Impedido de entrar na sede da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela por forças de segurança do governo de Nicolás Maduro, o líder opositor Juan Guaidó perdeu, ontem, o comando do parlamento depois que seu rival Luis Parra se autoproclamou o novo chefe do Legislativo do país. Parra, que contou com o apoio do chavismo, prestou juramento com um megafone, enquanto, do lado de fora, Guaidó tentava pular a grade e entrar no prédio. Horas depois, Maduro reconheceu o novo presidente da AN.
A oposição denunciou um “golpe de Estado parlamentar”. Numa sessão realizada na sede do jornal El Nacional, crítico ao governo, cerca de 100 aliados — entre eles, legisladores inabilitados por acusações penais — reconduziram Guaidó à Presidência da Assembleia.
O Grupo de Lima, em comunicado, condenou a autoproclamação de Parra. Em sua conta no Twitter, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, repudiou a situação. “Em Caracas, Maduro tenta impedir, à força, votação legítima na Assembleia Nacional e reeleição de Juan Guaidó para a presidência da AN e do governo interino, crucial para a redemocratização daquele país”, tuitou Araújo. “O Brasil não reconhecerá qualquer resultado dessa violência e afronta à democracia”, acrescentou o chefe do Itamaraty.
O Parlamento havia convocado a sessão para as 11h locais e Guaidó garantia contar com votos “mais do que suficientes” para ser ratificado no cargo a partir do qual, em janeiro de 2019, reivindicou a presidência encarregada da Venezuela com o reconhecimento de meia centena de países, liderados pelos Estados Unidos. Entre eles, o Brasil.
No entanto, os aliados de Guaidó foram barrados quando chegaram ao prédio da Assembleia. Tiveram acesso ao prédio apenas deputados do chavismo e os de oposição que são críticos a ele. Parra rompeu com Guaidó após ser acusado por corrupção. A sessão marcava um momento-chave para o rival de Maduro, que tentava impulsionar sua liderança, desgastada ante a resistência do sucessor de Hugo Chávez no poder.
A conta da Assembleia Nacional no Twitter denunciou que a proclamação de Parra foi feita “sem votos ou quórum”. O novo autoproclamado presidente da AN afirmou que a sessão contou com 140 deputados, e que 81 aprovaram a sua candidatura, apresentada horas antes por José Brito, outro deputado opositor que se distanciou de Guaidó. “Poderia ser o futuro, mas hoje é e será o passado. Seu tempo terminou”, disse Brito, em referência a Guaidó.
Subornos
Ao longo do último ano, a oposição, que conquistou 112 das 167 cadeiras nas legislativas de 2015, perdeu a coesão. Além dos que romperam com Guaidó, 30 deputados se exilaram ou se refugiaram em sedes diplomáticas devido a processos judiciais. O líder opositor denunciou “subornos” a congressistas para que ficassem contra ele.
Parra e Brito foram acusados de terem feito lobby junto a autoridades de Colômbia e Estados Unidos para livrar de responsabilidade o empresário colombiano Carlos Lizcano em casos de suposto custo extra na importação de alimentos para o governo de Nicolás Maduro. Depois da denúncia, ambos romperam com Guaidó, assinalando que se mantêm como adversários de Maduro.Assim como o Brasil, Uruguai, Colômbia e Bolívia, individualmente, rejeitaram a autoproclamação de Parra. A chancelaria colombiana definiu o processo como “fraudulento” e sem garantias. “Esse novo atentado contra a democracia realizado pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro deve ser condenado por todos os Estados comprometidos com a vigência do Estado de Direito e dos Direitos Humanos”, declarou o governo de Iván Duque.
Principal diplomata dos EUA para a América Latina, o subsecretário interino de Estado americano para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Michael Kozak, condenou a situação. “Ações desesperadas do regime Maduro para evitar ilegalmente e à força que @JGuaido e a maioria dos deputados da @AsambleaVE entrassem no prédio fazem com que o “voto” careça de quórum e não cumpra os requisitos constitucionais mínimos. É uma farsa”, tuitou.
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