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Voto pela abertura do país

Mais de 5,3 milhões de eleitores foram ontem às urnas para escolher o próximo Parlamento e avançar nas reformas do presidente Ilham Aliyev. A ex-república soviética pretende atrair investimentos. Eleição contou com dois observadores brasileiros

Correio Braziliense
postado em 10/02/2020 04:05
Moradora de Baku, capital do Azerbaijão, deposita cédula em urna: boca-de-urna aponta que governistas conquistaram a maioria no Parlamento

Baku — Apesar da temperatura de 1 grau abaixo de zero em Baku, capital do Azerbaijão, a população compareceu ontem às urnas para eleger o novo Parlamento da nação. A eleição era considerada crucial para o governo do presidente Ilham Aliyev avançar nas reformas econômicas que permitam ao país atrair investimentos estrangeiros. O Partido Novo Azerbaijão, que apoia Aliyev, pretende aumentar o número de parlamentares para dar aval às transformações. Hoje, apenas 65 dos 125 assentos do Parlamento pertencem à aliança pró-governo. O número representa menos que a maioria de dois terços necessária para mudar a Constituição nacional. As pesquisas de boca-de-urna indicam que o Partido Novo Azerbaijão ganhou a maioria das cadeiras (69); a oposição alega fraude e aguarda o fim da apuração, prevista para hoje, para se pronunciar oficialmente.

Grande produtor de petróleo, o Azerbaijão crescia a uma taxa de 7% ao ano no início da década passada. Nos últimos anos, no entanto, o crescimento caiu para o patamar de 4%, o que obrigou o governo a dissolver o Parlamento e a convocar novas eleições. O objetivo de Aliyev era aprovar medidas de saneamento econômico e captar investimentos.

Preocupado com a desconfiança de organizações internacionais em relação ao processo eleitoral, a qual pode minar a destinação de novos recursos externos, Aliyev — que está no poder desde 2003 — também quis aproveitar o pleito para demonstrar ao mundo que o Azerbaijão obedece às regras democráticas e para provar a transparência do processo eleitoral.

Para isso, ele convocou mais de 883 observadores de todos os continentes para acompanharem de perto as eleições. Desses, 358 são representantes da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), entidade que vigia de perto eleições em todo o mundo. Constituída por 57 países da América do Norte, Europa e Ásia, a OSCE enviou 41 integrantes para observarem o processo eleitoral no Azerbaijão.



“Continuamos nosso monitoramento”, afirmou Arthur Gerasimov, parlamentar ucraniano, que integra a OSCE. “Chegamos a convite do Azerbaijão, e isso mais uma vez confirma seu compromisso com os princípios democráticos da OSCE. Anteriormente, conduzíamos o monitoramento nos países ocidentais e orientais, em particular, na Bielorrússia e no Usbequistão.”

Brasil

O Brasil enviou dois observadores para acompanharem as eleições do Azerbaijão: o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) e o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), respectivamente os presidentes do Grupo Parlamentar da Amizade Brasil-Azerbaijão no Senado e na Câmara dos Deputados.

Ambos visitaram duas zonas eleitorais nas imediações de Baku. Os dois parlamentares percorreram os locais de votação, fizeram indagações aos mesários e se reuniram com os coordenadores de juntas eleitorais.

Nas eleições de ontem, o Azerbaijão registrou 246 candidaturas indicadas por 19 partidos políticos; outros 1.057 se apresentaram por iniciativa própria e 11, por iniciativa de grupos da sociedade. Vinte e um por cento de todos os candidatos eram mulheres. Ao todo, 5.329.460 eleitores estavam registrados para votar — mais da metade da população de 10 milhões de habitantes.
Cerca de 883 observadores internacionais de 58 países e 58 organizações monitoraram o processo de votação. Entre os observadores locais, 35.152 eram representantes de partidos políticos. As pesquisas de saída são conduzidas pela AJF & Associates Inc. (EUA) em conjunto com a Liga dos Cidadãos de Proteção aos Direitos do Trabalho, o Rey Monitoring Center e o French OpinionWay Research Institute, juntamente com a Fundação Direitos Humanos no Século XXI — Azerbaijão.



Importância geográfica, histórica e cultural
O Azerbaijão, um dos berços da civilização humana, fica no cruzamento entre o Ocidente e o Oriente, no coração da Eurásia. O primeiro poço de petróleo perfurado no mundo foi no Azerbaijão. Em 1901, foi inaugurada em Baku (capital do Azerbaijão) a primeira escola secular para meninas do mundo muçulmano. O país abriga uma região chamada Gobustan, considerada um museu a céu aberto por causa da riqueza de sua arte rupestre. O Azerbaijão também é uma nação com ricas tradições esportivas. A capoeira, uma das maiores expressões culturais brasileiras, tem muitos admiradores e praticantes no país. Ele também possui uma das  maiores comunidades judaicas em um país islâmico — 35 mil judeus vivem em Baku e em Krasnaia Sloboda (nordeste). A independência do Azerbaijão foi conquistada em agosto de 1991, após a fragmentação da antiga União Soviética. A vizinha Armênia entrou em conflito com o país no mesmo ano pela posse do território Nagorno-Garabagh. 



TRÊS PERGUNTAS PARA
Manuel Montenegro, embaixador do Brasil no Azerbaijão

O que falta para que Brasil e Azerbaijão sejam grandes parceiros comerciais?
O que está faltando é que nos conheçamos melhor. Até no comércio. O Azerbaijão sabe que importa do Brasil uma boa quantidade de alimentos. Mas nossas estatísticas não registram corretamente nossas exportações para o Azerbaijão, porque são feitas por terceiras partes, por intermediários. Por exemplo, exportamos, somente de açúcar, US$ 62 milhões para o Azerbaijão no ano passado. Mas, nossos empresários brasileiros, quando olham nossas estatísticas, veem zero. Elas não registram nossas exportações para o Azerbaijão. Mas eu sei que há muitas empresas desse país interessadas em importar do Brasil.

E quanto aos produtos industrializados?
O Azerbaijão tem uma linha aérea que voa apenas com aviões da Embraer. Eles estão querendo comprar mais aviões da companhia. Então, a Embraer precisa vir para o Azerbaijão fazer o dever de casa. Eles disseram que este ano pretendem vir. Mas é urgente. Como se sabe, temos concorrentes. E o Azerbaijão tem dinheiro e indicativo político de que prefere o Brasil.

Como o senhor situa o Azerbaijão no comércio mundial?
Eu chamo essa parte do mundo de novíssimo mundo, um espaço do mundo que está se articulando muito rapidamente. O Azerbaijão é o país que melhor representa esse dinamismo mundial. O Brasil tem de estar aqui. Mas tem de chegar a tempo. E aproveitar esse ciclo de bonança. A energia, o grande ativo da região, traz uma oportunidade de aproveitar a exploração de gás natural. Essa perspectiva autoriza o otimismo e a agressividade comercial. Nossos empresários precisam ser mais arrojados. O México é responsável por 13% dos dutos exportados dos oleodutos e dos gasodutos para o Azerbaijão. Exporta carros. E vende 8% das perfuratrizes das brocas. Então, não é possível que o Brasil não tenha capacidade técnica de entrar nesse mercado. (JROL)
 
 
 

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