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Após crise e manifestações, primeiro-ministro indiano rebate críticas

Num discurso a milhares de apoiadores, em Nova Délhi, o primeiro-ministro nacionalista defende a polêmica lei de cidadania, alvo de protestos por todo o país. Segundo ele, não há discriminação em relação aos muçulmanos

postado em 23/12/2019 06:00
Diante de protestos que se multiplicam pelo país nos últimos 11 dias, com confrontos violentos que deixaram pelo menos 25 mortos, o primeiro-ministro nacionalista da Índia, Narendra Modi, fez neste domingo (22/12) um discurso em defesa da polêmica lei de cidadania, que exclui praticantes do islamismo. Ao rebater as críticas dos que consideram a legislação discriminatória, Modi tentou tranquilizar os muçulmanos, ao mesmo tempo em que atacou seus adversários políticos, acusando-os de ;espalhar mentiras;.

Em discurso a milhares de apoiadores, em Nova Délhi, que tem sido palco de significativas mobilizações, com grande repressão policial, Modi sinalizou que não pretende voltar atrás na lei. Os críticos a consideram discriminatória e contrária à Constituição indiana.

;Respeitem o Parlamento! Respeite a Constituição!”, ressaltou o primeiro-ministro, lançando um desafio aos que ;estão espalhando mentiras; para que demonstrem ;um cheiro de discriminação em qualquer coisa que eu tenha feito;. A oposição afirma que a nova lei faz parte de uma vontade do poder nacionalista hindu de marginalizar os cerca de 200 milhões de muçulmanos do país.

O premiê assegurou que o objetivo da nova lei é apenas estender a cidadania a minorias religiosas que fogem da perseguição em três países de maioria muçulmana: Afeganistão, Bangladesh e Paquistão. Assinalou ainda que ela não será usada contra cidadãos indianos.

;(A lei) não tem nada a ver com os muçulmanos que são filhos do solo indiano e cujos ancestrais são filhos de nossa pátria-mãe Índia;, garantiu Modi, acrescentando: ;A lei não afeta 1,3 bilhão de indianos, e devo garantir aos cidadãos muçulmanos da Índia que não mudará nada para eles;.

Isenção

Os críticos da lei, porém, temem que o governo possa usá-la em conjunto com outras medidas adotadas pelo governo para atingir os praticantes do islamismo. Narendra Modi enfatizou no discurso que seu governo não realiza ações de governo norteados por questões religiosas. ;Nunca perguntamos a ninguém se eles vão a um templo ou mesquita quando se trata de implementar esquemas de assistência social;, reforçou.

Se, de um lado, Modi se mostrou conciliador, de outro, foi bastante duro ao falar das manifestações que se espalham pela Índia e que, segundo ele, são alimentadas por seus inimigos políticos com o objetivo de destruir o governo. E classificou o uso de pedras nas manifestações como uma traição à Índia. ;Quando vejo tijolos e paus nas mãos dos manifestantes, sinto dor, assim como o resto da Índia.;

Esse é considerado um momento crucial para o governo de Modi, que não havia experimentado, em seus cinco anos de governo, uma mobilização social tão representativa. No início restrita ao norte da Índia, a mobilização foi avançando e chegou a todas as regiões do país. Em muitas cidades, as autoridades proibiram as manifestações. Em algumas localidades, o acesso à internet foi cortado, inclusive na capital, Nova Délhi.

Em um único dia, na sexta-feira, foram registradas no estado de Uttar Pradesh, no norte do país, 15 mortes, incluindo a de um menino de 8 anos. Em meio ao clima cada vez mais elevado de tensão no país, o jornal The Indian Express pediu, em editorial, que o governo de Modi faça todo o possível ;para preservar a paz; no país.

;A maior democracia do mundo não pode parecer incapaz de aceitar os jovens que estão em desacordo com o poder (...) a Índia corre um alto risco se começar a ser vista como um lugar onde os dissidentes sentem medo;, afirmou o jornal.

A Anistia Internacional pediu o fim da repressão contra os manifestantes. Neste domingo (22/12), em Bangalore, os protestos contra a lei de cidadania incluíram apelos às forças de segurança para que evitassem ações violentas.

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