Mundo

Irã clama vingança após morte de general em ataque americano em Bagdá

"A América deve saber que seu ataque criminoso contra o general Soleimani foi o mais grave erro do país", diz nota

Correio Braziliense
postado em 03/01/2020 13:58

No Paquistão, manifestantes queimam bandeiras dos Estados Unidos e de IsraelUm bombardeio dos Estados Unidos matou nesta sexta-feira (3/1) o influente general Qassem Soleimani e um líder pró-Teerã no aeroporto internacional de Bagdá, exacerbando as tensões regionais. O Irã e seus movimentos satélites, como o Hezbollah libanês, o Hamas palestino, ou os huthis iemenitas, clamaram vingança.

 

O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, pediu "severa vingança" pela morte de Soleimani, na mais grave escalada em uma temida guerra entre Irã e Estados Unidos em território iraquiano.

 

Khamenei já nomeou um substituto de Soleimani para liderar a Al-Quds, o general de brigada Esmail Qaani.

 

"Não há nenhuma dúvida de que a grande nação do Irã e outras nações livres da região se vingarão por este crime horrível dos criminosos Estados Unidos", prometeu o presidente iraniano, Hassan Rohani.

 

Em um comunicado, o Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniana, a mais alta instância desta área no país, elevou o tom. "A América deve saber que seu ataque criminoso contra o general Soleimani foi o mais grave erro do país (...) Estes criminosos sofrerão uma dura vingança (...) no lugar e na hora certos", declarou.

 

Além disso, a diplomacia iraniana convocou o embaixador da Suíça, que representa os interesses dos Estados Unidos em Teerã. 

 

O Pentágono afirmou que o presidente Donald Trump deu a ordem de "matar" Soleimani, depois que uma multidão pró-Irã atacou a embaixada americana em Bagdá na terça-feira.

 

"O general Qassem Soleimani matou, ou feriu gravemente, milhares de americanos durante um longo período e tramava matar muitos mais (...) Era direta e indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas", tuitou Trump. "Deveria ter sido assassinado há muitos anos", completou o presidente americano.

 

"Embora o Irã nunca vá ser capaz de admitir isso claramente, Soleimani era ao mesmo tempo detestado e temido em seu país", afirmou.

 

A embaixada dos EUA recomendou a seus cidadãos que abandonem "imediatamente" o Iraque. Funcionários americanos do setor petroleiro iraquiano já deixaram o país.

 

Lançado nas primeiras horas desta sexta-feira contra um comboio de veículos no aeroporto internacional de Bagdá, o bombardeio americano matou nove pessoas.

 

Entre elas, estão o general Soleimani, responsável pelas questões iraquianas na Guarda Revolucionária (Exército ideológico do Irã), e Abu Mehdi al-Muhandis, de cidadania iraquiano-iraniana, número dois das Forças de Mobilização Popular, ou Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Teerã integrada ao Estado iraquiano.

 

Soleimani, que segundo os Estados Unidos liderava uma organização "terrorista", "estava ativamente tramando na região (...) uma ação importante, como ele a descreveu, que teria posto dezenas, se não centenas, de vidas americanas em perigo", disse o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. Ainda assim, Pompeo afirmou em um tuíte que os EUA seguem "comprometidos com a desescalada".

 

As reações ao bombardeio foram quase imediatas. China, União Europeia, Grã-Bretanha, França, Alemanha e ONU pediram calma e prudência. "O mundo não pode se permitir outra guerra no Golfo", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em nota.

 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, interrompeu sua viagem à Grécia para retornar em caráter de urgência ao país.

 

Na capital iraniana, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra os "crimes" americanos e gritaram frases como "Morte aos Estados Unidos".

 

- Entre dois inimigos -

As mortes desta sexta-feira aumentam o temor citado por vários analistas há alguns meses: que o território do Iraque se transforme em um campo de batalha indireto para Irã e Estados Unidos. 

 

O presidente iraquiano, Barham Saleh pediu "moderação" a todos, enquanto vários comandantes pró-Irã pediram aos combatentes que "estejam preparados" para responder ao ataque americano.

 

O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, teme que o ataque provoque uma "guerra devastadora no Iraque", ao mesmo tempo em que o influente líder xiita iraquiano Moqtada Sadr anunciou a reativação de sua milícia anti-EUA, o Exército de Mehdi, e ordenou que seus combatentes fiquem preparados.

 

O grande aiatolá Ali Sistani, figura tutelar da política iraquiana, considerou o ataque americano "injustificável", enquanto seu representante na cidade sagrada xiita de Kerbala leu o sermão que denunciou "uma violação flagrante da soberania iraquiana". Centenas de fiéis gritaram "Não aos Estados Unidos".

 

Há vários anos, o Iraque se encontra no meio do fogo cruzado entre seus dois grandes aliados: EUA e Irã.

 

Em 2003, ao derrubar o regime de Saddam Hussein, Washington passou a controlar as questões iraquianas. Mas Teerã e o movimento pró-Irã se infiltraram no sistema aplicado pelos americanos.

 

Washington respondeu à ação contra sua embaixada, que fica no centro da ultraprotegida Zona Verde de Bagdá, assim como a semanas de ataques com foguetes contra seus diplomatas e soldados.

 

"Os serviços de Inteligência americanos seguiam Qassem (Soleimani) há muitos anos, mas nunca apertaram o gatilho. Ele sabia, mas não calculou até que ponto suas ameaças de criar outra crise de reféns na embaixada (em Bagdá) mudaria as coisas", explicou à AFP Ramzy Mardini, do Institute of Peace, recordando o trauma provocado nos Estados Unidos pela tomada de reféns na representação diplomática americana em Teerã em 1979. "Trump mudou as regras ao eliminá-lo", disse.

 

Divisão política nos EUA

As consequências do assassinato seletivo de uma das figuras mais populares do Irã provocaram preocupação nos Estados Unidos e uma nova divisão entre democratas e republicanos, que apoiaram o ataque, a menos de um ano das eleições presidenciais nos Estados Unidos. O Congresso americano não foi informado com antecedência sobre o ataque. 

 

Este bombardeio ameaça provocar "uma perigosa escalada da violência", advertiu a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

 

As principais Bolsas do mundo operavam em queda nesta sexta-feira, enquanto as cotações do petróleo registravam alta.

 

O petróleo iraniano está submetido a sanções americanas e a crescente influência de Teerã no Iraque, o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), gera temor entre os especialistas de um isolamento diplomático e de sanções políticas e econômicas.

 

Na praça Tahrir de Bagdá, epicentro dos protestos contra o governo e contra seu aliado Irã que abalam o país há mais de três meses, dezenas de iraquianos celebraram a morte do general Soleimani. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, compartilhou um vídeo no Twitter de pessoas "dançando pela liberdade". 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags