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Parasita faz história em Hollywood

Filme sul-coreano conquista prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor filme internacional e melhor roteiro original. Joaquin Phoenix confirma favoritismo absoluto por Coringa. Documentário brasileiro Democracia em vertigem frustra as expectativas

Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 04:05
Joaquin Phoenix se emocionou ao receber estatueta e pediu compaixão


Uma surpresa impactante veio na categoria de melhor direção (Bong Joon Ho) e reverteu toda a expectativa da cerimônia de entrega do Oscar: Parasita venceu, e fez história, trazendo, pela primeira vez, um vencedor estrangeiro como melhor filme e melhor filme internacional. A glória da produção sul-coreana não parou por aí. Parasita também arrebatou a estatueta de melhor roteiro original (dividida com Han Jin Won). Foi a primeira participação da Coreia do Sul na maior festa do cinema mundial. O pioneirismo foi cravado quando Bong Joon saudou a categoria rebatizada de melhor filme internacional (antigo melhor filme estrangeiro). “Aplaudo e apoio a mudança sinalizada pela Academia”, ressaltou o cineasta sul-coreano, em relação ao termo inclusivo. Pela terceira vez, em uma década, houve desacordo entre vencedores do Oscar e o prêmio da Associação dos Produtores (PGA), entidade que laureou A grande aposta (2016), La la land (2017) e 1917 (2020) no pódio. Favorito, este último levou três estatuetas entre as 10 indicações.

A mais recente chance de o Brasil ganhar o Oscar foi frustrada pela vitória de Indústria americana. O documentário retrata, com precisão, uma revolução econômica em Ohio. Petra Costa esteve na festa, com o indicado Democracia em vertigem. Ainda antes da entrada no Dolby Theatre, em Los Angeles, a diretora enfatizou que o filme, com visão pessoal e inspirada na análise do impeachment de Dilma Rousseff, era “uma carta de amor ao Brasil”. Ainda que sem o prêmio, Petra aproveitou as redes sociais para alfinetar o presidente Jair Bolsonaro. Com visão desenvolvimentista, o ex-presidente Barack Obama (ao lado da mulher, Michelle), que criou a produtora responsável por Indústria americana, celebrou via Twitter a vitória do filme detido nas “consequências muito humanas de uma mudança econômica devastadora”.


Figura de expressão em Hollywood, Martin Scorsese, com O irlandês, ficou sem nenhum prêmio, entre 10 categorias. Vencedor do Festival de Cannes, o sul-coreano Bong Joon Ho reparou a exclusão, puxando aplausos, de pé, para aquele que considerou “professor”. “Se pudesse, serraria o troféu, para que fosse dividido entre todos vocês”, declarou, deixando clara a enorme admiração pelo concorrente Quentin Tarantino.

Redenção, generosidade, compaixão e inclusão foram os lemas nos discursos de melhor ator (Joaquin Phoenix) e a melhor atriz (Renée Zellweger). A exemplo do personagem Don Vito Corleone (do clássico O poderoso chefão), um mesmo personagem (no caso, o protagonista de Coringa) trouxe Oscar para intérpretes de diferentes filmes: depois de Heath Ledger (Batman: o cavaleiro das trevas), Phoenix venceu, no retrato do desesperado palhaço dos quadrinhos. Num discurso emocionante, Phoenix ressaltou a vontade crescente de “utilizar a voz (dele) para aqueles que não têm voz”. Já Bob Dylan, Scorsese e, claro, Judy Garland (papel de Zellweger, em Judy) figuraram no discurso da melhor atriz: “Heróis nos unem e recuperaram o melhor de nós”, destacou.


Ainda que o rapper Eminem tenha roubado a cena, ao entoar, no palco, a canção vencedora Lose yourself (de 8 Mile: Rua das ilusões), detentora de Oscar, há 17 anos, Janelle Monáe (Estrelas além do tempo) também se destacou, ao abrir o Oscar 2020 com um número musical que compactou ambientação e temas dos indicados. Foi a brecha para que os apresentadores Steve Martin e Chris Rock, além de elogiarem Monáe, enfatizassem o esnobar de talentos negros (pouco indicados) e ainda puxassem a orelha da Academia pelo fato de a diretora Greta Gerwig (de Adoráveis mulheres) não ter sido sequer indicada. Para além do fato da vitória do curta de animação Hair love, que ressaltou o orgulho negro, no palco, a diretora Karen Rupert Toliver enfatizou que “representatividade importa, profundamente”. O filme trata de um pai que se dedica, pela primeira vez, a realizar um penteado na filha negra.

