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Teerã decide reter caixa-preta

Avião de companhia da Ucrânia cai minutos depois de decolar, em Teerã. Os 167 passageiros e os nove tripulantes morreram. Especialistas não descartam explosão a bordo do Boeing 737-800. Inteligência dos EUA analisa fotografias dos destroços

Correio Braziliense
postado em 09/01/2020 04:16
Pedaços da aeronave ficaram espalhados a 45km do Aeroporto Internacional Imã Khomeini: destruição total



O Irã se recusou a entregar as duas caixas-pretas do Boeing 737-700 da Ukranian International Airlines (UIA) à fabricante e aos Estados Unidos para investigação do desastre que matou todos os 167 passageiros e nove tripulantes. “Não daremos as caixas-pretas ao fabricante nem aos americanos”, destacou Ali Abedzadeh, diretor da Organização da Aviação Civil do Irã, citado pela agência Mehr. A tragédia ocorreu pouco depois de a Guarda Revolucionária iraniana disparar mísseis contra duas bases usadas por forças americanas no Iraque. As autoridades de Kiev apontaram “pane em um motor da aeronave, devido a motivos técnicos” e excluíam a “tese de ataque terrorista”. No entanto, o trecho sobre uma suposta causa deliberada para a queda do avião foi removido do comunicado do governo. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, interrompeu as férias no sultanato de Omã, alertou contra “especulações” e ordenou uma investigação. “Nós devemos investigar todas as causas possíveis”, afirmou Zelensky.

O voo PS752 da UIA decolou às 6h10 (23h40 de terça-feira pelo horário de Brasília) do Aeroporto Internacional Imã Khomeini com destino a Boryspyl de Kiev. Vítimas de sete países morreram no desastre: 82 iranianos, 63 canadenses, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. O piloto, capitão Volodymyr Gaponenko, acumulava 11.600 horas no comando do 737. A rede de TV CNN informou que os serviços de inteligência dos Estados Unidos analisam imagens dos destroços em busca de sinais de explosão iniciada de dentro ou de fora do avião. Um perito admitiu à emissora norte-americana que a possibilidade de detonação “não é exagerada”. O Boeing 737-800 desapareceu do radar três minutos e quatro segundos depois da decolagem, quando tinha alcançado uma altitude de 8 mil pés (2,4 mil metros) e uma velocidade de 482km/h. Ele caiu em uma área de lavoura em Khalaj Abad, no distrito de Shahriar, 45km a noroeste do aeroporto.

Em entrevista ao Correio, o norte-americano William Waldock, especialista em desastres aéreos pela Universidade Aeronáutica Embry-Riddle (em Prescott, no Arizona), admitiu que a tensa situação política entre o Irã e os EUA complicará, de forma drástica, o processo de investigação. “O que se sabe  até aqui é que o avião decolou normalmente, sem indicação de que algo incomum tenha ocorrido antes da perda de contato com a torre de controle”, comentou. “O que aconteceu foi algo repentino e catastrófico. Isso estreita as teorias: uma enorme explosão no motor ou dentro do tanque combustível, ou uma detonação no interior da cabine.” Outra possibilidade, segundo ele, é a de uma grande falha da estrutura da aeronave.

Histórico
Waldock explicou que o  737-800 tem um bom histórico de funcionamento. “Mais de 5,7 mil aviões foram fabricados e estão em atividade desde 1997. Antes dessa tragédia, houve apenas oito incidentes com esse modelo. Um deles, o voo 1907 da GOL, colidiu no ar com um jato executivo Legacy, em 29 de novembro de 2006, matando as 155 pessoas a bordo. Outros se envolveram em ultrapassagens na pista. Os acidentes não fatais foram atribuídos principalmente a erro humano, não a problemas mecânicos”, disse. O especialista afirmou não se surpreender com a decisão de Teerã de reter as caixas-pretas. “A pergunta é: para quem eles as enviarão?”. Peter Goelz, ex-diretor do Comitê Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB) dos EUA, admitiu ao jornal The New York Times que um eventual ataque deveria estar “no topo da agenda dos investigadores”.

A companha aérea UIA informou que o avião foi construído havia quatro anos e passou por uma revisão técnica 48 horas antes da queda. “Era um dos nossos melhores aviões, com uma tripulação excelente e muito segura”, declarou, em prantos, o presidente da empresa, Ievguen Dykhne, em uma entrevista coletiva em Kiev. Em frente à Embaixada do Irã, na capital ucraniana, um memorial improvisado foi erguido em homenagem aos mortos.






Eu acho...
“O 737-800 da Ukranian International Airlines (UIA) voava a baixa altitude para que uma despressurização provocasse esse tipo de desastre. Pelas fotografias do local da queda, os destroços parecem dispersos, o que indicaria que o avião se despedaçou enquanto caía.”

William Waldock, especialista em desastres aéreos pela Universidade Aeronáutica Embry-Riddle, em Prescott (Arizona)


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