O papa Francisco recebeu nesta sexta-feira (31) no Vaticano o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, em uma audiência privada particularmente longa, marcada pela cordialidade, na qual falaram da pobreza e da dívida que flagela esse país sul-americano.
"Santo Padre, que bom te ver!", disse o presidente antes de entrar na biblioteca privada do pontífice no segundo andar do palácio apostólico.
"Bem-vindo!", respondeu o pontífice, que brincou com o mandatário ao convidá-lo para entrar. "Primeiro o coroinha", afirmou.
Com esse gesto simpático, o pontífice argentino marcou o tom do encontro, de 44 minutos, muito mais longo do que o que costuma conceder a outros presidentes, inclusive ao antecessor de Fernández, Mauricio Macri.
Os dois líderes, que se conhecem há anos, trataram de vários temas de interesse comum, entre eles o alívio da dívida externa argentina, uma prioridade do governo de Fernández.
"Foi examinada a situação do país, especialmente em relação a alguns problemas como a crise econômica financeira, a luta contra a pobreza, a corrupção, o narcotráfico, a ascensão social e a proteção da vida desde sua concepção", resumiu o Vaticano em um curto comunicado.
Em uma coletiva de imprensa diante da embaixada argentina, em frente à Santa Sé, o mandatário peronista de centro esquerda, que chegou ao poder em dezembro, contou que eles falaram "muito" sobre pobreza e dívida externa, temas nos quais ambos têm muitos pontos de vista em comum.
"O papa já está nos ajudando muito, e aprecio isso. Porque é um argentino preocupado com sua pátria e com seu povo. A dívida trouxe pobreza à sociedade", explicou Fernández.
"O papa vai fazer o que puder para nos ajudar", acrescentou.
O mandatário argentino recebeu um país em recessão desde meados de 2018, com um dos índices de inflação mais altos do mundo (53,8% em 2019) e pobreza de cerca de 40% da população.
O novo governo argentino também está empenhado em uma série de negociações com os credores pela dívida externa, que representa 91,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
Na semana que vem, um seminário organizado no Vaticano representa mais uma oportunidade de diálogo, pois contará com a presença da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, e do ministro argentino da Economia, Martín Guzmán.
- Sem aborto, nem viagem à Argentina -
Ao fim da reunião, o papa recebeu a delegação argentina, formada pela mulher do presidente, Fabiola Yánez, e pelo chanceler Felipe Solá.
Durante a tradicional troca de presentes, o papa deu a Fernández uma escultura de bronze dedicada à paz.
"É o que quero de vocês, que sejam mensageiros da paz", disse o pontífice.
O presidente admitiu, mais tarde, que eles não abordaram dois temas delicados para Francisco: a legalização do aborto, defendida abertamente por Fernández, e uma eventual viagem do papa a seu país de origem.
O mandatário sul-americano explicou que não quis convidar o papa para visitar seu país. "A maior pressão seria enviá-lo um convite", afirmou.
A falta de visita de Francisco a sua terra natal é um tema sensível, que gera diversas conjecturas.
"O papa é uma figura transcendental, está muito além dos argentinos, é da humanidade". acrescentou.
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