Mundo

Newseum em crise: museu símbolo do jornalismo nos EUA fecha as portas

Espaço que foi vendido no coração dos Estados Unidos reflete momento difícil do setor

Correio Braziliense
postado em 21/01/2020 18:07

várias capas de jornais na paredeA poucos passos do Capitólio, em Washington, a estrutura de vidro e aço do Newseum foi, por mais de uma década, um símbolo para a imprensa e a liberdade de expressão. Mas como reflexo dos problemas enfrentados pela indústria dos meios de comunicação nos Estados Unidos — em contínua luta financeira e sob ataques de líderes políticos — o museu fechou suas portas no último dia 31 de dezembro.

 

 

 

As exposições incluiam desde os ataques do 11 de Setembro até o Muro de Berlim, bem como capas de jornal de todo o mundo, o museu anunciou no começo do ano passado que venderia seu prédio, desenhado pelo arquiteto James Polshek, para a Universidade Johns Hopkins, por 372 milhões de dólares.

 

A organização sem fins lucrativos The Freedom Forum, criada pelo fundador do USA Today, Al Neuharth, comprometeu-se a continuar sua missão de educar o público sobre a importância de uma imprensa livre, mas não informou se abrirá um novo espaço público de exposições.

 

O primeiro Newseum foi inaugurado em 1997, em Arlington, Virginia, e, em 2008, transferiu-se para um prédio de 450 milhões de dólares entre o Capitólio e a Casa Branca. Durante duas décadas, o museu recebeu cerca de 10 milhões de visitantes e sediou centenas de eventos e conferências. Mas com o preço do ingresso ultrapassando 20 dólares em uma cidade com museus de classe mundial gratuitos, o Newseum teve dificuldade para se manter de pé.

 

"O Newseum teve o papel louvável de lembrar a milhões de visitantes que a história do jornalismo é cheia de glórias, mas também de trabalhos malfeitos, que a informação pode ser libertadora e a desinformação, repressiva, e que a liberdade de imprensa sempre está sob ameaça", escreveu Michael Hiltzik no Los Angeles Times.

Uma crise que se aprofunda na imprensa

O destino do Newseum reflete um setor mergulhado em uma crise cada vez mais profunda. Milhares de jornais americanos encerraram suas atividades devido a problemas financeiros. O emprego nas redações caiu cerca de 25% na última década em todos os meios, quase metade no setor de jornais, segundo o Pew Research Center.

 

A confiança na imprensa também está diminuindo. Segundo uma pesquisa Gallup divulgada em setembro, cerca de quatro em cada 10 adultos americanos confiam "muito" ou "bastante" nos jornais, TVs e rádios, comparado com 70% na década de 1970. 

Adeus à experiência

O público que esteve no últimos dias do Newseum disse que sentirá falta do local. Cathy Cawley, de Ashland, Virgínia, contou que veio visitar o museu pela segunda vez antes de seu fechamento, por suas exposições "expansivas e bonitas": "Estava observando a parede que mostra a exposição sobre jornalistas mortos durante o exercício de sua profissão e percebi o quão importante é uma imprensa livre."

 

Julia Greenwald, professora de inglês em uma escola de Washington, trouxe um grupo de estudantes antes do fechamento do museu. "É um dos melhores museus de Washington. É triste que esteja fechando", lamentou. "No contexto político atual, é muito importante que as crianças aprendam o valor de uma imprensa livre." 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags