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Contaminação mais rápida do coronavírus

Autoridades de saúde do país afirmam que novo surto é menos potente e mais contagioso do que a Sars, que provocou epidemia mortal em 2002-2003. Capacidade de transmissão do vírus, que já matou 80 pessoas, aumentou e contágio pode ocorrer no período de incubação

Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 04:34
Autoridades de saúde do país afirmam que novo surto é menos potente e mais contagioso do que a Sars, que provocou epidemia mortal em 2002-2003. Capacidade de transmissão do vírus, que já matou 80 pessoas, aumentou e contágio pode ocorrer no período de incubação
O coronavírus, que contaminou cerca de duas mil pessoas na China e matou 80, até agora, “não é tão potente” quanto o vírus da Sars, a origem de uma epidemia mortal em 2002-2003, mas é mais contagioso, conforme informaram, ontem, funcionários da saúde chineses.

Com surgimento em Wuhan, no centro do país, em dezembro, o vírus causador da doença pertence à família dos coronavírus — assim como o da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) —que são transmitidos entre humanos e causam sérios problemas respiratórios. 

“Aparentemente, até agora, esta doença não é (...) tão potente quanto a Sars”, disse Gao Fu, chefe do Centro chinês de Controle e Prevenção de Doenças, durante uma conferência de imprensa. No entanto, parece que “a capacidade de propagação do vírus se reforçou”, destacou Ma Xiaowei, presidente da Comissão Nacional de Saúde. O novo vírus tem um período de incubação de até duas semanas e “é possível o contágio durante o período de incubação”, explicou Ma, frisando que é, portanto, “muito diferente da Sars”.

A taxa de mortalidade desse coronavírus “é inferior a 5%”, concordou o professor francês Yazdan Yazdanpanah, especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS), em comparação com 9,5% da Sars, que causou 774 mortes em todo o mundo (incluindo 349 na China continental e 299, em Hong Kong).

O vírus da Sars, transmitido por animais, revelou há 17 anos o perigo envolvendo o comércio de espécimes selvagens, uma prática generalizada que, segundo os cientistas, representa um risco significativo para a saúde humana, como evidenciado pela aparição do coronavírus. Essa nova ameaça teria começado em animais silvestres vendidos para consumo humano.

Embora ainda não se tenha chegado a uma conclusão sobre a origem da epidemia, as autoridades de saúde chinesas apontam para espécies selvagens que eram vendidas ilegalmente no mercado de Wuhan, local de comercialização de animais vivos tão variados quanto ratos, coiotes e salamandras gigantes.

Ontem, Pequim anunciou uma proibição temporária do comércio de animais silvestres. A venda de carne dessas espécies, além de contribuir para a destruição de habitats, faz com que os seres humanos tenham contato cada vez mais próximo com vírus que eles carregam e que podem se espalhar rapidamente em nosso mundo ultraconectado, como explicou Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, uma ONG especializada na prevenção de doenças infecciosas.

De acordo com o projeto Global Virome, que visa melhorar a maneira de lidar com as pandemias, existem mais de 1,7 milhão de vírus não descobertos na vida selvagem e quase metade deles pode ser prejudicial aos seres humanos. “A nova regra será a de pandemias com cada vez mais frequência”, avisou Daszak, enfatizando que “estamos cada vez mais em contato com animais portadores desses vírus”.

Diana Bell, bióloga especializada em doenças e proteção da vida selvagem na Universidade de East Anglia (Reino Unido), ressaltou que, “para o futuro das espécies selvagens e para a saúde humana, precisamos reduzir o consumo desses animais”.

Ainda assim, o consumo de carne desses animais não é necessariamente perigoso, uma vez que a maioria dos vírus morre quando o portador morre. No entanto, elementos patogênicos podem ser transmitidos aos seres humanos durante sua captura, transporte ou abate, principalmente se forem realizados em condições sanitárias precárias ou sem equipamento de proteção. 

Feriado

As autoridades chinesas anunciaram, ontem, planos para estender o feriado do Ano-Novo Lunar, originalmente previsto para terminar na quinta-feira, como medida-chave para controlar o surto. O feriado começou no dia 24.

A decisão foi divulgada pela agência de notícias oficial da China Xinhua, em comunicado depois que o grupo líder do Comitê Central do Partido Comunista da China (CPC), sobre prevenção e controle do novo surto de coronavírus, realizou uma reunião para definir planos de trabalho. 

Entre as medidas enfatizadas pelo grupo estão: necessidade de concentrar e fortalecer o trabalho de prevenção em Hubei e Wuhan; enviar grupos para Hubei para direcionar o trabalho na região; coordenar recursos em todo o país para priorizar o fornecimento de pessoal médico e de produtos, como roupas de proteção e máscaras faciais; abrir “passagens verdes” para garantir o transporte dos suprimentos; acelerar a construção de hospitais designados para tratar pacientes infectados e transformar hotéis em áreas de quarentena.


Origem de doenças
A origem animal de várias doenças infecciosas que surgiram desde os anos 1980 foi estabelecida: o civet — um pequeno carnívoro — para a Sars, que causou centenas de mortes na China e em Hong Kong em 2002-2003; o morcego, em relação ao ebola; e o macaco, na origem do HIV (vírus da aids). A carne de aves e gado pode ter deflagrado doenças como Creutzfeldt-Jakob e gripe aviária.



Prédio em Hong Kong é incendiado
Manifestantes lançaram, ontem à noite, coquetéis molotov contra um prédio desocupado em Hong Kong que foi escolhido para ser uma área de quarentena para pessoas que podem ser portadoras do coronavírus. Autoridades locais decretaram a epidemia, que começou no centro da China, uma emergência pública, e anunciaram uma série de medidas no sábado. Até o momento, seis casos foram detectados no território autônomo. Entre as medidas adotadas estão a transformação de um prédio recentemente concluído, mas ainda vazio, no distrito de Fanling, em local de quarentena temporária. Dezenas de pessoas se reuniram, ontem, perto do prédio, e protestaram contra essa instalação. Algumas pessoas bloquearam as ruas e jogaram coquetéis molotov no edifício. Depois que a manifestação foi dispersada pela polícia, o Centro de Proteção à Saúde disse que os planos para transformar o local em um centro de quarentena estavam suspensos.
 
 

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