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CIJ ordena que Mianmar adote medidas para prevenir genocídio de rohingyas

Medidas de emergência foram solicitadas pela Gâmbia para proteção da minoria muçulmana dos rohingyas

Correio Braziliense
postado em 23/01/2020 10:12
Decisão do tribunal acontece dias depois de uma comissão do governo birmanês ter concluído que alguns soldados haviam cometido crimes de guerra contra os rohingyasA Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou nesta quinta-feira (23/1) que Mianmar adote "todas as medidas" a seu alcance para evitar um possível genocídio contra a minoria muçulmana dos rohingyas.

A Corte com sede em Haia, na Holanda, acordou uma série de medidas de emergência solicitadas pela Gâmbia. O país conta com o apoio dos 57 Estados-membros da Organização de Cooperação Islâmica, além de Canadá e Holanda, que acusam Mianmar de violar a Convenção das Nações Unidas de 1948 sobre Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.

Logo depois que a CIJ declarou ser competente para decidir o caso, o juiz Abdulqawi Ahmed Yusuf anunciou que Mianmar "deve tomar todas as medidas a seu alcance para impedir a prática de qualquer ato dentro do escopo da aplicação" desta convenção.

Esses atos incluem, em particular, o "assassinato de membros do grupo rohingya" e a "submissão intencional do grupo a condições de existência que podem levar à sua destruição física total, ou parcial".

A decisão do tribunal, a primeira neste caso, acontece dias depois de uma comissão do governo birmanês ter concluído que alguns soldados haviam cometido crimes de guerra contra os rohingyas, mas que o Exército não era culpado de genocídio.

Desde agosto de 2017, cerca de 740.000 rohingyas se refugiaram no vizinho Bangladesh para fugir das atrocidades dos soldados birmaneses e de milícias budistas. Estes atos foram descritos como "genocídio" pelos investigadores da ONU.

Cerca de 600.000 rohingyas também permanecem confinados em acampamentos e aldeias em Mianmar, podendo sair apenas com permissão. Muitos têm procurado, ao longo dos anos, chegar à Tailândia, ou à Malásia.

A chefe de fato do governo birmanês, Aung San Suu Kyi, marcou a história da CIJ, o mais alto órgão judicial da ONU, defendendo seu país durante as audiências em meados de dezembro.

"Impunidade"

A CIJ ordenou que Mianmar apresente um relatório sobre as medidas adotadas para executar sua ordem dentro de quatro meses e, depois, a cada seis meses.

País de maioria muçulmana, Gâmbia pediu à Corte que ordenasse medidas de emergência até uma decisão final sobre o caso, que pode levar anos.

Em uma rara declaração conjunta na quarta-feira, mais de 100 organizações da sociedade civil birmanesa expressaram apoio às acusações apresentadas perante a CIJ contra seu país.

Segundo essas organizações, o sistema de Justiça de Mianmar é incapaz de prestar contas e simplesmente permitiu que os culpados "continuassem cometendo atos de violência impunemente".

Um porta-voz do Exército birmanês se recusou a responder a perguntas de repórteres sobre o assunto nesta quinta-feira em Naypyidaw, dizendo que "seguiria as instruções do governo".

Muito criticada pela comunidade internacional por seu silêncio neste caso, Aung San Suu Kyi rejeitou firmemente perante a CIJ as acusações de que o Exército havia agido com "intenção genocida".

A Prêmio Nobel da Paz também alertou para um processo que poderia "minar a reconciliação" das comunidades em Mianmar.

As decisões da CIJ, fundada em 1946 para resolver disputas entre Estados, são vinculativas e não estão sujeitas a recurso. No entanto, a Corte não tem meios de aplicá-las.

Mianmar está envolvida em outros processos neste caso, perante o Tribunal Penal Internacional (TPI), que está processando indivíduos, e na Argentina.

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