Belém, Territórios palestinos ; O papa Francisco defendeu, nesta terça-feira (24/12), durante a missa de Natal o amor "incondicional" e "gratuito" ao próximo, inclusive diante das piores condutas como condição essencial para mudar o mundo e conquistar a paz.
"O Natal nos lembra que Deus continua amando cada homem, inclusive o pior", afirmou o papa argentino diante de milhares de fiéis reunidos na basílica de São Pedro para a missa do Galo, que celebra o nascimento de Jesus. "Seu amor é incondicional" mesmo se "tiver ideias equivocadas", explicou o papa. "Ainda em nossos pecados continua nos amando. Seu amor não muda, não é exigente; é fiel, é paciente", acrescentou.
A missa de Natal celebra o nascimento de Jesus em Belém, segundo a tradição cristã. Embora nenhum texto do Novo Testamento indica o dia e a hora do nascimento, sua comemoração em 25 de dezembro foi escolhida no século IV, o que permitiu que a circuncisão de Jesus coincidisse com o dia 1 de janeiro.
Da Cidade do Vaticano, Francisco também pediu aos católicos que sigam seu exemplo e não esqueçam o sentimento de "gratidão", o "saber agradecer", porque "é a melhor maneira de mudar o mundo". Em território palestino, cristãos de todo o mundo se reuniram nesta terça-feira na Basílica da Natividade, em Belém, onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu.
Em um ambiente calmo e festivo, palestinos e estrangeiros lotavam gradualmente o centro desta pequena cidade, localizada na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel há mais de 50 anos. Nos portões da Basílica, uma longa fila de fiéis crescia à medida que a manhã avançava.
Todos desejam passar alguns segundos no local onde se acredita que Jesus nasceu, uma pequena gruta que é acessada por uma escada estreita, localizada atrás do altar da igreja. Ola veio da Nigéria e está emocionada em poder passar o Natal em um lugar tão especial. Diante dela, várias dezenas de crianças palestinas vestidas de azul, amarelo e branco, desfilam tocando gaitas e tambores.
Pierbattista Pizzaballa, administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, chegará a Belém pela manhã, onde celebrará a missa do galo na Igreja de Santa Catalina, ao lado da Basílica da Natividade. Espera-se também que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, participe desta missa.
Este ano, os fiéis também podem contemplar uma pequena relíquia que acaba de voltar a Belém do Vaticano: um fragmento do que se acredita ser a manjedoura de Jesus que esteve longe da Terra Santa por mais de 1.300 anos. "É importante porque faz parte da estrutura de madeira do presépio original de Belém. Essa estrutura de madeira deixou a Terra Santa por volta do ano 640", segundo o Custódio da Terra Santa, Francesco Patton.
Poucos cristão de Gaza
Em Belém, haverá milhares de estrangeiros, mas poucos cristãos da Faixa de Gaza, já que Israel concedeu poucas permissões de viagem. Qualquer palestino que deseje sair de Gaza para ir à Cisjordânia, ambos territórios palestinos, deve atravessar Israel e obter uma permissão previamente emitida pelas autoridades israelenses.
Cerca de 200 pessoas foram autorizadas a deixar a Faixa de Gaza, de um total de 950 solicitações, segundo Wadi Abu Nasar, porta-voz das Igrejas da Terra Santa. Mas o Natal, diz esse cristão, deve continuar sendo um tempo de esperança. "A Terra Santa não é apenas o local de nascimento e crucificação (de Jesus), é também o local da ressurreição", disse ele à AFP.
"Apesar de todos os desafios, dificuldades, dores e problemas que enfrentamos, temos esperança em Deus e nas pessoas", acrescentou. A festa de Natal costuma ser tensa em Belém devido ao conflito entre israelenses e palestinos.
Em 2017, a decisão dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel provocou manifestações quase diárias nos territórios palestinos. Também em Belém, uma cidade tradicionalmente ligada a Jerusalém, localizada a apenas 10 km de distância, mas separada por um muro construído por Israel há 15 anos.
Em 2015, uma onda de violência anti-Israel alterou as festas de fim de ano. Em três meses, 150 pessoas, a maioria palestinas, morreram em Israel e nos territórios palestinos. Este ano, Belém está recebendo um número significativo de turistas devido à relativa calma no conflito. O ministro do Turismo palestino, Rula Mayaa, explicou que 3,5 milhões de pessoas visitaram Belém este ano.