Correio Braziliense
postado em 04/01/2020 04:06
A comunidade internacional reagiu com preocupação e pedidos de calma à escalada das tensões entre Washington e Teerã após o ataque norte-americano que matou o general iraniano Qasem Soleimani, em Bagdá. Enquanto o guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, ameaçava “vingar” a morte do comandante da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, destacou que “o mundo não pode permitir uma nova guerra no Golfo”.
Mas, para os países do Oriente Médio, conflitos serão inevitáveis. No Iraque, o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi avaliou que o ataque ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, “iniciaria uma guerra devastadora”, no país. Além de Soleimani, a ofensiva americana matou Abu Mehdi al-Muhandis, número dois da Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Irã integrada ao Estado iraquiano.
“O assassinato de um comandante militar iraquiano ocupando um posto oficial é uma agressão contra o Iraque, seu Estado, seu governo e seu povo”, ressaltou Abdel Mahdi. O líder xiita iraquiano Moqtada Sadr reativou sua milícia antiamericana, o Exército Mehdi, ordenando que seus combatentes “se preparem”.
Grande aliado do Irã, o movimento xiita libanês Hezbollah prometeu “a justa punição” aos “assassinos criminosos” responsáveis pela morte do general iraniano. Por sua vez, o movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, território palestino de 2 milhões de habitantes, condenou o ataque “o mártir” Qassem Soleimani, “um dos mais eminentes senhores da guerra iranianos”. Assinalou se tratar de “crime americano que aumenta as tensões na região”.
Já a Frente Popular de Libertação da Palestina (PFLP), um grupo armado, pediu uma resposta “coordenada” das “forças de resistência” na região. Apoiados por Teerã, os rebeldes iemenitas huthis apelaram, por meio da voz de Mohammed Ali al-Huthi, uma autoridade da direção política rebelde, a “represálias rápidas e diretas”.
Na Síria, o governo do presidente Bashar al-Assad, que conta com o apoio militar de Teerã, denunciou o que chamou de “vergonhosa agressão americana” e, segundo a agência oficial Santa, também advertiu para uma “grave escalada” para o Oriente Médio. Al-Assad assegurou que o “apoio do general Soleimani ao Exército sírio não será esquecido”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aliado de Donald Trump, apoiou o bombardeio norte-americano. Ele estava na Grécia quando ocorreu o ataque. Netanyahu interrompeu a viagem e retornou ao país.
Em Moscou, a chancelaria russa divulgou um comunicado alertando para as graves consequências da “perigosa” operação americana, que resultará no “aumento das tensões na região””. Para o presidente Vladimir Putin, a morte do comandante da Força Quds ameaça “seriamente agravar a situação” no Oriente Médio.
Apelos
Na Europa, os apelos foram no sentido de apaziguamento. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou que o “ciclo de violência, de provocações e de represálias” deve cessar. “Uma escalada deve ser evitada a todo custo”, assinalou.
O ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, pediu a “todas as partes” que contenham a escalada de enfrentamento. “Sempre reconhecemos a ameaça agressiva da força iraniana Quds liderada por Qasem Soleimani. Após sua morte, pedimos a todas as partes que diminuam a escala. Outro conflito não é de forma alguma do nosso interesse”, declarou o chefe da diplomacia do Reino Unido.
Paris também considerou que “a escalada militar é sempre perigosa”. “Nosso papel não é ficar de um lado ou de outro, é falar com todos”, disse a secretária de Estado para os Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, assegurando que Paris procura criar “as condições para a paz em qualquer caso para a estabilidade”.
Também Pequim pediu calma. “Pedimos a todas as partes envolvidas, principalmente aos Estados Unidos, que mantenham a calma e exercitem autocontrole para evitar novas tensões”, disse Geng Shuang, porta-voz da diplomacia chinesa.
“O mundo não pode permitir uma nova guerra no Golfo”
Antonio Guterres, secretário-geral das Nações Unidas
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