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Especialistas apontam os desafios de Trump para se reeleger em 2020

Analistas ouvidos pelo Correio preveem um ano complicado para o presidente americano, que enfrenta um processo de impeachment

Correio Braziliense
postado em 01/01/2020 07:00
Donald TrumpDepois de se tornar o terceiro presidente norte-americano na história a enfrentar um processo de impeachment, Donald Trump provavelmente terá um 2020 atribulado. No primeiro semestre, o republicano será submetido ao julgamento no Senado, de maioria governista.

Tudo indica que será poupado de uma remoção do cargo. Os danos à reputação de chefe de Estado, no entanto, deverão se estender ao longo de anos ou décadas. A política externa promete desafios não menos complicados, especialmente no Oriente Médio e na diplomacia ineficiente com a Coreia do Norte. Os desempenhos no front internacional e na economia serão decisivos para as pretensões  do magnata nas eleições presidenciais de 3 de novembro.

Para especialistas, a votação ocorrerá à sombra da interferência russa no pleito de 2016, um escândalo do qual Trump escapou incólume. A impunidade é vista como estímulo para Moscou tornar a influenciar os resultados das urnas em favor do presidente.

Historiador político da American University (em Washington) e o único estudioso a prever o impeachment de Trump logo no início do governo, Allan Lichtman acredita que 2020 será “um ano muito difícil” para o republicano. “Ele se tornará o primeiro presidente da história dos EUA a encarar uma reeleição sob a nuvem do impeachment.

Se o Senado o absolver sem interrogar as mais importantes testemunhas — o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e o chefe de gabinete, Mic Mulvaney —, não haverá uma isenção real de culpa”, advertiu ao Correio. “Além disso, Trump enfrenta grandes obstáculos na política externa, especialmente na Síria, no Iraque, no Irã e na Coreia do Norte. A devastação das mudanças climáticas também deverá se agravar em 2020”, acrescentou.

Lichtman explica que a taxa de popularidade de Trump se estabilizou abaixo dos 40 pontos percentuais, depois de experimentar um breve aumento. “Com base em um sistema de previsão desenvolvido por mim e exposto em meu livro intitulado The keys to the White House (‘As chaves para a Casa Branca’), a eleição permanece apertada demais, no momento, para apostar em uma vitória de Trump”, disse.

De acordo com ele, o impeachment é uma mácula obscura para qualquer chefe de Estado. “Os dois ex-presidentes impugnados (Andew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998) e Richard Nixon, que renunciou para evitar o impeachment, não disputaram a eleição seguinte, e seus partidos acabaram derrotados. No caso de Clinton, os democratas perderam o pleito de 2000, o qual deveriam ter ganhado facilmente em um tempo de paz, prosperidade e tranquilidade nos cenários doméstico e externo.”

Economia

Michael Gerhardt, professor de direito constitucional da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, concorda que 2020 será “um ano agitado” para Trump. “Ele começará com um julgamento de impeachment no Senado e incluirá as eleições de novembro. O presidente tentará dominar os holofotes com seus ataques divisivos e combativos contra a mídia, os adversários e os críticos”, disse ao Correio.

Uma das testemunhas a depor no Comitê Judiciário da Câmara dos Representantes, a convite dos democratas, Gerhardt aposta que a economia ajudará Trump politicamente, mas faz uma ressalva: “Não sabemos ainda o quanto as pessoas se tornaram cansadas de sua capacidade de provocar divisão e de sua grosseria, a ponto de isso custar sua reeleição”. Ele entende que a reputação do republicano está danificada pelas revelações relacionadas à sua má conduta. “Quanto mais tempo o julgamento político se arrastar, mais danos deverá causar na paciência e no apoio dos eleitores independentes.”

Para James Naylor Green, historiador especializado em estudos latino-americanos e brasilianista pela Brown University (em Rhode Island), o primeira tema com o qual Trump deve se preocupar é se quatro senadores republicanos concordarão em mudar os planos do colega Mitch McConnell de realizar um julgamento muito rápido no Senado, permitindo serem testemunhas.

“Acho que McConnell não permitirá que isso ocorra. No entanto, se alguns republicanos romperem fileiras em relação a questões processuais, Trump fará todo o possível para desacreditar as evidências e as testemunhas. Mesmo que outras informações nocivas ao presidente sejam divulgadas nas próximas semanas, os republicanos, em bloco, votarão para não afastá-lo do cargo”, afirmou à reportagem.

O especialista não duvida que Trump agirá de forma tresloucada, encorajando sua base e aumentando a oposição a ele. Green acredita que isso energizará os democratas e outros eleitores que odeiam o republicano. “O resultado final dependerá se o candidato democrata terá ou não a habilidade de unificar o partido e mobilizar a própria base e os eleitores independentes a votarem em novembro. Green explica que o futuro de Trump será decidido na capacidade de os democratas convencerem sua base e as mulheres brancas dos subúrbios de Pensilvânia, Ohio, Wisconsin e Michigan a votarem contra o líder.

O que especialistas preveem para Trump

Interferência a caminho
“A Rússia certamente tentará intervir nas eleições de 2020, em favor de Donald Trump. Os russos não sofreram consequências por sua interferência no pleito de 2016, pela qual Trump lhes deu um passe. O presidente republicano também indicou, por meio de palavras e de ações, que, assim como em 2016, ele saudaria uma interferência de Moscou que o ajudasse a vencer novamente.”

Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington) e autor de The keys to the White House (“As chaves para a Casa Branca”)

Valorização do poder
“Nós sabemos que a Rússia começou a interferir nas próximas eleições, e parece estar tudo bem para o presidente Trump. Ele quer a intervenção da Rússia ou de qualquer outro ator que possa ajudá-lo a obter a reeleição. O líder republicano claramente se importa mais com o próprio poder do que com a integridade do sistema eleitoral norte-americano.”

Michael Gerhardt, professor de direito constitucional da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e testemunha no processo de impeachment

Medidas de impacto
“Trump argumentará, durante a campanha, que ‘o melhor está por vir’. O magnata prometerá que, caso eleito, a economia ficará ainda melhor e ele alcançará todos os seus objetivos. Creio que os russos se envolverão nas eleições, mas os republicanos causarão danos similares, ao aprovarem medidas para desencorajar ou impedir que eleitores propensos a apoiar os democratas votem em novembro.”

James Naylor Green, historiador especializado em estudos latino-americanos e brasilianista pela University Brown (em Rhode Island)
 

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