O presidente americano, Donald Trump, revelou nesta terça-feira (28) seu plano de paz para o Oriente Médio, baseado em uma solução de "dois Estados", que dá a Israel uma série de concessões que se espera que provoquem fortes reações entre os palestinos.
"Minha visão apresenta (...) uma solução realista de dois Estados", disse Trump, dando garantias sem precedentes ao seu "amigo", o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que disse que este era "um dia histórico".
Otimista, o presidente americano avaliou que sua iniciativa permitiria dar "um grande passo rumo à paz".
Mas o movimento Hamas, o primeiro a reagir no campo palestino, o repudiou de imediato. O movimento islamita controla a Faixa de Gaza, um enclave palestino de dois milhões de habitantes, separados geograficamente da Cisjordânia, onde a autoridade do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, é limitada.
O plano americano "não será aprovado" e inclusive poderá levar os palestinos a uma "nova etapa" de sua luta, advertiu Ismail Haniyeh, líder do Hamas.
Em Ramallah, ao final de uma reunião com facções palestinas, incluindo o Hamas, sobre os passos a seguir após o anúncio de Trump, Abbas também reagiu dizendo que o plano americano "não passará".
O futuro Estado palestino só verá a luz do dia sob várias "condições", incluindo "um claro repúdio ao terrorismo", destacou Trump ao explicar seu plano "muito detalhado" de 80 páginas.
A Casa Branca informou que o plano propõe um Estado palestino "desmilitarizado".
Publicou, ainda, um mapa com as futuras fronteiras que contém 15 assentamentos israelenses, ligados à área da Faixa de Gaza por um único túnel. Isto tecnicamente cumpriria com a promessa de Trump de um Estado palestino contíguo.
Jerusalém continuaria sendo "a capital indivisível de Israel", afirmou, embora também tenha proposto criar uma capital do Estado palestino em Jerusalém oriental, sem explicar como as duas coisas serão conciliadas.
Os palestinos querem fazer de Jerusalém oriental, parte da cidade ocupada desde 1967 por Israel e em seguida anexada, a capital do futuro Estado a que aspiram.
O primeiro-ministro israelense, por sua vez, enfatizou que o plano da Casa Branca daria a Israel soberania sobre o Vale do Jordão, uma vasta área estratégica da Cisjordânia ocupada, onde o exército israelense acaba de fortalecer sua presença.
Netanyahu informou ainda que os refugiados palestinos não terão direito a voltar a Israel, enquanto se disse disposto a acordar com os palestinos "um caminho para um futuro Estado", embora tenha dado como condição que reconheçam o "Estado judaico".
- "Última oportunidade" -
Trump enfatizou sua convicção de que os palestinos merecem "uma vida melhor", mas dirigiu a eles uma advertência.
Disse que havia enviado uma carta ao presidente Mahmud Abbas, exortando-o a aproveitar "uma oportunidade histórica", talvez "a última", para conseguir um Estado independente.
"Expliquei-lhe que o território atribuído ao seu novo Estado permanecerá aberto e sem desenvolver (com colônias israelenses) por um período de quatro anos", disse.
Trump, um bilionário do setor imobiliário de Nova York que se vangloria de ser um negociador incomum, confiou há três anos ao seu genro e assessor, Jared Kushner, um novato na política, a tarefa espinhosa de elaborar uma proposta que provavelmente levaria ao "acordo final" de paz entre israelenses e palestinos.
O objetivo do presidente republicano é ter êxito onde todos os seus antecessores fracassaram. Mas a missão promete ser muito difícil.
Segundo altos funcionários palestinos, Abbas recusou nos últimos meses as ofertas de diálogo do presidente americano e considerou seu plano morto antes de conhecê-lo.
O primeiro-ministro palestino, Mohammed Shtayyeh, exortou nesta segunda as potências internacionais a boicotarem o plano que, segundo ele, foi projetado "para proteger Trump do impeachment e Netanyahu da prisão".
Trump enfrenta um julgamento político no Senado e Netanyahu luta contra um escândalo de corrupção crescente.
Faltando pouco mais de um mês para novas eleições em Israel, que se antecipam muito disputadas, Trump também recebeu na segunda-feira o principal adversário de Netanyahu, Benny Gantz.
- "Acordo do século" -
Mas foi com "Bibi" que Trump escolheu aparecer diante das câmeras, e o primeiro-ministro de Israel, que viajará a Moscou na quarta-feira para informar o presidente russo, Vladimir Putin, sobre os detalhes do plano, não escondeu seu entusiasmo.
"Senhor presidente, seu acordo do século é a oportunidade do século", disse Netanyahu na Casa Branca.
Antes mesmo de sua chegada à Rússia, o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, disse que israelenses e palestinos deveriam iniciar "negociações diretas" para encontrar um "compromisso mutuamente aceitável" após a apresentação do plano desenhado por Trump.
"É preciso iniciar negociações diretas para chegar a um compromisso mutuamente aceitável. Não sabemos se a proposta americana é mutuamente aceitável ou não. Temos que esperar para ver a reação das partes", declarou Bogdanov a agências russas de notícias.
Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), havia dito no domingo que se reservava o direito de se retirar dos acordos de Oslo, que enquadram suas relações com Israel.
Segundo o acordo provisório de Oslo II, de setembro de 1995, entre a OLP e Israel, a Cisjordânia tinha sido dividida em três zonas: A, sob controle civil e de segurança palestino; B, sob controle de segurança civil palestino e israelense, e C, sob controle civil e de segurança israelense. No entanto, o plano de Donald Trump "transformará a ocupação temporária em ocupação permanente", disse Saeb Erekat.
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