Correio Braziliense
postado em 11/01/2020 04:05
Ambientalistas estão preocupados com o efeito devastador do incêndio que atinge a Austrália sobre a fauna. Os especialistas temem que o fogo leve à extinção de muitas espécies. Imagens de coalas, gambás e cangurus com partes do corpo queimadas viajaram pelo mundo e se tornaram o símbolo da tragédia climática no país. Acredita-se que animais menos visíveis, como sapos, insetos, invertebrados e répteis, também foram severamente afetados. Ontem, ventos fortes causaram a fusão de dois focos de queimada no sudeste do país, transformando-os em um incêndio gigantesco.
A Austrália já teve a maior taxa de extinção de mamíferos do mundo. Agora, o risco é de destruições localizadas. Um terço da Ilha Kangaroo, um paraíso para animais na costa do sul, foi arrasado, e algumas espécies únicas na área podem ter desaparecido, segundo os pesquisadores. Especialistas da Universidade de Sydney calculam que a temporada de incêndios, iniciada em setembro do ano passado, matou um bilhão de animais, entre mamíferos, pássaros e répteis.
“Ainda restam poucos habitats para muitas espécies. Isso pode causar extinções locais”, explicou à rede ABC australiana John Woinarski, do Centro de Recuperação de Espécies Ameaçadas, um programa público para proteger a vida selvagem. Os incêndios, acrescentou, estão sendo uma espécie de “holocausto” para animais.
Pessimismo
Estima-se, por exemplo, que metade da única população de coalas da Austrália, que vivia na Ilha Kangaroo, esteja morta ou gravemente ferida. Mesmo para os que sobreviveram ao fogo, as previsões são pessimistas. “Muitos dos animais morrem após o incêndio devido à falta de comida e abrigo ou são comidos por outros animais”, disse Mathew Crowther, professor da Universidade de Sydney.
No estado de Victoria, onde a temporada de incêndios apenas começou, os veterinários dizem ter visto coalas, pássaros, cangurus e gambás com queimaduras graves e problemas respiratórios. Muitos tiveram que ser sacrificados, outros foram salvos e poucos retornaram ao habitat natural remanescente”, informou uma porta-voz dos zoológicos de Victoria.
Mathew Crowther destacou que, quando o incêndio for debelado, novos problemas se apresentarão. As florestas queimadas levarão décadas para se recuperar e serão necessários investimentos consideráveis para restaurar habitats e dar a animais uma chance de sobrevivência.
Segundo o professor da Universidade de Sydney, Chris Dickman, o que acontece na Austrália é apenas o prelúdio dos impactos que as mudanças climáticas podem gerar em outras partes do mundo. Particularmente precoce e violenta, a temporada de incêndios causou a morte de 26 pessoas, reduziu a cinzas uma área equivalente à da ilha da Irlanda (80.000 km2) e destruiu mais de 2 mil casas.
Desafio
Ontem, uma nova onda de calor que assolou o país, acompanhada de ventos fortes, interrompeu a semana de relativa calma. “As condições estão difíceis. Os ventos quentes e secos são novamente um verdadeiro desafio”, disse o chefe dos bombeiros na zona rural de Nova Gales do Sul, Shane Fitzsimmons.
Como se temia, as temperaturas subiram na sexta-feira para 40°C em várias partes do estado e em Victoria. Várias ordens de evacuação foram emitidas para os moradores das áreas de fronteira entre os ambos os estados.
Em Sydney e em Melbourne, milhares de pessoas saíram às ruas para exigir que o governo conservador do premiê Scott Morrison faça mais para combater as mudanças climáticas globais e reduza as exportações de carvão. “Mudança de políticas, não de clima”, dizia uma das faixas dos manifestantes, refletindo a crescente conscientização sobre mudança climática gerada pelos incêndios devastadores.
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