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China é alvo de críticas após morte de médico que alertou sobre epidemia

Ao descobrir o novo coronavírus e alertar colegas, Li Wenliang foi convocado pela polícia para prestar esclarecimentos e foi censurado

Correio Braziliense
postado em 07/02/2020 11:54
Alguns dias antes da 1° morte o dr. Li teve de assinar uma autocrítica perante a polícia, na qual prometeu não cometer mais A morte de um jovem médico chinês que foi repreendido pelas autoridades por alertar sobre a ameaça do novo coronavírus desencadeou nesta sexta-feira (7/2) uma série de críticas nas redes sociais contra as autoridades chinesas e a favor da liberdade de expressão.

"É possível reprimir tudo, menos a dor", escreveu um internauta na rede social Weibo, o equivalente chinês do Twitter, horas após a morte do Dr. Li Wenliang, vítima do novo coronavírus, em um hospital em Wuhan (centro). A cidade é considerada epicentro da epidemia.

No final de dezembro, o oftalmologista enviou uma mensagem eletrônica para seus colegas sobre o aparecimento de um coronavírus na cidade. Por essa razão, foi convocado pela polícia para prestar esclarecimentos, sendo censurado por "espalhar boatos".

Sua morte devido ao coronavírus, aos 34 anos, causou grande tristeza e raiva nas redes sociais. O médico se tornou um herói nacional, enquanto as autoridades locais são criticadas e acusadas de quererem esconder a gravidade da epidemia.

O governo é criticado por falta de transparência, como aconteceu em 2002-2003 com a epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que deixou cerca de 800 mortos em todo mundo, a maioria na China.

O novo coronavírus já causou mais de 630 mortes, a grande maioria em Wuhan e sua região, e a hashtag "Quero liberdade de expressão" multiplicou no Weibo, antes de ser censurado.

"Os chineses têm apenas um tipo de liberdade, que é a concedida pelo governo e pelo partido comunista", denuncia um internauta. "Mas devemos ser os donos das leis deste país", completou.

Um pouco de esperança

Enquanto os primeiros casos da misteriosa pneumonia apareceram em 8 de dezembro em Wuhan, os habitantes começaram a usar máscaras protetoras por volta de 20 de janeiro, pouco antes da quarentena de fato da cidade.

Em 11 de janeiro, a primeira morte foi anunciada. Alguns dias antes, o dr. Li teve de assinar uma autocrítica perante a polícia, na qual prometeu não cometer mais "atos contrários à lei".

Desde a noite de quinta-feira, a mídia estatal anunciou sua morte, que foi confirmada somente nesta sexta de manhã pelo Hospital Central de Wuhan.

Para o cientista político Dali Yang, da Universidade de Chicago, as autoridades provavelmente ordenaram um adiamento do anúncio oficial "para devolver alguma esperança à onda de comoção" que tomou conta do país.

Embora nas últimas semanas as autoridades tenham ignorado algumas críticas contra políticos locais, os comentários publicados desde a morte do médico ameaçam diretamente a natureza autoritária do regime.

Alguns internautas recordaram que Wuhan foi o berço da revolução de 1911, que derrubou o último imperador da China. "O império está morto há mais de um século. Como é possível que essas tragédias continuem ocorrendo?", questionou um usuário do Weibo.

Os censores excluem rapidamente, porém, muitos dos comentários.

"Se excluírem, poste de novo. Não se pode criminalizar o uso livre da palavra", instiga um internauta.

Em uma de suas últimas mensagens nas redes sociais, o médico falecido mal conseguia se mexer e conversar.

"Não se preocupem comigo. Continuarei o tratamento e lutarei para sair do hospital em breve", disse ele.

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