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Embaixadores da OTAN se reúnem para debater crise entre EUA e Irã

Em comunicado, Teerã se desobriga a reduzir reatores e reservas de urânio enriquecido, principal objetivo do pacto assinado em 2015. Donald Trump volta a tuitar sobre ataques, enquanto o corpo do general morto em bombardeio chegava ao território iraniano para o funeral

Correio Braziliense
postado em 06/01/2020 07:00
Multidão protesta em Teerã contra os ataques dos Estados UnidosOs embaixadores dos países da OTAN se reúnem nesta segunda-feira (6/11) para tratar da crise entre Estados Unidos e Irã. "O secretário-geral (Jens Stoltenberg) decidiu organizar esta reunião de embaixadores da OTAN após discutir o assunto com seus aliados", disse o porta-voz, em um e-mail enviado à Agência France Presse.

No dia seguinte às ameaças de ataques publicadas no Twitter pelo presidente norte-americano, Donald Trump, o Irã anunciou que se desobriga a limitar a produção de urânio, o mais importante ponto do acordo nuclear firmado em 2015 com as potências mundiais. Em comunicado, o governo afirmou que “a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) será mantida”, mas, a partir de agora, o país risca do pacto o compromisso de reduzir em dois terços o número de centrífugas. Também deixa de diminuir as reservas de urânio enriquecido, estado em que o elemento químico tanto pode produzir energia elétrica quanto armas nucleares. Teerã assinala que pode retomar o acordo caso as sanções americanas sejam retiradas.

Em agosto passado, Teerã já havia começado a reduzir compromissos do texto de 2015, em resposta à decisão do governo norte-americano de abandonar o acordo e voltar a estabelecer sanções contra o Irã. Porém, o presidente Hasan Rohani declarou que estava disposto a restabelecer as limitações caso Trump extinguisse as restrições econômicas retomadas por Washington.

O aviso de que o país poderá voltar a produzir grandes quantidades de urânio enriquecido segue-se às declarações do chefe da Casa Branca de que há 52 alvos no Irã passíveis de ataques, inclusive monumentos históricos. Ontem, Trump voltou a tuitar provocações, ainda nos desdobramentos do bombardeio no Iraque que matou o general iraniano Qasem Soleimani. “Os Estados Unidos acabaram de gastar US$ 2 trilhões em equipamento militar. Somos os maiores e, de longe, os MELHORES do mundo! Se o Irã atacar uma base norte-americana, ou qualquer americano, mandaremos alguns de nossos novos e belos equipamentos para lá... e sem hesitação!”.

A menção à destruição de monumentos históricos provocou a reação de Mohsen Rezai, ex-comandante em chefe dos Guardiões da Revolução e atual secretário do Conselho de Discernimento, posto-chave no sistema político iraniano. Ele ameaçou, ontem, atacar Israel e reduzir Tel Aviv e Haifa “a pó”.

“Trump, você tuitou que atacará 52 alvos no Irã?”, contestou. “Você tuitou que atacaria novamente se o Irã se vingasse? (…) Se os Estados Unidos tomarem a menor medida após a nossa resposta militar, reduziremos Tel Aviv e Haifa a pó”, reiterou no Twitter. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Javad Zarif, também tuitou que “atacar locais culturais é um crime de guerra”, referindo-se à Convenção de Genebra.

O chefe da diplomacia dos EUA, Mike Pompeo, afirmou que qualquer ação militar de Washington estará de acordo com a lei internacional. “Agiremos legalmente e dentro do sistema”, declarou à rede ABC. “O povo americano deve saber que todo alvo que atacaremos será um alvo legal e com uma missão única: de proteger e defender os Estados Unidos.”

Pompeo afirmou que há uma “probabilidade real” de o Irã tentar atacar as tropas americanas, depois do bombardeio orquestrado por Washington, que matou Soleimani na madrugada de sexta-feira. “Achamos que há uma probabilidade real de o Irã cometer um erro e tomar a decisão de atacar algumas de nossas forças militares no Iraque ou solados no nordeste da Síria”, afirmou Pompeo à Fox News.

Cortejo

As trocas de ameaças aconteceram enquanto uma maré humana tomava as ruas de Ahvaz no segundo dia de homenagens fúnebres — o primeiro em território iraniano. Colocados no teto de um caminhão florido e cobertos com uma manta representando a Cúpula da Rocha de Jerusalém, os caixões de Soleimani e de Abu Mehdi al-Mouhandis, chefe militar iraquiano pró-Irã morto no mesmo ataque, percorreram muito lentamente o centro da cidade de minoria árabe. Ahvaz é a capital do Khuzistão, uma província mártir da guerra Irã-Iraque (1980-1988), durante a qual o general começou a despontar no regime.

Multidão atravessa ponte na cidade iraniana de Ahvaz acompanhando o cortejo fúnebre de Qasem Soleimani: ameaça de ataque a Israel

As autoridades declararam três dias de luto nacional. No cortejo, homens e mulheres choravam enquanto batiam no peito ao som de um canto xiita: “Você alcançou seu sonho, encontrou o imã Hussein”. Neto de Maomé, o imã Hussein é uma das figuras sagradas mais reverenciadas do xiismo, a quem os fiéis costumam se referir como o “senhor dos mártires”. Gritos de “morte à América” também eram repetidos com veemência.
  
 
 

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