Correio Braziliense
postado em 03/01/2020 15:04
O bombardeio americano sem precedentes que matou, nesta sexta-feira (3/1), em Bagdá, o general iraniano Qassem Soleimani e o líder paramilitar iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis abre um período de incerteza para os Estados Unidos e seus aliados na região.Também desperta muitas perguntas sobre o que aconteceu e o que acontecerá.
Como a operação foi executada?
O Pentágono não deu detalhes da operação, embora tenha deixado claro que o presidente Donald Trump deu ordem para sua execução.
Segundo vários veículos de comunicação, foram utilizados drones que atacaram dois veículos em uma estrada que leva ao aeroporto internacional de Bagdá.
Comandante das forças especiais Al-Qus do Irã e considerado uma das figuras mais poderosas do país, Soleimani viajava em uma delas.
Abu Mehdi al-Muhandis, número dois da Hashd Al-Shaabi, uma coalizão paramilitar majoritariamente pró-Irã, também morreu no atentado.
Um oficial militar dos EUA garantiu à AFP que o impacto de dois veículos onde Soleimani e Mehdi estavam localizados em Bagdá na sexta-feira foi realizado com "um tiro de precisão".
A mídia estatal iraniana afirmou, porém, que helicópteros dos EUA lançaram o ataque.
Esse método de matar membros de um exército estrangeiro reflete mais o modus operandi do Exército israelense do que o americano, que normalmente organiza suas forças especiais com precisão quando procuram eliminar figuras de alto escalão.
Como exemplo, há a morte de Osama bin Laden e, mais recentemente, do ex-líder do Estado Islâmico Abu Bakr al-Bagdadi.
Por que agora?
Os Estados Unidos acompanham de perto os passos de Soleimani e poderia ter atacado antes.
O Pentágono garantiu que o general vinha "desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas americanos e membros do serviço no Iraque e em toda região".
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou que Soleimani tramava "uma ação importante" que ameaçava a vida de centenas de americanos e que era "iminente".
Na quinta-feira de manhã, o secretário americano da Defesa, Mark Esper, alertou que os Estados Unidos não hesitariam em adotar "medidas preventivas", se houvesse informações sobre novos ataques.
Ele também disse que o assassinato de um funcionário americano terceirizado, na semana passada, em um ataque com foguete contra uma base em Kirkuk, atribuído por Washington a um grupo pró-Irã, significava que "o jogo tinha mudado".
Quais são as consequências?
Os preços do petróleo subiram mais de 4% após a morte de Soleimani, diante dos temores do mercado de um aumento das tensões na região.
O Irã prometeu vingança. O movimento Hezbollah do Líbano, seu aliado, disse que o castigo para os responsáveis será "a tarefa de todos os combatentes da resistência no mundo todo".
Muitos grupos pró-Irã na região têm a capacidade de realizar ataques contra bases americanas nos Estados do Golfo, bem como contra navios-tanque e navios de carga no Estreito de Ormuz. Teerã pode fechar essa passagem a qualquer momento.
Eles também podem atacar tropas e bases dos EUA no Iraque, na Síria e outras embaixadas dos EUA na região, assim como atacar os aliados de Washington, incluindo Israel, Arábia Saudita e países da Europa.
Existem muitas possibilidades. Segundo o analista Kim Ghattas, do "think tank" Carnegie Endowment for International Peace, é difícil avaliar o que acontecerá a seguir.
Quais são as medidas de segurança?
Nos últimos meses, os Estados Unidos enviaram mais de 14.000 soldados para a região como reforço.
Washington anunciou que mais 500 seriam enviados depois que manifestantes pró-iranianos cercaram sua embaixada em Bagdá nesta semana.
Esper disse ontem que um batalhão de 4.000 homens recebeu ordem de permanecer em espera para uma possível mobilização nos próximos dias.
Atualmente, os Estados Unidos têm 5.200 soldados estacionados no Iraque, onde estão, oficialmente, para ajudar e treinar o Exército local e garantir que o Estado Islâmico (EI) não voltará a emergir.
Nesta sexta, o Departamento de Estado americano pediu a seus cidadãos que deixem o Iraque "imediatamente".
Israel fechou uma estação de esqui nas colinas de Golã, uma região anexa na fronteira entre a Síria e o Líbano.
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