As críticas pela ausência das mulheres foi amenizada com coroação na categoria trilha sonora, com a vitória de Hildur Guonadóttir (Coringa). Vinte e cinco anos depois de vencer pela canção de O rei leão, Elton John ganhou pela canção original (I´m gonna) love me again, criada para Rocketman.


Ao receber o primeiro Oscar de atuação, Brad Pitt — melhor ator coadjuvante por Era uma vez em... Hollywood — valorizou aqueles que se dedicam “às acrobacias e cenas de ação nas telas”. O filme ainda ganhou desenho de produção. Numa categoria muito apertada, a de melhor roteiro adaptado, venceu o neozelandês Taika Waititi (Jojo Rabbit), que adaptou um livro dado de presente pela mãe dele: no longa, polêmico, um garoto tem Adolf Hitler como amigo imaginário. Na cerimônia, ele estimulou indígenas a se dedicarem às artes. Na sexta indicação, por Adoráveis mulheres, a figurinista Jacqueline Durran (vencedora, no passado, por Anna Karenina) levou o segundo Oscar, e citou a diretora Greta Gerwig como “uma inspiração”. Ela agradeceu o fato de, sendo mãe, ter contado com apoio para trabalhar fora de casa. Com a vitória de Toy Story 4 como melhor longa de animação, o “amor à família” foi salientado pela comitiva vencedora.

O clima família ainda esteve presente no discurso da vencedora na categoria melhor atriz coadjuvante: Laura Dern (História de um casamento). Ela dedicou a estatueta aos “heróis” de sua vida, os pais (ambos atores), Bruce Dern e Diane Ladd. Nos quesitos técnicos, a edição de som e o prêmio de montagem couberam a Ford vs. Ferrari, enquanto o filme de guerra 1917 venceu Oscar de mixagem de som. Também pontos altos de 1917 computaram prêmios: tanto os efeitos visuais quanto a direção de fotografia do inglês Roger Deakins (na 15ª indicação) e que venceu o segundo Oscar, depois de Blade Runner 2049.




Brasileiros batem na trave
Com amplo histórico de brasileiros indicados ao Oscar, Petra Costa (foto) — diretora de Democracia em vertigem — somou mais experiência a uma lista que incluiu longas como O pagador de promessas; O que é isso, companheiro?, O quatrilho e Central do Brasil, e personalidades do porte de Fernanda Montenegro, Fernando Meirelles, Juliano Salgado, Hector Babenco, Ary Barroso, Paulo Machline, Carlinhos Brown e Sergio Mendes. Nenhum levou, entretanto. Durante a cerimônia, Petra tuitou um recado ao presidente Jair Bolsonaro. “Em 2016, Bolsonaro disse que cortaria fundos para as artes, já que os filmes brasileiros nunca chegam aos Oscars. Aqui está o meu presente para o presidente do Brasil”, escreveu.



Premiados

Melhor filme
• Parasita

Melhor diretor
• Bong Joon Ho (Parasita)

Melhor ator
• Joaquin Phoenix (Coringa)

Melhor atriz
• Renée Zellweger (Judy: Muito além do arco-íris)

Melhor ator coadjuvante
• Brad Pitt (Era uma vez um... Hollywood)

Melhor atriz coadjuvante
• Laura Dern (História de um casamento)

Melhor animação
• Toy story 4

Melhor curta de animação
• Hair love

Melhor roteiro original
• Bong Joon Ho e Han Jin Won (Parasita)

Melhor roteiro adaptado
• Taika Waititi (Jojo Rabbit)

Melhor curta
• The neighbors’ window

Melhor direção de arte
• Era uma vez em... Hollywood

Melhor figurino
• Adoráveis mulheres

Melhor documentário
• Indústria americana

Melhor documentário em curta-metragem
• Learning to skateboard in a warzone (if you’re a girl)

Melhor edição de som
• Ford vs Ferrari

Melhor mixagem de som
• 1917

Melhor fotografia
• 1917

Melhor edição
• Ford vs Ferrari

Melhores efeitos visuais
• 1917

Melhor maquiagem e cabelo
• O escândalo

Melhor filme internacional
• Parasita

Melhor trilha sonora
• Coringa

Melhor canção original
• Rocketman - (I’m gonna) love me again

Melhor design de produção
• Era uma vez em... Hollywood
 
 
 

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