Correio Braziliense
postado em 28/01/2020 04:20
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometem anunciar hoje, ao meio-dia (14h em Brasília), um plano de paz considerado natimorto pelas lideranças palestinas, que não foram convidadas por Washington. “É um plano muito importante para a paz no Oriente Médio. Não importa onde eu vá, eles dizem: ‘Israel e os palestinos, eles têm de fazer a paz antes que você possa realmente ter paz no Oriente Médio”, declarou o republicano. “Acho que estamos relativamente próximos disso, mas temos que fazer com que outras pessoas também concordem.” Em entrevista ao Correio, Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) (Leia Três perguntas para), disse que “a paz não é a meta final de Trump”. O magnata aposta que, “no fim, os palestinos desejarão o acordo”. Os diálogos de paz entre israelenses e palestinos entraram em colapso em 2014, durante o governo de Barack Obama.
Por sua vez, Netanyahu afirmou que o “acordo do século é a oportunidade do século” e prometeu não desperdiçá-la. “Eu quero agradecer-lhe por tudo o que você tem feito pelo Estado de Israel. Você tem sido o maior amigo que Israel teve na Casa Branca, e acho que amanhã (hoje) nós podemos continuar a fazer história”, comentou, ao citar o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense; a transferência da Embaixada dos EUA de Tel-Aviv; o reconhecimento da soberania de Israel sobre as Colinas de Golã; bem como os direitos de seu povo sobre Judeia e Samaria. “Nós conversaremos sobre o plano; eu falarei sobre o plano — sobre a visão da paz, que é histórica”, sublinhou Netanyahu, antes da reunião bilateral de ontem, no Salão Oval da Casa Branca.
O The Jerusalem Post informou que Trump apresentará um mapa detalhado das fronteiras entre Israel e um futuro Estado palestino, algo que nenhum outro presidente americano tinha feito. Com base em um rascunho obtido, o jornal israelense divulgou que o plano incluirá a anexação de todos os assentamentos da Cisjordânia por Israel, além da maior parte do Vale do Rio Jordão, onde vivem 75 mil palestinos. A inclusão desta região é considerada sensível, pois representa uma ameaça à relação estável entre Israel e Jordânia. Benny Gantz, adversário de Netanyahu nas eleições de 2 de março, avisou que implementará o plano de Trump “em conjunto com outros países do Oriente Médio”. “O plano de paz do presidente é um marco significativo e histórico. Imediatamente depois da eleição, trabalharei para implementá-lo dentro de um governo israelense que funcione de maneira estável”, anunciou.
Professor da Universidade de Belém (Cisjordânia) e da Universidade de Al-Quds, Bishara Bahbah explicou à reportagem que os palestinos esperavam garantias de que o plano de Trump seria baseado em uma solução de dois Estados, com fronteiras anteriores a 1967. “Os americanos se recusaram a oferecer tais garantias. Os palestinos estão zangados com o fato de Trump ter reconhecido Jerusalém como capital, trasladado sua embaixada e considerado que os assentamentos não são ilegais. Além disso, os EUA cortaram toda a ajuda aos palestinos e fecharam o escritório da UNRWA em Washington”, lembrou.
De acordo com Bahbah, sem um acordo de paz, Israel continuará a construir mais assentamentos judaicos e a confiscar terras palestinas. “Os palestinos não podem ser dar ao luxo de ignorar um plano de paz, por mais inadequado que seja”, advertiu. No entanto, o especialista árabe confirma que o plano de Trump não contempla a solução de dois Estados nem se baseia em resoluções do Conselho de Segurança da ONU. “De muitas maneiras, ele favorece Israel e ignora as preocupações dos palestinos. Dá a Israel a maior parte do que pretende fazer na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental”, acrescentou.
“É o acordo do século, certamente, mas somente para Israel. Espera-se que o plano anuncie o reconhecimento sem precedentes dos assentamentos como território israelense, enquanto essas colônias são territórios ocupados, construídos sobre áreas palestinas”, disse ao Correio Bader Al-Saif, especialista do Carnegie Endowment for International Peace e professor da Universidade do Kuweit. Segundo ele, o plano foi desenhado para apoiar os direitos de Israel às custas dos palestinos. “O anúncio vem uma hora crítica, que busca ajudar Trump a desviar atenção do impeachment e apoiar seu amigo de longa data, Netanyahu, nas eleições.”
"O acordo do século é a oportunidade do século, e não vamos deixá-lo passar”
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel
Estado Islâmico ameaça atacar judeus
Em mensagem de áudio, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) afirmou que vai lançar “nova fase” de sua “jihad” (guerra santa), visando atingir Israel. O anúncio foi feito na véspera da apresentação do plano de paz para o Oriente Médio. “O novo chefe do EI, Abu Ibrahim Al-Hashemi Al-Qurachi, está determinado a entrar em nova fase, que nada mais é do que combater os judeus e devolver o que roubaram dos muçulmanos”, disse o porta-voz Abu Hamza El-Qurachi, em áudio publicado no Telegram. “Os olhos dos soldados do califado, onde quer que estejam, estão fixos em Jerusalém.” A facção terrorista criticou o “Plano Trump” sobre a paz no Oriente Médio. “Para os muçulmanos na Palestina e em todo mundo (…), sejam a ogiva da luta contra os judeus.”
Três perguntas para
Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)
Por que a liderança palestina rejeita conversar com Trump sobre o novo plano de paz?
Sejamos precisos. Para começar, isso não pode ser chamado de “plano de paz”. A visão da equipe de Trump foi implementada sobre o seguinte fundamento: legalização dos assentamentos, anexação e perpetuação do controle de Israel sobre a terra e o povo palestino. O que há para apoiar nisso?
Este plano está natimorto, então?
Este não é um plano de paz. É uma tentativa de salvar a eleição de Netanyahu e de desviar a atenção do impeachment de Trump.
Quais são as principais críticas dos palestinos a essa proposta?
Eu acho que temos de ser claros que a Palestina não aceitará nada mais ou menos do que aquilo que o direito internacional nos fornece. O que Trump e sua equipe estão tentando fazer é minar todo o sistema internacional, não apenas na Palestina. Veja o que eles têm feito em Jerusalém. Veja o que tentaram fazer com a UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente). Não estamos inventando nada. Isso tudo tem sido feito. (RC)
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