Agência France-Presse
postado em 30/12/2019 17:22
A Bolívia decidiu nesta segunda-feira pela expulsão de diplomatas do México e da Espanha, após a polêmica visita do final de semana do pessoal espanhol à embaixada mexicana, onde os ex-ministros de Evo Morales são asilados, desencadeando uma medida de expulsão recíproca de funcionários bolivianos por parte de Madri.
A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, anunciou que o país vai expulsar a embaixadora do México, a encarregada de Negócios e o cônsul da Espanha.
A medida foi respondida pela Espanha, que declarou três diplomatas bolivianos "persona non grata", em uma escalada da crise diplomática.
"O governo constitucional que eu presido decidiu declarar ;personas non gratas; a embaixadora do México na Bolívia, María Teresa Mercado, a encarregada de Negócios da Espanha na Bolívia, Cristina Borreguero, o cônsul Álvaro Fernández e o grupo de supostos diplomas com capuzes e armados", disse Áñez em declaração à imprensa.
A chefe de Estado acusou os diplomatas de terem "lesionado gravemente a soberania e a dignidade do povo e do governo constitucional da Bolívia" e ordenou que eles "deixem o país em um prazo de 72 horas".
Madri respondeu à medida expulsando três diplomatas bolivianos, também declarados "persona non grata".
"Em reciprocidade ao gesto hostil do governo interino da Bolívia (...), a Espanha decidiu, por sua vez, declarar três membros da equipe diplomática e consular boliviana credenciados em nosso país e dar a eles 72 horas para deixar a Espanha", disse um comunicado oficial na capital espanhola.
Na embaixada do México em La Paz, estão asilados nove ou dez funcionários do ex-presidente Morales, após sua renúncia em 10 de novembro passado.
Entre os asilados estão os ex-ministros Juan Ramón Quintana e Wilma Alanoca, com ordens de prisão e outros sob investigação fiscal. Todos estão denunciados por delitos de sedição e terrorismo, enquanto La Paz disse que vai lhe conceder salvo-condutos para que deixem o país.
Segundo o governo boliviano, o chefe de negócios e o cônsul chegaram à embaixada mexicana com agentes de segurança "encapuzados e supostamente armados", com o objetivo de evacuar o ex-ministro Juan Ramón Quintana, o braço direito de Morales desde que chegou ao poder em 2006.
A chanceler Karen Longaric esclareceu nesta segunda-feira que as expulsões "não implicam de forma alguma uma ruptura de relações diplomáticas", mas que agora os dois países devem nomear novos funcionários.
México denuncia decisão política
Após a expulsão de sua embaixadora Mercado, o México denunciou uma decisão de "caráter político" e informou que instruiu-a a voltar a seu país.
O México denunciou que sua residência sofre "assédio" e exigiu o fim dele, além de informar que um sucessor assumirá temporariamente o cargo e que os escritórios diplomáticos funcionarão normalmente.
O governo López Obrador havia aberto na semana passada a possibilidade de diálogo com a Bolívia, para tentar resolver os incidentes, mas as iniciativas não foram além das declarações bilaterais de boas intenções.
A residência mexicana continuou sob forte vigilância policial nesta segunda-feira.
A Espanha informou que enviará uma missão de investigação à Bolívia. Madri negou "veementemente" que a visita fosse para "facilitar a saída" dos funcionários de Morales e que, de qualquer forma, era uma visita "cortesia exclusiva".