Correio Braziliense
postado em 13/01/2020 04:34
Em tempos de redes sociais, detalhes do segundo dia consecutivo de protestos contra o regime teocrático islâmico foram gravados em vídeos e disseminados pela internet. Um rastro de sangue é visto na calçada da Avenida Azadi, em Teerã; ativistas arrastam uma jovem ferida na perda. Na Rua Azerbaijão, também na capital iraniana, homens chutam e rasgam cartazes com fotos do general Qasem Soleimani, o comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária assassinado por drones dos Estados Unidos. Em outro ponto, carros passam sobre um pôster com o retrato do aiatolá Ali Khamenei, abandonado de forma proposital do meio da pista. Em um dos registros mais simbólicos, estudantes se recusaram a pisar em bandeiras imensas dos Estados Unidos e de Israel pintadas no solo, em frente à Universidade Shahid Behesthti.
As manifestações foram deflagradas no sábado, pouco depois de autoridades de Teerã confirmarem que um míssil iraniano derrubou o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines (UIA), matando as 176 pessoas a bordo, na última quarta-feira. Mais uma vez, os ativistas exigiram a renúncia do aiatolá Ali Khamenei, guia supremo do Irã, o qual acusam de mentir sobre a tragédia. Fontes locais relataram que sete pessoas foram feridas à bala durante os protestos deste domingo e várias foram presas. A repressão teria contado com a ajuda da milícia Basij, um movimento paramilitar de voluntários islâmicos leais ao aiatolá. Além de dispararem armas letais contra a população, integrantes à paisana teriam usado cartuchos de tinta para marcar manifestantes a serem detidos pelas forças de segurança. Protestos também ocorreram no interior do país.
Também pelo segundo dia consecutivo, o presidente norte-americano, Donald Trump, advertiu o regime iraniano contra violações dos direitos humanos na contenção dos protestos. “Aos líderes do Irã — não matem seus manifestantes. Milhares já foram assassinados ou aprisionados por vocês, e o mundo está observando. Mais importante, os EUA estão observando. Religuem a internet e permitam que os repórteres circulem livremente! Parem a matança de seu grande povo iraniano!”, escreveu o republicano em seu perfil no Twitter. Na última sexta-feira, Trump impôs sanções a oito lideranças iranianas e a empresas de metal, e prometeu o corte de bilhões de dólares na economia do Irã. A medida foi em retaliação ao lançamento de 22 mísseis contra duas bases usadas pelas forças americanas no Iraque, três dias antes.
Shahin Gobadi, porta-voz da Organização dos Mujahedine do Povo Iraniano (MEK), um dos principais grupos de oposição no exílio, afirmou ao Correio que considera o aiatolá Ali Khamenei, o presidente Hassan Rouhani e os comandantes da Guarda Revolucionária Islâmica os principais culpados “pelo crime da derrubada de um avião de passageiros”. “Eles devem ser processados e punidos por esse grande crime”.
Ontem, o embaixador da Grã-Bretanha no Irã, Rob Macaire, cuja prisão no sábado em Teerã foi denunciada por Londres, negou ter participado de qualquer manifestação contra as autoridades, conforme noticiado por alguns meios de comunicação iranianos. A agência iraniana Tasnim esclareceu que o diplomata foi detido por várias horas e interrogado por seu envolvimento em “atos suspeitos”.
Saia justa
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mak Esper, admitiu à emissora de TV CBS que Trump está pronto para discutir com Teerã, “sem pré-condições, um novo caminho, uma série de medidas que tornariam o Irã um país mais normal”.
O chefe do Pentágono deixou o presidente em uma saia justa, ao desmentir que o general Qasem Soleimantinha planos de atacar quatro embaixadas americanas no Oriente Médio. Esper disse que “não viu” dados de inteligência específicos sobre a ameaça iminente às representações diplomáticas americanas na região.
Eu acho...
“O povo iraniano exige a punição do aiatolá Ali Khamenei e de outras autoridades. Isso é evidente nas palavras de ordem proferidas por milhares de manifestantes nos atos antirregime que prosseguiram pelo segundo dia. Mesmo agora, o regime tenta enganosamente ajudar os principais culpados por esse desastre a fugirem da responsabilidade, dando desculpas ridículas.”
Shahin Gobadi, porta-voz da Organização dos Mujahedine do Povo Iraniano (MEK), um dos principais grupos de oposição ao regime iraniano no exílio
Novo ataque a base militar no Iraque
Oito foguetes caíram ontem em uma base aérea iraquiana que abriga soldados americanos no norte de Bagdá. Quatro militares iraquianos ficaram feridos, segundo o Exército do Iraque. A rede de TV CNN, citando uma autoridade militar dos Estados Unidos, informou que não havia americanos no local. Quase todas as tropas dos EUA deixaram essa base localizada em Balad. “Restam apenas 15 soldados americanos e um avião em Balad”, assegurou à agência France-Presse uma fonte militar iraquiana. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, se disse “indignado” com os relatos do novo ataque e exigiu o fim do disparo de foguetes contra bases americanas.
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