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Chance de prevenção

Correio Braziliense
postado em 26/01/2020 04:05
Apesar de ponderarem que mais pesquisas são necessárias para revelar os mecanismos fisiológicos e as alterações metabólicas por trás do jet lag alimentar e seu vínculo com a obesidade, os autores do estudo espanhol destacam a importância de manter horários regulares para comer e dormir a fim de preservar a saúde e o bem-estar. “Além da dieta e do exercício físico, que são dois pilares da obesidade, outro fator a ser considerado são os horários regulares, pois comprovamos que isso afeta o peso corporal”, observa Izquierdo Pulido.

O estudo também destaca a importância de serem  realizadas mais investigações científicas sobre a relação entre a irregularidade nos horários das refeições e o aumento de peso em populações com diferentes características sociais, econômicas e metabólicas de diferentes faixas etárias. “A variabilidade nos horários de alimentação aos fins de semana comparados aos demais dias da semana pode ocorrer cronicamente durante a vida de alguém. Estudos futuros devem avaliar o efeito dessa variabilidade crônica na evolução do peso”, diz o artigo.

Jejum 

Para a nutricionista Mariana Melendez, doutoranda em nutrição humana pela Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa espanhola também tem implicações nos estudos que avaliam o jejum intermitente, uma prática cada vez mais comum, que consiste em alterar a alimentação habitual com períodos prolongados sem comer ao longo do dia. “O processo metabólico é como uma orquestra, com hora certa para a entrada e a saída de hormônios. Se há uma interrupção, perde-se a cadência”, compara. “É preciso respeitar nosso ritmo de vida. Se quebrar a cadeia que acontece naturalmente no organismo, seja dormindo em horário errado ou ficando muito tempo em jejum, todo um sistema de otimização do metabolismo é alterado.”

Melendez observa que alguns estudos destacam benefícios do jejum intermitente, enquanto outros defendem que adeptos do regime emagrecem porque, ao ficarem muitas horas sem se alimentar, naturalmente ingerem menos calorias. Porém, ela afirma que a literatura científica sobre o tema ainda é muito escassa e que, até que se chegue a resultados mais robustos, não se deve desafiar o relógio biológico com objetivo de emagrecer. A nutricionista não acredita que adiar em uma ou duas horas o almoço no fim de semana seja suficiente para elevar o risco de obesidade. “Não somos robôs. Mas o estudo feito com mais de 1 mil pessoas mostra que mais de três horas e meia já pode aumentar o IMC”, alerta. (PO)

Três perguntas para

Cristiane Moulin, doutora pelo Grupo de Obesidade e Síndrome da Universidade de São Paulo (USP) e preceptora do Programa Integrado de Residência de Endocrinologia da Secretaria de Saúde do DF

O que dizem os estudos científicos sobre a relação entre o ciclo circadiano e o risco de obesidade?
Em modelos animais de roedores, permitir que os ratos comam apenas durante o tempo de sono habitual (induzindo, assim, um desalinhamento circadiano, pois os ratos devem estar acordados para comer) aumenta a massa corporal em comparação com os ratos que comem durante o tempo de vigília habitual, mesmo que a ingestão calórica ou atividade física seja semelhante. Outro estudo mostrou que manter ratos sob uma luz constante e alimentá-los com comida normal ou com alto teor de gordura resultou em ganho de peso mais rápido, em comparação com ratos que comem dietas com alto teor de gordura ou normal em um ambiente claro-escuro.

Há resultados com humanos?
Trabalhadores de turno da noite têm maior risco de distúrbios gastrointestinais, doenças cardiovasculares, diabetes e de ganho de peso. Um estudo mostrou que alteração circadiana de curto prazo (ciclo invertido de 12 horas por três dias) já leva ao aumento de pressão arterial e triglicerídeos, causa redução de HDL, além de aumentar marcadores de inflamação que podem explicar, em parte, por que trabalhadores noturnos têm risco aumentado de apresentarem hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Um estudo com modelo de trabalho por turnos mostrou que dormir durante o dia e acordar e comer durante a noite levam à diminuição do gasto energético de 24 horas, o que colabora para o ganho de peso. Quando comemos, há um aumento do gasto energético por conta dos processos de digestão, absorção e utilização dos nutrientes. Esse efeito é chamado de termogênese induzida por dieta, que corresponde a cerca de 10% do gasto de calorias que acontece em um dia (24 horas). E também foi observado, em pessoas que trabalham em turnos, uma diminuição do gasto de energia em resposta a uma refeição, quando realizada à noite.

Tentar se alimentar sempre nos mesmos horários pode ajudar a reduzir o risco de obesidade?
Embora a dieta e a atividade física sejam reconhecidas como fatores primários que contribuem para a má saúde metabólica, a duração do sono, a qualidade e o tempo circadiano da ingestão de alimentos precisam ser considerados como contribuintes subjacentes. Há evidências de que uma rotina de horário de refeições possa até contribuir para melhora no padrão do sono. Porém, pesquisas adicionais são necessárias para entender os mecanismos pelos quais o sono e as perturbações circadianas contribuem para a desregulação/alteração metabólica e para determinar o potencial de melhorar os ritmos circadianos e do sono e o agendamento de atividades diárias (por exemplo, ingestão de alimentos) para promover saúde metabólica. (PO)
 

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