióticos podem atenuar efetivamente a lesão hepática alcoólica;, frisam os autores do estudo, liderados por Yuhua Wanga, pesquisador da Universidade Agrícola de Jilin, na China.

No trabalho, Wanga e sua equipe resolveram testar a eficácia da bactéria Lactobacillus rhamnosus GG (LGG), que se mostrou promissora em testes laboratoriais. ;Até agora, a patogênese exata da doença hepática alcoólica não está clara. Acredita-se que o consumo excessivo e prolongado de álcool altere a diversidade microbiana intestinal, entre outros fatores. Anteriormente, demonstramos que o Lactobacillus rhamnosus GG tem potencial para tratar lesões hepáticas alcoólicas;, detalham.

No experimento, os cientistas deram álcool para ratos por oito semanas. Os animais também foram alimentados com grânulos de LGG nas últimas duas semanas, em doses variadas (baixa, média e alta), quando também seguiram uma dieta rica em gordura. Os pesquisadores perceberam que a administração do micro-organismo melhorou a lesão hepática induzida por álcool, independentemente da quantidade de bactéria ingerida, reduzindo, dessa forma, o acúmulo de gordura e a resposta inflamatória no fígado.

O efeito probiótico do LGG restaurou o equilíbrio do microbioma. ;O tratamento bloqueou o aumento das lesões provocadas pela ingestão de álcool ao diminuir a produção de citocinas inflamatórias induzidas pela substância. Essas tendências atenuantes foram mais óbvias no grupo que recebeu doses mais altas de LGG, mas todos os animais obtiveram melhoras;, destacam os autores.

Novas terapias

Os pesquisadores ressaltam que mais investigações precisam ser feitas, mas acreditam que as descobertas podem contribuir para o desenvolvimento de novas terapias para a lesão hepática alcoólica. ;Essa demonstração do impacto de uma intervenção probiótica que corrige o desequilíbrio da microbiota induzida por álcool e, dessa forma, reduz a inflamação do fígado e o acúmulo de gordura tem um potencial empolgante na prevenção e no tratamento de doenças hepáticas induzidas por álcool e também de doenças hepáticas gordurosas não alcoólicas;, afirma, em comunicado, Michael Zemel, professor na Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.

Adriano Moraes, hepatologista do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, acredita que o trabalho internacional mostra dados interessantes, que acompanham uma série de pesquisas feitas com o mesmo objetivo. ;Temos vários estudos que demonstram a importância da microbiota intestinal para o organismo como um mecanismo protetor e anti-inflamatório. Esse estudo é um dos trabalhos recentes que reforçam o potencial de interferir nessas bactérias;, diz.

Segundo o especialista, pesquisadores brasileiros têm constatado dados relativos à microbiota que podem ajudar no tratamento de problemas crônicos. ;Já temos especialistas usando a ingestão desses bacilos para ajudar em tratamentos, mas precisamos ressaltar que eles servem como auxiliares e que precisam ser indicados por médicos. Acredito que, com a evolução do estudo, isso pode ser feito nesse caso também. Mas a análise ainda precisa ser feita com humanos, para ter dados mais consistentes;, pondera.

"(A pesquisa) tem um potencial empolgante na prevenção e no tratamento de doenças hepáticas induzidas por álcool e também de doenças hepáticas gordurosas não alcoólicas;
Michael Zemel, professor na Universidade do Tennessee e um dos autores do estudo

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