Correio Braziliense
postado em 17/01/2020 04:15
Dois dias depois do ultimato de países europeus signatários do acordo sobre o programa nuclear iraniano, o presidente Hassan Rouhani disse ontem que o enriquecimento diário de urânio no país é maior atualmente do que antes da conclusão do pacto, celebrado em 2015. “Hoje, não temos restrições no campo da energia nuclear”, afirmou, durante um discurso em Teerã. A despeito da declaração, expressou sua disposição de continuar o diálogo sobre a questão.
Num momento de grande tensão entre Teerã e Washington, após o bombardeio que matou o general iraniano Qassem Soleimani, Rouhani assinalou, em outro momento, que atua para evitar um confronto internacional. “O governo trabalha diariamente para impedir um enfrentamento militar ou a guerra”, assinalou, acrescentando que o diálogo do Irã com a comunidade internacional é “difícil, mas possível”.
Nos últimos meses, Teerã vinha se desligando de dispositivos do acordo. Depois do bombardeio no qual Soleimani foi morto, em Bagdá, o governo iraniano abandonou o pacto ao se desvincular de qualquer compromisso em limitar “o número de suas centrífugas”, usadas para produzir combustível nuclear.
Esse rompimento levou França, Reino Unido e Alemanha a ativarem, na terça-feira, o mecanismo de resolução de controvérsias previsto no pacto para obrigar Teerã a voltar a respeitar seus compromissos. “Nosso enriquecimento diário (de urânio) é superior ao anterior (...) ao acordo”, afirmou Rouhani, ontem, em uma passagem de seu discurso que seria dirigido aos ultraconservadores iranianos, que denunciam sua política nuclear como um fracasso absoluto.
O acordo nuclear — enfraquecido desde a saída dos EUA, em maio de 2018, retomada de sanções ao Irã — estipulava que o Irã não poderia exceder um limite de armazenamento de urânio de 300kg e nível de enriquecimento de 3,67%. Rouhani não especificou ontem o nível de produção e armazenamento. Antes do acordo de Viena, o Irã enriqueceu o urânio para 20%.
Interação
No discurso de ontem, Rouhani destacou que, com o acordo de 2015, “provamos na prática que é possível interagirmos com o mundo”. “Eles nos dizem: há pessoas em quem vocês não devem confiar”, assinalou, referindo-se às declarações dos ultraconservadores iranianos sobre a Europa e os Estados Unidos.
O presidente reconheceu que a ponderação é verdadeira, citando a natureza “imprevisível” de Donald Trump. Mas lembrou: “As pessoas nos elegeram, e uma das tarefas que nos confiaram consiste em reduzir a tensão e a animosidade (com o exterior)”.
Rouhani fez as observações na véspera de um esperado discurso do guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que presidirá a grande oração muçulmana semanal em Teerã pela primeira vez em quase oito anos.
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