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Novo governo libanês realiza primeira reunião de conselho em plena crise

Apesar da recém formação do conselho de ministros, manifestantes exigem líderes que não sejam ligados à classe política atual

Correio Braziliense
postado em 22/01/2020 09:21
O Líbano encerrou uma dolorosa espera ao apresentar uma nova formação de gabinete, mas o governo foi imediatamente desprezado pelos manifestantes e enfrenta a tarefa de salvar uma economia em colapso.O novo governo libanês realiza, nesta quarta-feira (22/1), seu primeiro conselho de ministros, um dia após sua formação e uma noite marcada pela violência nas ruas do país, abalado por protestos e uma grave crise econômica.

O primeiro-ministro Hassan Diab, um professor universitário de 61 anos que prometeu responder às demandas dos manifestantes nomeando um governo de "tecnocratas independentes", presidirá este conselho de ministros.

"O governo da última chance", foi a manchete desta quarta do jornal Al-Ajbar, ideologicamente próximo ao movimento xiita do Hezbollah, a espinha dorsal desse governo.

Esta manhã, a calma parecia ter retornado a Beirute, mas em Trípoli, a grande cidade do norte do país, as escolas ainda estavam fechadas após uma noite de agitação, segundo um jornalista da AFP.

Quando o governo foi anunciado na terça-feira, os manifestantes queimaram pneus e bloquearam estradas para expressar seu descontentamento nas principais cidades do país.

Os ministros nomeados, mesmo sendo especialistas e rotulados como "tecnocratas", ainda são pessoas ligadas à classe política atual, denunciam os manifestantes, que exigem líderes que não estejam associados a uma elite corrupta e ineficiente.

Gestão do caos

Em Trípoli, onde as manifestações são especialmente ativas desde o início dos protestos, em 17 de outubro, os manifestantes quebraram as janelas de dois bancos. 

Em Beirute, várias centenas de pessoas se reuniram na noite de terça-feira em uma rua que leva ao parlamento, em frente a uma barreira policial. 

Eles tentaram atravessá-la, atiraram pedras e fogos de artifício nas forças policiais, que responderam com gás lacrimogêneo e água pressurizada. 

Em três meses de protestos, a raiva dos cidadãos não parou de aumentar. As reivindicações políticas se somam às econômicas. 

Nos últimos meses, a crise piorou com demissões em massa, restrições bancárias drásticas e uma forte depreciação da libra libanesa em relação ao dólar.

A nova equipe de governo tem diante de si uma tarefa titânica em um país que mergulhado numa dívida que atinge US$ 90 bilhões, ou seja, mais de 150% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

"A situação econômica faz parte de nossas prioridades", afirmou na terça-feira o primeiro-ministro, comprometendo-se a fornecer "o mais breve possível" uma solução para os problemas "do setor bancário e da taxa de câmbio".

"Precisamos de um pouco de tempo", disse ele. "Vamos ser rápidos, mas não vamos nos preciptar", concluiu.

Em uma economia em que o sistema bancário desempenha um papel fundamental, as autoridades terão que enfrentar uma falta de confiança dos cidadãos em relação às instituições financeiras, que estabeleceram restrições importantes na obtenção de dinheiro e nas transferências de dólares para o exterior.

O governo é formado pelo Hezbollah pró-iraniano e seus aliados, maioria no Parlamento, principalmente a formação xiita Amal e o partido Corrente Patriótica Livre, fundado pelo presidente Michel Aoun.

Os ministros são desconhecidos do público em geral, especialmente os acadêmicos.

"Nós nos opomos ao governo de Hassan Diab. Não é uma equipe de tecnocratas independentes e não responde às demandas da revolução", disse Alaa Khodor, manifestante nas ruas de Trípoli, na noite de terça-feira.

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