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Tailândia: massacre em shopping deixou 29 mortos; assassino foi abatido

Prayut, ex-chefe do Exército, evocou um ''problema pessoal'' relacionado à venda de uma casa para explicar a ação do militar

Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 06:00

Clientes do Terminal 21 deixam o centro comercial, às pressas, ao serem resgatados, na madrugada deste domingo (9/2)O massacre cometido por um soldado no noroeste da Tailândia deixou 29 mortos, anunciaram neste domingo (9/2) as autoridades de Nakhon Ratchasima (nordeste da Tailândia, a 250km de Bangcoc), que alegaram “razões pessoais” para o crime “sem precedentes” no país. Depois de uma madrugada inteira pontuada por tiroteios e por imagens de uma multidão fugindo do shopping, palco de uma verdadeira carnificina, as tropas de elite abateram o agressor no início da manhã deste domingo (9/2), encerrando uma ação sangrenta de 17 horas.


Horas depois, centenas de pessoas se reuniram perto do shopping, acenderam velas e rezaram em memória das vítimas, enquanto monges recitavam suas orações. Vinte e nove pessoas, incluindo civis — o mais jovem de 13 anos — e membros das forças de ordem, foram mortas pelo subtenente Jakrapanth Thomma. “Isso é inédito na Tailândia e quero que seja a última vez”, disse o primeiro-ministro da Tailândia, Prayut Chan-O-Cha, no Hospital Nakhon Ratchasima, onde as vítimas, incluindo duas gravemente feridas no cérebro, estavam internadas.

Prayut, ex-chefe do Exército, evocou um “problema pessoal” relacionado à venda de uma casa para explicar a ação do militar. Jakrapanth utilizou uma metralhadora M60, um fuzil de assalto e munição que roubou de sua base militar, uma das maiores da Tailândia. Segundo o primeiro-ministro, a segurança no arsenal da base foi reforçada. “Não foi negligência. Não deixamos o depósito do arsenal sem vigilância — havia pessoas vigiando”, disse ele. A maioria das vítimas foi morta dentro e ao redor do shopping.

Durante a noite, foram ouvidas trocas de tiros e houve a retirada de pessoas do prédio em pequenos grupos. No ataque, um policial foi morto. Vários sobreviventes relataram como um dia normal de compras no sábado em um shopping movimentado se transformou em terror.

Sobreviventes

“Era como se fosse um pesadelo. Estou feliz por estar vivo”, disse à agência France-Presse (AFP) Sottiyanee Unchalee, de 48 anos, que havia se escondido no banheiro quando ouviu os tiros. Um professor filipino, Aldrin Baliquing, contou à AFP que se protegeu nos fundos de uma loja junto com funcionários no início do tiroteio. “Ficamos lá por seis longas horas. Ainda estou em choque”, disse ele.

Dezenas de pessoas tentavam fugir quando a polícia e soldados mascarados armados com rifles de assalto assumiram o controle do térreo após um tiroteio e evacuaram o prédio em pequenos grupos. Poucas horas depois, o soldado entrincheirado foi abatido, e os atiradores de elite foram vistos saindo do shopping, sorrindo.

Apesar dos primeiros elementos fornecidos pelo primeiro-ministro, as motivações exatas do agressor permanecem incertas, enquanto Nakhon Ratchasima, uma cidade pacífica de tamanho médio, tomava ciência da escala das atrocidades.

O massacre começou no fim da tarde de sábado em uma base militar, onde três pessoas morreram, primeiro na casa de um oficial e depois no quartel, onde o soldado roubou armas e um veículo militar para chegar ao centro da cidade. Lá, o assassino entrou no shopping e abriu fogo aleatoriamente, causando uma carnificina. Ele postou vídeos e fotos, além de várias mensagens em sua página no Facebook, como “Devo me render?”, ou até mesmo: “Ninguém pode escapar da morte”.

Em um vídeo, que já foi excluído, Jakrapanth, usando um capacete do exército, filmava em seu jipe dizendo: “Estou cansado (...) não posso mais pressionar o dedo”, imitando a forma de um gatilho com a mão. Fotos de um homem usando uma máscara de esqui e brandindo uma pistola também foram publicadas. Uma porta-voz do Facebook disse à AFP que a rede social “fechou a conta do atirador e trabalha dia e noite para remover qualquer conteúdo ilegal relacionado ao ataque”. A Tailândia é um dos países do mundo com o maior número de armas em circulação. No fim do ano passado, vários tiroteios  despertaram preocupação no país do sudeste asiático.

Relato: 

Jon Fielding, 32 anos, professor de inglês, mora em Nakhon Ratchasima (nordeste da Tailândia) desde 2017. Ele estava no shopping center Terminal 21, quando o soldado Jakrapanth Thomma entrou no local e matou pelo menos 26 pessoas, após executar outras três no quartel.  Ele deu este depoimento exclusivo ao Correio e enviou o vídeo que fez durante o resgate no shopping:

 

"Eu estava com um amigo no shopping center Terminal 21, no último sábado. Nós tínhamos acabado de subir ao ambiente panorâmico (sky deck) para dar uma olhada na cidade, do alto, e estávamos descendo até a saída. Eu soube que algo estava errado porque todo mundo que estava na frente do shopping começou a correr, a gritar e a se esconder. Eu não sabia o que tinha ocorrido, mas minha primeira reação era de que havia um atentado terrorista. Meu amigo e eu nos abaixamos e corremos para nos escondermos atrás de uma pilastra. Todos estavam correndo para as lojas e restaurantes, e usando portas como barricadas. Nós fomos a um restaurante próximo, onde outras pessoas se escondiam, e elas sinalizaram para que nos juntássemos ao grupo. Eu perguntei o que estava acontecendo e uma garota respondeu que se tratava de um atirador.

 

Eu não vi o atirador. Quando escutamos que ele era um soldado altamente treinado, com armas automáticas e granadas, decidimos nos esconder dentro da cozinha escura de um restaurante. As notícias chegaram depois. Diziam que ele estava no quarto andar com reféns, o mesmo pavimento onde nos escondíamos. Nós ficamos ali por cinco horas. Era uma  cozinha minúscula, e havia outras 16 pessoas. Todos seguíamos pelos sites de notícias o que estava ocorrendo e mandávamos mensagens aos familiares. Havia informações controversas. Por várias vezes, recebi mensagens de que o atirador tinha sido baleado e morto. Mas eram apenas fake news.

 

Ficar escondido por cinco horas naquela cozinha pequena e escuta foi bem estressante. Todos estávamos bem calmos, mas algumas pessoas começaram a chorar. Muitas checavam o Twitter e o Facebook, em busca de atualizações dos fatos. Tentei ficar calmo para estar pronto, caso ele se aproximasse. Ficamos na cozinha, e muitos de nós tínhamos facas e cutelos prontos para serem usados. Depois de poucas horas, as pessoas começaram a usar panelas e tachos para fazer suas necessidades. Também estava muito calor e as pessoas estavam com sede. Eu fiquei com medo, mas tentei afastar pensamentos sobre morte. Eventualmente, escutamos uma  voz chamando pelas persianas do restaurante. Era a polícia. De alguma forma, estavam esvaziando o quarto andar. Não sabia se o atirador tinha sido pego ou baleado. Na saída, pude me ver muitos danos causados pelo tiroteio."

 

 

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