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Príncipe saudita pode ter participado de invasão do celular de Jeff Bezos

A análise, realizada por especialistas contratados pelo diretor da Amazon após o vazamento de informações pessoais no início de 2019, sugeriu que o celular do executivo foi invadido por "ferramentas" adquiridas por um conselheiro do líder de fato da Arábia Saudita

Correio Braziliense
postado em 22/01/2020 22:46

A análise, realizada por especialistas contratados pelo diretor da Amazon após o vazamento de informações pessoais no início de 2019, sugeriu que o celular do executivo foi invadido por O celular do diretor executivo da Amazon, Jeff Bezos, provavelmente foi invadido por um programa pirata escondido numa mensagem enviada pelo príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, segundo uma análise publicada nesta quarta-feira.

 

A análise, realizada por especialistas contratados por Bezos após o vazamento de informações pessoais no início de 2019, sugeriu que o celular do executivo foi invadido por "ferramentas" adquiridas por um conselheiro do líder de fato da Arábia Saudita.

 

A invasão que ocorreu há dois anos, gerou a publicação de imagens íntimas do presidente da Amazon, também proprietário do jornal The Washington Post para o qual trabalhava Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico do governo saudita, assassinado em 2 de outubro de 2018 no consulado de seu país em Istambul. 

 

Em uma declaração conjunta emitida em Genebra, os especialistas da ONU Agnès Callamard, relatora de execuções extrajudiciais, e David Kaye, relator sobre liberdade de expressão, consideraram que "a suposta invasão (no celular) de Bezos e de outras pessoas pedem uma investigação imediata das autoridades americanas e de outras também".

 

Para os relatores, nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, mas que não falam em nome da ONU, a suposta pirataria "reforça as informações de um programa de vigilância direcionado àqueles que são percebidos como oponentes e/ou com importância estratégica" aos olhos de Riad.

 

Callamard e Kaye indicam que receberam informações que "sugerem o possível envolvimento do príncipe herdeiro na estreita vigilância sobre (a intimidade de) Bezos, com o objetivo de influir no enfoque do Washington Post no que se refere à informação sobre a Arábia Saudita, e inclusive tentar silenciar" o jornal. 

 

Os especialistas técnicos contratados por Bezos concluíram, "com uma segurança entre média e alta, que o iPhone foi invadido por um programa maligno enviado de uma conta do WhatsApp (aplicativo de troca de mensagens) usada pelo príncipe herdeiro saudita", segundo um relatório feito pela consultoria FTI, citado pelo site Vice. 

 

- Riad classifica acusações de "absurdas" -

As autoridades sauditas consideraram as acusações "absurdas", mas o FTI afirmou que sua análise chegou a Saud al Qahtani, que já fez parte do círculo mais próximo do príncipe Salman.

 

Qahtani, demitido do governo por conta de uma investigação interna saudita sobre o caso Khashoggi, é suspeito de ter um papel-chave no assassinato do jornalista e de liderar uma campanha na internet contra Bezos e seu jornal.

 

O relatório do FTI revela que Bezos e o príncipe saudita trocaram seus números de telefone e se comunicaram através do WhatsApp após uma reunião em Los Angeles, em abril de 2018. 

 

Segundo a investigação, o aparelho poderia ter sido hackeado em 1º de maio de 2018 através de um arquivo de vídeo MP4 enviado de uma conta usada pelo príncipe herdeiro saudita para o executivo da Amazon. 

 

Poucas horas depois de receber o arquivo de vídeo, vários dados foram extraídos do telefone de Bezos, de acordo com os especialistas, que apontaram que esse vazamento de informações continuou imperceptivelmente por vários meses.

 

- Uma fracassada tentativa de chantagem -

Bezos, o homem mais rico do mundo, anunciou no início de  2019 que sofreu uma campanha de chantagem por parte do tabloide americano National Enquirer, que ameaçou publicar fotos de um relacionamento extraconjugal que ele tinha na época com Lauren Sanchez, quando ele estava em processo de separação de sua então esposa, Mackenzie Bezos. 

 

Em março de 2019, o assessor de segurança Gavin de Becker, contratado por Bezos para tentar descobrir como mensagens e fotografias particulares chegaram ao National Enquirer, afirmou que a ação teve origem na Arábia Saudita, sem identificar o responsável dentro do governo ou fornecer detalhes sobre como havia chegado a essa conclusão.  

 

De acordo com uma mensagem enviada a Bezos em fevereiro de 2019, citada no relatório da FTI, o príncipe Salman negou qualquer envolvimento no hackeamento.

 

"Jeff, tudo o que você ouviu ou foi dito (...) é uma mentira", dizia a mensagem. "Você sabe a verdade, nem eu nem a Arábia Saudita temos nada contra você ou a Amazon", acrescentou o príncipe.

 

A análise também revelou que os hackers usaram um tipo de spyware (programa automático intruso) comum em outros casos de invasão saudita, como o 'malware' Pegasus-3 da empresa NSO, de origem israelense. 

 

A NSO emitiu um comunicado no qual se mostrou "impactada e consternada" pelos relatórios que relacionam seu programa com o acesso a informações do celular de Bezos.  

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