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Irã ataca duas bases dos EUA no Iraque

Guarda Revolucionária reivindica lançamento de %u201Cdezenas de mísseis terra-terra%u201D contra instalações de Ain Al Asad e em Erbil, no Curdistão, em resposta ao assassinato do general Qasem Soleimani. Trump promete fazer declaração na manhã de hoje

Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 04:05
Ativistas protestam diante da Casa Branca, na noite de ontem, contra uma retaliação militar do governo Trump:


A retaliação do Irã ao assassinato do general Qasem Soleimani, comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária, veio à 1h30 de hoje (19h30 de ontem em Brasília). A televisão estatal iraniana anunciou que “dezenas de mísseis terra-terra” foram disparados contra a base aérea de Ain Al-Asad e contra outra base em Erbil, no Curdistão iraquiano. Em nota, a Guarda Revolucionária acenou com “respostas mais devastadoras”, em caso de contra-ofensiva e ameaçou golpear “dentro da América”.  Até o fechamento desta edição, não havia informação sobre vítimas nos ataques às duas instalações. Segundo a rede de TV CNN, os mísseis atingiram Ain Al-Sad em uma área não habitada por americanos.

“A feroz vingança da Guarda Revolucionária começou. Nós estamos alertando a todos os aliados dos EUA, que deram as bases ao Exército terrorista: qualquer território que for ponto de partida para atos agressivos contra o Irã será alvejado”, avisou a unidade especial das Forças Armadas do Irã. O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, reiterou que seu país tomou “medidas proporcionais de autodefesa” e garantiu não buscar a guerra.

Os ataques de Teerã, realizados em duas ondas, foram batizados de “Operação Soleimani”. Os lançamentos de mísseis marcam o mais significativo ato de agressão iraniana aos Estados Unidos durante a atual crise. A Guarda Revolucionária exigiu a retirada das tropas americanas do Oriente Médio e ameaçou atacar Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e Haifa, em Israel.

A porta-voz da Casa Branca, Stephanie Grisham, declarou que “o presidente tem sido informado e está monitorando a situação de perto, em consulta com sua equipe de segurança nacional”. A residência oficial da Presidência dos Estados Unidos teve a segurança reforçada. Oficiais armados com fuzis de assalto podiam ser vistos em postos de controle nas imediações. Trump se reuniu com os secretários Mark Esper (Defesa) e Mike Pompeo (Estado).

Por volta das 23h50 de ontem (hora de Brasília), o presidente rompeu o silêncio. “Tudo está bem! Mísseis lançados pelo Irã em duas bases militares situadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos ocorridos até agora. Por enquanto, tudo bem! Temos, de longe, as forças armadas mais poderosas e bem equipadas do mundo! Farei uma declaração amanhã de manhã”, escreveu no Twitter.

O Pentágono confirmou que o Irã disparou “mais de uma dúzia de mísseis balísticos” contra duas bases. “Estamos trabalhando na avaliação inicial dos danos. Tomaremos todas as medidas para proteger e defender os funcionários dos EUA, os parceiros e os aliados na região. “Está claro que estes mísseis foram lançados do Irã e visavam duas bases militares iraquianas que abrigam pessoal militar americano e da coalizão, em Ain Al-Asad e Erbil”, afirmou o assistente de Defesa para Assuntos Públicos do Departamento da Defesa, Jonathan Hoffman.

Voos

A base de Ain Al-Asad abriga 1,5 mil soldados americanos e foi estratégica para a queda do ditador Saddam Hussein, em 2003. A Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) proibiu as companhias aéreas registradas no país de sobrevoarem o Irã, o Iraque e o Golfo Pérsico.

“Orem”, reagiu Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, ao ser informada sobre o bombardeio durante reunião na qual debatia a crise com o Irã. A democrata espera votar, na próxima semana, a resolução que limita a resposta militar de Trump contra o regime teocrático islâmico. “Devemos garantir a segurança de nossos militares, inclusive encerrando provocações desnecessárias. (...) Os EUA e o mundo não podem se dar ao luxo de uma guerra”, disse Pelosi.

Professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Robert Uebel explicou ao Correio que os ataques iranianos de ontem são “o máximo de retaliação capaz de ser lançada pelo Irã”. “Vejo uma conjunção entre os governos do Irã e do Iraque, que ordenou a expulsão das tropas americanas de seu território. É o máximo de resposta bélica a ser apresentada por Teerã. Não descarto um hipotético ataque contra Israel, em um segundo momento”, comentou. De acordo com ele, a resposta iraniana deve tensionar mais o Oriente Médio. “Israel, Turquia e Arábia Saudita devem se mostrar preocupados em relação ao posicionamento de Teerã, mas, sobretudo, de Washington. Por ora, descarto ação militar direta dos EUA no Irã.”

Mais cedo, ao ser questionado pela reportagem sobre retaliações do Irã, Mohammed Mohey, porta-voz das Kata’ib Hezbollah (“Brigadas Hezbollah”), respondeu: “Todas as opções estão sobre a mesa”. Ante a insistência da reportagem em interrogá-lo sobre que ações Teerã lançaria mão para vingar Soleimani, ele foi enigmático. “Esperem e vocês verão”, disse o integrante da milícia pró-Irã cujo vice-líder, Abu Mehdi Al Muhandis, também morreu no ataque que custou a vida de Soleimani (leia o Três perguntas para).

Para Maristela Basso, professora de direito internacional e comparado da Universidade de São Paulo (USP), os ataques iranianos foram “apenas um aperitivo”. “A intenção foi manter os EUA ocupados, enquanto o Irã idealiza e executa resposta mais contundente, provavelmente tecnológica, não militar. Teerã não poderá dar nenhuma resposta eficiente e inteligente aos americanos de um dia para o outro”, disse à reportagem. “Os ataques distrairão o público, mas o gran finale está sendo planejado com muito cuidado. Quanto mais tempo o Irã tiver, melhor será a resposta.”


 

Três perguntas para

Mohammed Mohey, porta-voz das Kata’ib Hezbollah (“Brigadas Hezbollah”), milícia iraquiana pró-Irã atacada pelos Estados Unidos na ação que matou Soleimani e o vice do grupo, Abu Mehdi Al Muhandis

Como as Brigadas Hezbollah pretendem responder ao ataque dos Estados Unidos?
O crime cometido pelos EUA é muito perigoso e cruzou todas as linhas vermelhas das relações internacionais. Trata-se de terrorismo de Estado e violação da soberania do Iraque, além de ataque a um convidado que entrou oficialmente no país por meio do Aeroporto Internacional de Bagdá. Um crime tolo e estúpido, que trará graves repercussões ao Iraque, ao Oriente Médio e ao mundo.

Que tipo de reação os EUA podem esperar por parte do Irã?
A resposta do Irã será contundente e cruel, pois a escala do crime foi ampla, e o alvo, uma personalidade de alto status, que desempenhava papéis políticos e militares de grande importância. Ela não se limitará a um único ataque ou lugar,  e o Irã não estará sozinho na reação. Todos os grupos de resistência participarão — no Iraque, no Líbano, na Síria, no Iêmen e na Palestina. A batalha será contínua e não terminará até que as forças dos EUA abandonem o Oriente Médio.

Por qual motivo Soleimani visitava Bagdá na sexta-feira?
Soleimani estava em missão oficial ligada a uma iniciativa do Iraque de mediação entre Arábia Saudita e Irã. Para mim, ele era um grande líder, que estava na vanguarda da defesa do povo iraquiano e do Oriente Médio. (RC)


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