Correio Braziliense
postado em 30/01/2020 04:06
"É a data mais importante desde que Henrique VIII nos tirou da Igreja de Roma. Vamos sair do Tratado de Roma”
Nigel Farage, líder do Partido do Brexit
Nigel Farage, líder do Partido do Brexit
Tudo pronto para a saída, amanhã, do Reino Unido da União Europeia. Após um debate marcado pela emoção, o Parlamento Europeu ratificou, ontem, o acordo celebrado entre Londres e Bruxelas, a última formalidade necessária para o “divórcio”. Por 621 votos a favor, 49 contra e 13 abstenções, os eurodeputados validaram os termos do Brexit.
“Somente na agonia da separação olhamos para a profundidade do amor”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que citou o poeta britânico George Eliot. “Sempre te amaremos e nunca estaremos longe”, acrescentou.
No momento em que o respaldo já era dado como certo, o protagonismo da sessão ficou com os deputados britânicos, que se despediam da tribuna europeia, em especial para Nigel Farage, líder do Partido do Brexit e histórico opositor da UE no hemiciclo. Para ele, o evento marcou “um ponto sem retorno”. Ele acredita que países como Dinamarca, Itália ou Polônia seguirão os passos do Reino Unido.
Satisfeito por ter interpretado “o vilão” durante o processo de divórcio britânico do bloco europeu, Farage alimentou a oposição à UE com vídeos no YouTube e intervenções teatrais. Ele comparou o momento à a ruptura do Reino Unido com o catolicismo, em 1534. “É a data mais importante desde que Henrique VIII nos tirou da Igreja de Roma. Vamos sair do Tratado de Roma”, declarou Farage.
Em contraste à celebração de Farage, a líder dos social-democratas (S&D) no hemiciclo, a espanhola Iratxe Garcia, foi às lágrimas ao se despedir de seus colegas britânicos. “É um dia triste para o nosso Parlamento”, lamentou David Sassoli, presidente da instituição durante a pequena cerimônia organizada por seu partido. “Em um dia como este, devemos nos unir ainda mais”, ressaltou.
Discrição
Ao contrário dos partidários do Brexit, que celebraram com entusiasmo o fim do processo, as instituições europeias mantiveram a discrição. A assinatura oficial do acordo, na sexta-feira passada, pelos presidentes da Comissão e do Conselho Europeus aconteceu de madrugada e sem jornalistas.
A Eurocâmara parece seguir a mesma linha. Seu presidente convocou uma cerimônia curta após a votação. A retirada das bandeiras britânicas das instituições europeias não terá uma cerimônia oficial.
“Isso será feito com toda a dignidade necessária”, afirmou, no entanto, uma porta-voz do Parlamento Europeu, ao informar que um exemplar da Union Jack, a bandeira do Reino Unido, será conservado na Casa da História Europeia de Bruxelas.
Na verdade, a formalização do divórcio, amanhã, dá início a um novo capítulo na novela do Brexit, com a abertura de um período de negociações igualmente difícil: o de transição, que deve se estender até o fim de dezembro. Nessa fase, o Reino Unido continuará a aplicar as regras comunitárias; a UE e Londres terão que definir seu futuro relacionamento.
Michel Barnier, negociador do bloco europeu, apresentou, ontem mesmo, o projeto de mandato de negociação à Comissão Europeia. O documento, porém, não será tornado público até segunda-feira, quando o Reino Unido se tornar um país terceiro. “O dia da partida britânica certamente não é de comemoração, mas de tristeza”, comentou o comissário europeu Maros Sefcovic em entrevista coletiva. “Mas, agora, passamos ao próximo capítulo.”
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