Com a leitura solene das acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso, começou nesta quinta-feira (16) o julgamento do impeachment do presidente americano, Donald Trump, no Senado.
O sargento de armas da Câmara alta, Michael Stenger, abriu o terceiro julgamento de impeachment de um presidente americano na história com uma advertência aos 100 senadores.
"Todas as pessoas têm ordem de manter silêncio, enquanto a Câmara dos Representantes apresenta acusações contra Donald John Trump, presidente dos Estados Unidos", disse Stenger após a chegada no Senado dos sete membros da câmara baixa que atuarão como promotores do caso.
Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, que atuará como promotor principal do julgamento, leu em seguida as duas acusações aprovadas em 18 de dezembro.
"Em sua conduta e violando seu juramento constitucional, Donald J. Trump abusou dos poderes da presidência", disse Schiff, em leitura do primeiro artigo de impeachment.
O presidente americano é acusado de "crimes graves e delitos menores", acrescentou.
O presidente da Suprema Corte de Justiça, John Roberts, prestou juramento para liderar o julgamento.
Em seguida, os 100 senadores prestaram juramento se comprometendo a atuar de maneira "imparcial", perante Roberts, de 64 anos e nomeado membro da instância máxima da justiça americana pelo presidente George W. Bush.
Após esse rito, a sessão foi interrompida e será retomada na próxima terça-feira, 21, às 13H00 (horário local), segundo o líder da maioria republicana no Senado americano, Mitch McConnell.
Depois da sessão, Trump reafirmou que não fez "nada de errado" e se apresentou como vítima de uma "caça às bruxas" orquestrada pelos democratas, que controlam a Câmara de Representantes.
A absolvição de Trump é dada como certa, pois os republicanos são a maioria no Senado e a condenação só é possível com o apoio de dois terços dos integrantes da casa.
Segundo o presidente, o processo "deve ir muito rápido" no Senado.
- "A hora do Senado" -
Trump é acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso por causa do escândalo ucraniano, um caso em que ele é acusado de pressionar Kiev a investigar o democrata Joe Biden, seu possível adversário nas eleições presidenciais de novembro.
Segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira pelo gabinete de prestação de contas do governo (GAO), os serviços responsáveis pelos assuntos orçamentários da Casa Branca "violaram a lei, retendo cerca de 214 milhões de dólares alocados no Departamento de Defensa para uma ajuda militar à Ucrânia".
"O cumprimento fiel da lei não permite que o presidente substitua suas próprias prioridades políticas pelas promulgadas pelo Congresso", informou o GAO, um organismo de controle do Congresso.
A segunda acusação do processo de impeachment se refere à obstrução do Congresso, por Trump se recusar a fornecer testemunhas e documentos aos investigadores da Câmara dos Representantes, desafiando as convocações do Congresso.
McConnell tem sido extremamente crítico em relação à acusação de Trump apresentada pela Câmara de Representantes, controlada pelos democratas, e prometeu nesta quinta-feira que as coisas seriam diferentes no Senado.
"Foi uma evidente atuação partidária do início ao fim", disse McConnell.
"Mas agora o processo não será assim (...) O momento da Câmara de Representantes acabou. A hora do Senado está se aproximando", acrescentou.
As duas acusações contra Trump foram encaminhadas ao Senado na quarta-feira numa ato solene tendo à frente os sete democratas da Câmara de Representantes que serão os promotores do caso contra o 45º presidente dos Estados Unidos.
"Tão triste, tão trágico para o nosso país, que as ações tomadas pelo presidente para minar nossa segurança nacional, violar seu juramento e colocar em perigo a segurança de nossas eleições, nos levaram a isso", disse Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes, ao assinar os artigos com as acusações.
"Ninguém está acima da lei", garantiu.
Pelosi demorou a entregar os artigos ao Senado para pressionar McConnell a concordar em convocar testemunhas e solicitar documentos que a Casa Branca bloqueou.
Mas McConnell se recusou a se comprometer com isso, dizendo que será decidido após a apresentação dos argumentos e perguntas iniciais do julgamento.
- "Outro golpe" -
Um funcionário do governo Trump disse à imprensa que o governo espera que o julgamento não dure mais de duas semanas, sugerindo que McConnell poderia usar sua maioria republicana, de 53 contra 47 democratas, para não convocar testemunhas e rapidamente levar as acusações a votação.
Trump ridicularizou a investigação e o julgamento na quarta-feira, como faz há meses.
"Aqui vamos nós de novo, com outro golpe feito pelos democratas que não fazem nada", publicou no Twitter o presidente.
Nesta quinta-feira, Trump voltou a dizer à imprensa que considera todo o processo como uma "caça às bruxas" e que espera que seja resolvido de forma rápida no Senado.
Os democratas publicaram documentos nesta semana mostrando que o advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani, trabalhou com anglo-ucraniano Lev Parnas para pressionar Kiev a investigar Biden.
Também denunciaram como ambos, junto com as autoridades ucranianas, tentaram expulsar a embaixadora americana no país, Marie Yovanovitch, que acabou sendo destituída por Trump.
Em entrevista à rede MSNBC na quarta-feira, Parnas afirmou que "o presidente Trump sabia exatamente o que estava acontecendo".
"Estava a par de todos meus movimentos. Não faria nada sem o consentimento de Rudy Giuliani ou do presidente", disse.
Além de Schiff, o presidente do Comitê de Justiça, Jerry Nadler, outro inimigo declarado de Trump também estará na equipe de acusação, que conta também com três mulheres, duas negras e uma hispânica, refletindo a diversidade do Partido Democrata.
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